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Aramis

A ingênua comédia

Assim como existe uma simpática arte plástica classificada pelos críticos de ingênua, também pode se rotular de ingênuo um espontâneo teatro que ainda se faz em muitos lugares. Sem pretensões cerebrais, procurando simplesmente contar uma estória divertida, dentro de uma tradição quase mambembe do teatro popular. "A Guerra Mais ou Menos Santa" (auditório Salvador de Ferrante, até domingo, 21 horas) pode ser vista desta forma. Ator e diretor esforçado, já com mais de uma dezena de peças encenadas, Fernando Zeni, 32 anos, buscou no texto de Mario Brasini apenas o seu sentido humorístico, não tendo pretensões de formular uma crítica social - embora pela própria temática, tal enfoque também fosse possível. Numa época em que os autores de telenovelas incluem nas tramas o relacionamento igreja - política, com quiproquós entre vigários e prefeitos de pequenas cidades. "A Guerra Mais ou Menos Santa", escrita há quase 10 anos, não deixa de ter um certo pioneirismo. A intolerância do padre Neto (Hermes de Oliveira) em relação a "casa de pecado" de Filó (Ires D'Aguia), que deseja ver fechada nem que seja necessário mover uma guerra "mais ou menos santa", não é um fato novo, nem apenas de ficção : já chegou a ocorrer, na década de 40, na cidade de Patos, Minas Gerais. O envolvimento dos personagens - o prefeito pusilânime (Joel de Oliveira, veterano e segundo o ator, a melhor figura do elenco), o coronel Matoso ( Roaldo dos Anjos), a esposa puritana (Suzana Motta, veterana atriz, também com muita espontaneidade no palco) e o candidato a Prefeitura, o Leão (José Trauer, que sem maior experiência, compõe um excelente tipo humorístico) - se não chega ter um timing, uma força dramática, faz com que a peça escoe tranquilamente. Sua produção foi feita, prioritariamente, cisando o público de pequenas cidades, platéias humildes e sem maior rigor crítico. A estas, sem dúvida, o texto de Brasini, como uma bem humorada peça de Cavalcante Borges ("Tempestade em Água Benta", encenada pelo TCP em 1969), cumpre a finalidade. Para o ensaista J. Guinsburg, "A Guerra Mais ou Menos Santa" faz com que Brasini inscreva-se numa tradição "das mais autênticas do teatro nacional" (Martins Pena, França Junior e Arthur Azevedo) : o teatro de costumes. Voltada, em primeiro lugar, para situações em que se tramam tipos expressivos da paisagem social e humana do país, consegue nas suas melhores criações, produzir um retrato bastante sugestivo da vida e da mentalidade brasileira em cada período envolvido. Assim, o tom farsesco, onde a anedota prevalece sobre a pura sátira, vai criticando a sua galeria rural ou urbana e rindo-se também de sua própria risada. Evidentemente, nem todas estas intenções foram alcançadas por Zeni em seu trabalho - que teve a dificuldade de substituir duas experientes atrizes (Marly Terezinha / Regina Ortiz) por duas jovens semi amadoras ( Ires e Rosana Cordeiro), mas, mesmo assim, acabou realizando um espetáculo que cumpre sua principal finalidade: divertir ingenuamente o público.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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11/09/1976

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