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Aramis

Itaipu 2.000 (I) - um turismo que seja mais do que olhar as cataratas

O Plano Diretrizes de Desenvolvimento Regional que a diretoria de coordenação da Binacional Itaipu desenvolveu para estudar as perspectivas abertas ao futuro dos 8 municípios limeiros do lago - no lado brasileiro - será, como já registramos no domingo, objeto para muitas discussões. Seu interesse prioritário, evidentemente, é para as comunidades diretamente envolvidas mas, pela seriedade com que a equipe de consultores arregimentada pelo Instituto Iguaçu de Preservação Ambienal trabalhou por 18 meses, o documento - em 3 volumes - que resultou deste investimento interessa a inúmeros outros setores do Estado e da União. Afinal, se trata das transformações estruturais que a mudança ambiental de toda uma região - com um lago de 1350 quilômetros quadrados - trouxe para uma das mais ricas regiões do planeta, atingindo um universo indireto de quase 3 milhões de pessoas. O arquiteto Rafael Dely, 50 anos, um dos principais responsáveis pelo trabalho - no qual somou sua experiência de mais de 20 anos de planejamento urbano, ex-presidente do Ippuc e da Cohab, hoje assessorando o prefeito Jaime Lerner em delicadas questões urbanísticas (como a polêmica proposta do solo-criado), faz uma observação muito importante: - "Uma primeira diretriz geral, que dá o tom de todo o nosso trabalho, é a mudança de orientação física da área de influência, a partir do fato novo que é o Lago de Itaipu. É preciso ter em mente que a região deve ser repensada não mais como "fundo" do Paraná, mas como a sua outra e nova "frente", voltando-se o Estado também para o lago e para o Paraguai e o Cone Sul". Assim, uma vez assumida essa reorientação física, "trata-se de estudar e usufruir do lago como elemento de integração regional e não de separação internacional". xxx Há colocações sempre necessárias de serem lembradas: Foz do Iguaçu é o maior ponto de afluência de turistas do Paraná e da região Sul do Brasil, e um dos mais importantes em todo o país. Como parque hoteleiro a cidade tem uma capacidade instalada de 25 mil leitos, sendo o segundo maior centro hoteleiro do país - ainda em expansão. A atividade turística, hoje, prende-se basicamente ao comércio e cassino de Ciudad del Este (ex-Puerto Stroessner) e à visita das Cataratas do Iguaçu e da Usina de Itaipu. Convenhamos: um uso ainda incipiente dos atrativos potenciais. Uma vez implantada uma estruturação de uso mais eficiente do lago - que apesar de sua grandiosidade (e potencialidades) ainda não foi aquilatado pela maioria da população - poderá ser deslanchado um processo cujo alcance pode se estender mais longe, como incluí-lo nas rotas de acesso ao Pantanal por parte de quem chega a Foz do Iguaçu, ou ainda utilizá-lo nas características de "praia" e lazer náutico para atrair toda uma clientela mediterrânea do cone Sul. Uma necessidade: a iniciativa privada de Foz precisa ser mais dinâmica e criativa no sentido de propiciar uma ampla oferta de alternativas para manter mais tempo na região aquele turista que, em princípio, só pretendia ver as Cataratas. Os grandes "resorts" de turismo começaram como uma boa idéia e muito marketing. Por exemplo, que fatores poderiam levar grupos de europeus a ficar uma semana encerrados em um "village" no Club Mediterranée na ilha de Itaparica, no litoral baiano? Nessa mesma linha de raciocínio, por que não oferecer roteiros e atividades alternativas ao turista que chega a Foz do Iguaçu? Um programa de pescaria no lago, onde os turistas poderiam depois preparar e comer o que pescaram é uma das centenas de idéias que podem ser operacionalizadas à curto prazo. As empresas de turimo receptivo da região precisam fazer propaganda mais dirigida, ampliando os leques de informações - inclusive a nível internacional. Não se trata apenas de alinhavar lamúrias, a começar por acusações de imcompetência à Paranatur, que ao longo dos anos, ainda pouco tem feito pelo turismo paranaense. A própria iniciativa privada, acomodando-se em lucros fáceis - já que mesmo sem maiores investimentos, Foz do Iguaçu é um dos pontos mais procurados pelos turistas vindos de todas as partes (e especialmente doExterior) pouco - ou às vezes nada - tem feito para melhorar seus serviços. xxx Embora as diretrizes de desenvolvimento regional tenham sido desenvolvidas do ponto de vista da área brasileira, um estudo semelhante deve abranger a margem paraguaia, dentro do rígido esquema de reciprocidade que regula toda a estrutra da Binacional. Na página 68 do primeiro volume das diretrizes, é lembrada a importância da margem paraguaia. Essa preocupação fica ainda mais aguda ao se lembrar que o Paraguai está implementando uma política de abertura comercial, o que certamente acarretará impacto na relação comercial com o Brasil, e necessariamente provocar um potencial de crescimento nos núcleos urbanos lindeiros à margem paraguaia. Como o próprio nome indica a Itaipu Binacional tem uma abrangência territorial nos dois países sócios, "já que o seu patrimônio específico - o lago - pode ser prejudicado pelo que pode ocorrer em qualquer das margens, como pode induzir uma melhor ocupação em qualquer delas". xxx Neste momento em que se especula muito sobre as mudanças na direção da empresa, ao menos da parte brasileira - com vários candidatos ao cargo que o ministro Ney Braga ocupa desde 1985, é interessante observar que o desenvolvimento regional deve se caracterizar pela união de esforços em busca da melhoria de toda a região. O plano de desenvolvimento elaborado salienta que "não cabe a postura tradicionalmente individualista de municípios e empresários, que pedem para si o mesmo tipo de equipamento ou investimento que algum vizinho tenha eventualmente recebido". Com um certo humor, o texto do documento dá até um exemplo: "Conhecem-se casos de cidades que brigam para ter uma Faculdade de Letras, por exemplo, só porque alguma cidade, próxima ou de porte semelhante recebeu este equipamento, o qual pode inclusive ter uma capacidade de atendimento muito superior à demanda local e até regional. Com essa disputa geral ou incrementada, na rivalidade intermunicipal, o assunto passa a ser discutido num âmbito meramente político, com soluções nem sempre razoáveis. É mais lógico que se busque a implantação de equipamentos complementares, definidos conforme as condições potenciais de cada cidade, após discussão em conjunto dentro de um fôro regional adequado". Assim, um dos méritos da proposta desenvolvida nos documentos que nas próximas semanas estarão sendo objetos de amplas discussões é a do princípio de que se busca uma racionalização dentro da idéia de que a região deve verticalizar e articular seus equipamentos, instalações e aparelhamento produtivo, sem perder tempo e esforços em competições mesquinhas. Cada cidade precisa aprender a aproveitar a inovação da outra e respaldar-se nela para contribuir ainda mais para o desenvolvimento regional. LEGENDA FOTO - Nem só das Cataratas deve viver o turismo: o projeto de desenvolvimento proposto por Itaipu indica muitas outras opções turísticas para Foz do Iguaçu e os outros 7 municípios limeiros do lago de 1.350 quilômetros quadrados (foto: Orlando Azevedo).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
30/01/1990

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