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Aramis

Imagens de Esperança

Com uma estória artificial e medíocre, obra de Erich Segall, "Love Story" foi, há 4 anos, o maior fenômeno de marketing editorial e cinematográfico: o livro foi o suficiente para enriquecer o seu autor e o filme recuperou as finanças do Paramount e consolidou Robert Evans como um "big-boss" da indústria cinematográfica. O filme, como o livro, não eram nada em termos artísticos - um dramalhão indigno da pior fase de Felix Canhet (1907 - 1976). A lembrança de "Love Story" vem a memória ao se assistir "Muito Tarde Para O Amanhã" (cine Bristol, até terça-feira, sessões somente às 20 e 22 horas). Pois, se "Love Story" foi um lacrimogêneo dramalhão que faturou milhões de dólares graças a uma campanha publicitária bem feita, este "The Raging Moon" poderia alcançar idêntico sucesso. Com uma diferença: trata-se um filme honesto, inteligente e de boa qualidade. É natural também a comparação deste "Muito Tarde Para O Amanhã" com outro filme, recentemente exibido na cidade (e com relativo sucesso de público): "Uma Janela Para O Céu" (A Window To The Sky, 1975, de Larry Peerce). Ambos tem o mesmo tema - jovens paralíticos em busca de uma reintegração e que encontram no amor um estímulo para continuar a viver. E o amor é ceifado com a morte. Em "A Window To The Sky", baseado na história verdadeira de Jill Kinmont, ex-campeã de esqui, paralítica devido a um acidente, e hoje professora numa escola em Los Angeles, o amor lhe havia surgido com o encontro de outro campeão de esqui, David Buck - que morre num acidente de aviação. Em "Muito Tarde Para O Amanhã", Bruce Pritchard (Malcom McDowell), um jovem atleta, vítima de uma doença inesperada, torna-se paralítico e, marginalizado pela família vai vier num lar mantido por ordem religiosa. Hostil e revoltado, Bruce reintegra-se ao se apaixonar por uma jovem, Jill (Nanette Newman), 31 anos, igualmente condenada a vida sobre cadeira de rodas. A esperança de uma nova vida é cortada com a morte abrupta de Jill e a última imagem - como em "Uma Janela Para O Céu" - é otimista: Bruce aceita o jogo de ping-pong proposto por outro colega de infortúnio, Clarence Marlow (Michael Flanders). Dois filmes ligados pela seriedade com que foram realizados, pelo otimismo e esperança que transmitem. O dramalhão que poderia marcar estas estórias cede lugar a visão lúcida de um problema trágico e real, mas que tem que ser encarado com honestidade, justificando que filmes como este sejam exibidos a platéias paraplégicas. Quando "Uma Janela Para O Céu" foi lançado no cine Condor, há alguns meses, a empresa ofereceu uma sessão gratuita a entidades assistencial de pessoas paralíticas. O mesmo poderia ser feito agora, com este "Muito Tarde Para O Amanhã" - um filme comprobatório do talento de Bryan Forbes, cineasta que aprendemos a admirar desde o seu primeiro filme, "Fargo", há uma década. "The Raging Moon" tem o clima intimista, sociológico e documental de certo tipo do cinema inglês: a família, os amigos, o comportamento britânico. Forbes soube utilizar as imagens precisas na adaptação do romance de Peter Marshall, aproveitando ainda de uma excelente trilha sonora de Stabley Myers, com duas belas canções ("A Time for Winning", com o Blue Ming, e "Man Loving Things", com Roger Cook) e ótimos solos de guitarra de John William. Apesar do frio e da distância do cine Ribalta, vale a pena assistir "Muito Tarde Para O Amanhã".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
10/07/1976

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