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Aramis

As jam sessions para o búfalo do Passeio

Raulzinho - Raul de Souza - constantemente confundido com o veterano Raul de Barros (Rio de Janeiro, 25/11/1915), carioca de Bangu, é daqueles músicos que comporta um perfil digno de figurar no Down Beat. Em quatro décadas de atividades artísticas reuniu um folclore em torno de sua pessoa que o faz personagem de estórias deliciosas - desde os tempos em que, sargento-músico da (excelente, na época) Banda de Música da Escola de Oficiais Especialistas e Guardas, onde entrou em 1958, passava semanas no xadrez por seus constantes atrasos. Mas é que Raulzinho, jazzista até a medula, preferia muito mais fazer improvisações para amigos e jazzófilos como José Octávio Guizzo - o bom "Mato Grosso" (falecido há 2 anos), Roberto Mugiatti (hoje editor chefe da "Manchete") e Eduardo Virmond, que o aplaudiam nas boates da cidade - ele que passou por todas as casas dos anos 50. No "Tropical", uma animada casa de Paulo Wendt no Passeio Público (onde hoje está o "Pasquale") quando sentia que os "barões do café" que ali gastavam milhares de cruzeiros em noitadas alegres preferiam ouvir tangos e boleros, ele, para consolar, pegava um pedalim e ia fazer "serenatas" ao solitário búfalo numa das ilhas do Passeio. O que o inspiraria, em 1973, ao chegar aos Estados Unidos, na composição de "White Buffalo", uma das faixas de "Colours" (Fantasy Records, produção de Airto e Flora), um dos quatro elepês que gravou nos 16 anos que viveu no Exterior. Voltando ao Brasil, há cinco anos, fez apenas um elepê ("Viva a Volta", produção de Romualdo Zanoni, pelo selo do restaurante Inverno & Verão), embora já merecesse ter muitos outros discos. Com 5 filhos - de dois casamentos, 4 netos e um herdeiro musical, o compositor Rogério, 36 anos, Raulzinho está na terra, com seu som redondo, limpo e jazzístico no trombone de vara (há alguns anos chegou a inventar o "Souzobone", que acabou não dando certo). Um talento maior, "quase" um Bicho do Paraná, que está à procura de apartamento para por aqui ficar. Por quanto tempo? Difícil responder. Músico do mundo, tendo viajado a Europa, EUA e Japão nos últimos anos. Raul é tão imprevisível quanto o belo jazz que sabe, como poucos, fazer. E como sabe!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
20/01/1991

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