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Jacob do Bandolim, 20 anos depois, o grande esquecido

Os vinte anos da morte de Jacob do Bandolim acabaram passando (quase) totalmente esquecidos em Curitiba - e, reconheça-se, também no resto do Brasil. Afinal, Hermínio Bello de Carvalho deixou a direção da divisão de música popular da Funarte e uma efeméride como esta, não deixaria de merecer múltiplas comemorações - como aconteceu há dez anos passados. Felizmente, o pesquisador e produtor fonográfico Leon Barg, de Curitiba, fez, ao menos a sua maneira, a melhor homenagem ao grande Jacob Pick Bittencourt (Rio de Janeiro, 14/02/1918-13/08/1969): na semana passada colocou nas vitrines de sua loja, a sua mais recente reedição - justamente o que reúne a antológica gravação de "Retrato" que Radamés Gnatalli (1906-1988) compôs especialmente em homenagem a Jacob - lançada originalmente em histórico elepê pela CBS há 25 anos (gravações feitas em 21 e 25 de fevereiro de 1964) acopladas a sete choros que Jacob imortalizou: "Murmurando" (Fon-Fon), "Chorando" (Ary Barroso), "Verinha" (Demerval Neto), "Juriti" (Raul Silva), "Saudades de Guará" (Bonfiglio de Oliveira), "Simplicidade" e "Doce de Côco" (os dois de Jacob). Autor da sugestão para a reedição de "Retrato", Alceu Schwaab, professor e pesquisador, fez também o didático texto de contracapa desta belíssima reedição - que nesta semana vai ganhar divulgação nacional, a exemplo dos lançamentos da série "Revivendo", que tem merecido cobertura nacional da grande imprensa - auxiliando, assim, o excelente esforço que Barg faz para que preciosidades de nossa MPB cheguem a um público que não tinha as gravações originais. xxx Há dez anos passados, graças ao entusiasmo de Hermínio Bello de Carvalho, uma idéia que lhe levamos acabou se concretizando num evento histórico: o concerto "Tributo a Jacob", apresentado por Radamés e a excelente Camerata Carioca (infelizmente desfeita há 4 anos), que fez uma única apresentação no Auditório Salvador de Ferrante, na noite de 11 de agosto - três dias antes do aniversário da morte de Jacob. Apresentado posteriormente no Rio, São Paulo e Brasília, o recital se transformou num esplêndido elepê, produzido por Sérgio Cabral e editado pela WEA - infelizmente há 8 anos fora de catálogo. Concretizado graças especialmente a colaboração de Cleto de Assis, na época secretario de Comunicação do governo Ney Braga - homem sensível a boa música e a quem se devem tantas realizações naquele período, o sucesso do "Tributo a Jacob" estimularia que, um ano depois, novamente com Radamés e a Camerata Carioca, sob direção de Hermínio, se realizasse então no Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, outro recital histórico - "De Vivaldi a Pixinguinha", em 10 de junho de 1980. A Camerata e Radamés gravaram na ocasião, o recital nos estúdios do Sir, mas a fita só se transformou num notável elepê dois anos depois. Hoje é uma collector's item, disputado por estudiosos de nossa MPB. xxx Na época em sua segunda administração como prefeito de Curitiba, Jaime Lerner animou-se com a presença de Hermínio em Curitiba e chegou a se pensar em fazer no Solar do Barão um "Espaço Pixinguinha", que teve inclusive um projeto desenvolvido. Infelizmente, como tantas boas idéias, ficou também apenas no papel. Felizmente, uma outra sugestão ganhou forma: em 12 de setembro de 1979, era publicado no Diário Oficial do Município, a Lei nº 6.042, de 27 de agosto de 1979, "denominando de Jacob do Bandolim (Jacob Pick Bittencourt), um logradouro público de Curitiba. Quase sete meses depois, Hermínio e a Camerata Carioca - da qual faziam parte Joel do Nascimento (bandolim), Rafael Rebello (violão de 7 cordas, que recentemente sofreu um acidente que lhe obriga a um afastamento do meio musical), sua irmã, Luciana (cavaquinho), João Pedro Borges (violão), Maurício Carrilho (violão de 6 cordas) e Celso José da Silva (ritmo), retornavam a Curitiba. Em 12 de abril de 1980, um sábado de muito calor, com a presença de músicos da terra - especialmente de Janguito do Rosário e os integrantes de seu regional - houve a inauguração da pequena Praça Jacob do Bandolim, no Jardim Schaffer. Poucos discursos e muita música, numa homenagem bonita e que teria uma extensão etílica no restaurante que Guilhobel Camargo possuía na época, no Alto da Rua XV de Novembro, e no qual servia o melhor barreado que Curitiba já conheceu. Ali, por mais de quatro horas, numa integração dos músicos visitantes e os da terra, se teve uma "choro-session" inesquecível - e na qual Tina Camargo, filha de Guilhobel, mostrou suas virtudes canoras. À noite, num jantar no apartamento de Cleto de Assis, um segundo tempo daquele momento musical especial, sofreu um corte com a notícia que a televisão trouxe: morria no Rio de Janeiro, o grande Abel Ferreira, 65 anos, clarinetista, compositor e também um grande chorão. Hermínio e outros choraram lágrimas sentidas pela ida do grande mestre, autor de "Chorando Baixinho". Mas como a melhor maneira de homenagear um músico - e os negros de New Orleans já nos ensinaram isto há muito tempo! - é justamente fazendo música - aconteceu um mini-recital com temas de Abel entremeados aos de Jacob. Nenhum vizinho reclamou! xxx Dez anos depois, a Praça Jacob do Bandolim é apenas um referencial na geografia do Jardim Schaffer. Nenhum evento artístico ali foi realizado nesta década. E, na manhã de domingo último, não custaria muito ter levado o grupo Choro & Seresta - que há 16 anos se apresenta na Praça Garibaldi - para ali ser feito um "happening" bem brasileiro e que, de sua forma, lembraria a Jacob. É verdade que isto talvez não se traduzisse em marketing nacional - e por isto mesmo não houve tal lembrança por parte das pessoas que assessoram (?) Jaime Lerner nesta sua terceira administração. Tempos bem mais tristes e melancólicos culturalmente falando do que acontecia há uma década.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
17/08/1989

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