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Aramis

Jazz na fria noite

Daquela Curitiba, quando o então jovem Luis Elogio Zilli e seus amigos saíam pelas pacatas ruas, com um caminhão transportando até um piano de cauda par animar o chamado "jazz" que era apresentado em românticas serenatas, não restam sequer fotos. E o jazz que se apresentava ficava apenas no nome, pois a música que no início do século havia subido pelo Mississipi, de Nova Orleans par o mundo, ainda não tinha também chegado, sonoramente ao Brasil. Entretanto, a palavra jazz já se fazia ouvir - forte e carismática, como hoje é explorada até no marketing dos cursos de dança. Uma breve história do jazz passaria em Curitiba por alguns nomes marcantes que, a partir da década de 50, inundaram nossas madrugadas em nem sempre compreendidas improvisações. O grande Raulzinho, hoje nome firmado nos EUA, sargento da EOEG onde fazia parte da banda de música, curtiu muita cadeia devido seus atrasos na caserna enquanto esticava madrugadas ao lado de amigos como Roberto Muggiatti (hoje editor da "Manchete", em Curitiba um dos primeiros jornalistas a falar em jazz moderno), e José Otávio Guizzo, Adherbal Fortes, Ney Macedo (que morreu há 5 anos, deixando a maior coleção de discos de jazz), entre outros. Airto Moreira, passou tão rapidamente pela cidade nos anos 60 - a caminho de São Paulo - que nem pode fazer muito jazz por aqui, o que irá desenvolver, de forma moderna nos EUA. Em compensação, mesmo dividindo-se entre outras funções (técnico de som, assessor da Prefeitura etc.) Gebran Sabbag, 54 anos, foi sempre um tacladista de incríveis acordes jazzísticos - e desenvolveu uma experiência notável em trios ao estilo West Coast - no saudoso Zum-Aum, com Marinho (baixo) e Frank Roeder (bateria, hoje residindo no Canadá) e, mais tarde, com o Ludus Tercius, com o inesquecível baterista Guarany (já falecido) e o então adolescente Norton Morozowicz, que, mais tarde, no baixo e flauta, ao lado de Hilton Alice (teclados) e João Chiminazzo (bateria, hoje publicitário), faria do Sam Jazz Trio, a grande revelação na primeira (e única) Jam Session do Paraná, que promovemos na primavera de 1966, no Santa Mônica, graças ao apoio do grande Joffre Cabral e Silva. Depois houve tímida - mas marcante - proposta do Clube do Jazz & Bossa, no antigo 1810, e dezenas de outras noitadas jazzísticas, quase sempre improvisadas e sem continuidade. Mas o próprio jazz, por suas próprias características, tem no improviso e na ausência de normas rígidas a sua grande motivação. Basta haver talentos. E talentos existem, inesperados e surpresas que desfilam, desde que haja espaço e ambiente (ah! a falta que faz um bar tipo Chico's, em Curitiba) - e que na ausência de local mais sofisticado e confortável, aproveitam até o desconfortável, poluído, mas boêmio Trumpet's, onde o dono, o bom pistonista Saul, amparado por um ótimo baixista (Henrique) e o veterano baterista Negretti, recebem as mais diferentes canjas - que vão desde amadores bem intencionados, até profissionais do calibre de Yana Purim, que, na semana passada, ali fez questão de dar um longo set de seu vocal. Só faltou, mesmo, o americano Phil Young, para a noite ficar antológica.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
17/08/1986

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