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Aramis

A importância dos contos de fada

Hoje vamos aqui registrar um livro que não se destina especificamente às crianças - mas cujo conhecimento pelos pais, mães e, principalmente, professores e educadores, terá muito significado para melhor orientação da leitura dos pequenos: "A Psicanálise dos Contos de Fadas". Nas 363 páginas deste livro (Editora Paz e Terra, Cr$ 160,00), o autor, Bruno Bettlheim faz uma radiografia das mais famosas histórias para crianças, arrancando-lhes o seu verdadeiro significado. Os contos de fadas, considerados por pais e educadores até pouco tempo como "irreais", "falsos" e cheios de crueldade são, para as crianças, o que há de mais real, algo que lhe fala, em linguagem acessível, do que é real dentro delas. Os pais temem que os contos de fadas afastem as crianças da realidade, através de mágicas e de fantasias. Porém, o real, a que os adultos comumente se referem, é o externo, é o mundo circundante, enquanto que contos de fadas fala de um mundo bem mais real para as crianças. E deixa isso bem claro quando situa as histórias na "Terra do Nunca", ou no "Era uma vez um país muito longe ...", ou "Numa época em que os bichos falavam", evidenciando, assim, que não se trata do aqui, nem do agora da realidade adulta, mas de um território fora do tempo e do espaço. Durante muito tempo, os contos de fadas jazeram esquecidos desprezados e banidos sob a alegação de irreais e selvagens, em vista de suas tramas sempre altamente dramáticas. Depois que a "psicanálise [desmistificou] s "inocência e simplicidade" do mundo da criança, os contos de fadas voltaram a ser lidos (e discutidos), justamente por descreverem um mundo pleno de experiências, de amor, mas também de destruição, de selvageria e de ambivalência. A psicanálise provou que, na verdade, os pais temem que os filhos os identifiquem com bruxas e monstros, ogres e madrastas e, em [conseqüência], deixem de amá-los. Porém, ao contrário, podendo vivenciar tudo, identificando-se e aos pais com os personagens dos contos, os filhos têm sua agressividade diminuída, podendo amar os pais de maneira mais sadia. O conto, contribuiu para melhor relacionamento familiar, desmanchando as fontes de pressão agressiva que, caso contrário, seriam dirigidas aos pais. Entretanto, a maior contribuição dos contos de fadas é em termos emocionais, propondo-se - e realizando concretamente - quatro tarefas: fantasia, escape, recuperação e consolo. Desenvolvem a capacidade de fantasia infantil; fornecem escapes necessários falando aos medos internos da criança, às suas ansiedades e ódios, seja com vencer a rejeição (como em "João e Maria"), ou os conflitos edipicos com a mãe (como em "Branca de Neve"), ou a rivalidade com irmãos (como em "Cinderela"), ou sentimentos de inferioridade (como em "As Três Plumas"). Os contos aliviam as pressões exercidas por esses problemas; favorecem a recuperação, incutindo coragem na criança, mostrando-lhe que é sempre possível encontrar saídas; finalmente, os contos consolam e muito: o "final feliz", que tantos adultos consideram "irreal" e "falso" é a [grande] contribuição que os contos fornecem à criança, encorajando-a à luta por valores amadurecidos e a uma crença positiva na vida.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
No Mundo do Cazuza
10/09/1978

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