A ideologia de nossa política.
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de maio de 1978
Uma equipe de alunos do setor de Ciências Humanas da Universidade Federal do Paraná está estudando a possibilidade de desenvolver um projeto que poderá ser uma significativa contribuição à nossa carente bibliografia de historia política regional: o levantamento da ideologia dos partidos e homens que, desde a proclamação da República, tem atuado no Paraná - tanto na área legislativa, como nos principais cargos executivos.
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De principio, apenas uma idéia, sujeita ainda à aprovação de escalões superiores dentro da Universidade, a pesquisa deverá ser desenvolvida em várias etapas, dentro de uma indispensável independência, capaz de valorizar as informações, sem posições ou preconceitos pré definidos. Ao contrário, o estudo deverá possibilitar a que se entenda certas posições tomadas no passado, pelos (então) donos do poder - e cujos reflexos vêm até nossos dias.
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Entre os professores do respeitado Departamento de História da Universidade Federal do Paraná, já houve algumas iniciativas para entender a formação política do Paraná, com dados preciosos mas que, infelizmente, continuam restritos às cópias datilografadas das teses elaboradas. O professor Brasil Pinheiro Machado, 70 anos, e que será homenageado pelo Conselho Universitário na próxima sexta-feira, é, aliás, um exemplo de historiador-sociólogo, que, como poucos entende a política do Paraná. Isto porque ao lado do conhecimento teórico, dos livros com os quais convive há mais de 60 anos, teve também sua atuação no Executivo, inclusive exercendo o governo do Estado, num curto período, após 1945. Humilde e discreto, como os homens que realmente sabem das coisas, o professor Brasil Pinheiro Machado, apesar de ter atingido a idade da compulsória aposentadoria acadêmica, não vai deixar de contribuir com a UFP. Numa lúcida atitude, seus colegas de Departamento o convocaram para continuar como professor do curso de pós-graduação em história, o qual, é, aliás, um dos centros de ensino de excelência do País - e hoje com um prestigio internacional.
Não seria admissível que um homem da cultura e gabarito do professor Brasil Pinheiro Machado, em pleno vigor, deixasse a Universidade apenas porque, cronologicamente, chegou aos 70 anos. Em espirito e entusiasmo, o professor Brasil continua a ser o mesmo mestre que o era em 1930, quando começou a lecionar na UFP.
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Do entusiasmo de jovens alunos somado à experiência de mestres como o professor Brasil poderá surgir trabalho sério e profundo, capaz de tornar mais compreensível os nem sempre lógicos caminhos de nossa política. E principalmente, as posições dos homens que, há quase 80 anos, vêm se sucedendo no delicado equilíbrio da corda do poder tão tensa e frágil, como é a própria vida. Só que disto, os que, momentaneamente, ocupam o poder, esquecem-se com extrema facilidade.
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Felizmente, existe a História. E os historiadores para, com imparcialidade, julgarem os fatos.
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