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Jair, um pugilista das cores do mundo

Dos tempos juvenis em que subia a improvisados ringues para trocar socos com adversários só ficaram tênues lembranças. Poderia, é verdade, até fazer carreira como pugilista, mas apesar do esporte (?) ter alguma atração em sua juventude, a sensibilidade para a pintura o fez procurar espaços mais tranqüilos. E assim, ainda adolescente, vindo de São José do Rio Pardo aos 13 anos, Jair começou a se interessar pelas artes plásticas. No antigo casarão de Alfredo Andersen - hoje museu - teve com Thorstein, as primeiras aulas. Com ele aprendeu a segurar o pincel, a misturar as tintas - noções de estética e cronometria. Depois, na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, receberia preciosos ensinamentos de uma geração brilhante de mestres como Guido Viaro, Traple, Erbo Stenzel, Freysleben e Leonor Boteri. Na Faculdade Católica, anos depois, freqüentaria aulas de didática - o que lhe seria de muita utilidade para seu trabalho como professor. Há 7 anos, numa viagem à Europa, arrumou tempo para estagiar alguns dias no Centro George Pompidou, em Paris e na Academia de Belas Artes de Brera, em Milão. Agora, neste final de 1986, Vicente Jair Mendes, 48 anos, está inaugurando duas individuais: uma, em Córdoba, Argentina, paralela a um encontro de cineclubistas Brasil/Argentina, aberta dia 1º último, para a qual levou 30 desenhos. Ontem, na galeria de Poupança Banestado, abriu sua individual, com óleos e desenhos de uma face recente - trabalhos que na definição de Eduardo Nascimento, artista plástico e professor, "Mostram seus resultados pictóricos mais recentes: chegam a clamar por maiores espaços, meios necessários para registrar esta intersemiose de pintura-desenho, visivelmente percebida pelo mais leigo receptor". xxx Jair Mendes é um de nossos artistas plásticos mais conhecidos. Nos últimos anos chegou até a diminuir a sua produção devido ao entusiasmo com que se lançou em projetos desenvolvidos inicialmente no Centro de Criatividade São Lourenço e, posteriormente, no Museu Guido Viaro, onde, como diretor, tem promovido cursos, exposições e eventos que o fazem uma das mais ativas unidades culturais do Paraná. Em seu temperamento inquieto, detestando rótulos e acomodamentos, Jair busca fazer do Museu uma Instituição viva e dinâmica - e o sucesso dos cursos ali realizados, especialmente graças ao talento da coordenadora Suzana Lobo - comprovam o acerto de sua administração. Em 1980 organizou o encontro nacional de críticos de arte em Curitiba e nos últimos dois anos tem sido responsável pela mostra de Gravura Cidade de Curitiba/Pan-americana, cujo conceito cresce cada vez mais. Ao lado de seus óleos e desenhos - incluindo aquelas líricas imagens da Curitiba do passado que faz a pedido de seu amigo Dante Mendonça para ilustrar o nosso Almanaque (como ainda no domingo passado, dando grande visual à crônica de Nireu Teixeira) - Jair Mendes também tem desenvolvido projetos maiores. Por exemplo, há 15 anos executou uma Via Crucis, em madeira, para o Centro de Criatividade que provocou polêmicas nos meios religiosos, simplesmente por mostrar a imagem de Cristo como homem - com seu órgão sexual. Outros painéis de Jair estão no Templo Rosacruz, no Bacacheri e no aeroporto Afonso Pena e atualmente trabalha em dois outros. Amigo de todas as estações, grande boêmio e companheiro daquelas conversas que, infelizmente, se tornam cada vez mais raras, Jair Mendes abre agora sua 13ª exposição - em mais de 30 anos de vivência artística. Seus trabalhos traduzem uma visão do mundo, a sensibilidade de quem vê a arte não apenas como meio de vida, mas como uma razão de existência. Portanto, só posso acrescentar neste breve perfil de Jair Mendes, aquilo que, há 10 anos escrevi para uma de suas individuais (galeria Eucatex, maio/76): - "Se o humorista Millôr Fernandes se confessa um escritor sem estilo, Jair diz que é um pintor sem fases. Detestando rótulos e esquemas, Jair é um homem que transmite nas cores de suas telas a sua visão do mundo. Faz isso conscientemente com sensibilidade e habilidade sem se deixar dominar por modismos que nada levam. E por isso mesmo suas telas traduzem sentimentos, tem gosto de gente, de figura humana, alegria, tristeza e prazer".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
11/12/1986

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