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Joffily, tributo à coerência política

Mais do que uma homenagem oficial, semelhante a tantas outras que a Assembléia tem prestado ao longo de sua história, a sessão solene de outorga do título de Cidadão Honorário do Paraná ao sr. José Joffily (amanhã, 15 horas), adquire significado muito especial. Reconhecendo-se não só a integração deste paraibano ao nosso Estado - que se fixou há quase 20 anos em Londrina - está também se fazendo justiça a um dos homens mais dignos da política brasileira e, principalmente, ao valor de um intelectual que tem resgatado a História do Brasil em muitos aspectos até hoje obscurecidos. O deputado Rubens Bueno, autor da proposição, não teve dificuldades em justificá-la. Afinal, o currículo de José Joffily Bezerra de Mello, paraibano de Campo Grande, 72 anos completados no último dia 25 de março, marca as várias facetas deste homem de extraordinária comunicabilidade, sólidos princípios e uma inquietação política, social e intelectual que o fez sempre desenvolver intensas atividades. Assim, a preocupação pelos problemas sociais, a necessidade de dar sua contribuição a movimentos capazes de melhorar a situação das camadas mais humildes, o faria, ainda em seus tempos de estudante a se integrar a vários movimentos políticos. Chegou mesmo a ser acusado, e preso por sua participação no levante deflagrado pelos comunistas em nome da Aliança Nacional Libertadora no mês de novembro de 1935. Seria apenas uma das inúmeras vezes em que, no calor de suas idéias, Joffily não temeria o poder, a violência e enfrentaria, de peito aberto as mais diversas situações. Seu curso de Direito (turma de 1938) foi dividido entre Recife e Rio de Janeiro e, ainda jovem - mas já suficientemente experiente - ocupou sucessivas funções, desde a promotoria pública de Pernambuco e a direção da Penitenciária agrícola de Itamaracá, na Paraíba até a Secretaria da Agricultura, Viação e Obras Públicas, durante a interventoria de Rui Carneiro, de 1942 a 1945, na Paraíba. Se como advogado e administrador público, Joffily se credenciou em várias funções durante o Estado Novo, isto nunca lhe retirou sua formação democrática, favorável às eleições. Tanto é que com a redemocratização do Brasil em 1945 foi um dos candidatos mais votados pela Paraíba à Assembléia Nacional Constituinte - integrando então a legenda do PSD, pelo qual voltaria a ser reeleito em outubro de 1950 e 1954 e de cujo partido seria líder e vice-líder por quase três anos na Câmara dos Deputados. Logo também se tornaria um dos fundadores da Frente Parlamentar Nacionalista, constituída por deputados do PSB, PTB, UDN e PSB, preocupados em defenderem uma plataforma nacionalista, a favor da regulamentação da remessa de lucros para o Exterior e controle estatal sobre a exploração dos recursos naturais básicos. As posições nacionalistas de Joffily o aproximaram cada vez mais das forças populares e trocando uma eleição tranqüila ao Senado, em 1962, pelo PSD, preferiu disputar a candidatura pelo Partido Socialista - já que, naquela ocasião, seu nome era o que melhor costurava as diversas tendências políticas do inflamado Nordeste. Derrotado, em janeiro de 1963 deixou a Câmara dos Deputados e dois meses depois era designado membro do Conselho Nacional de Economia. Com o golpe de 1º de abril, seu nome estava entre os cassados do Ato Institucional nº 1, o que o levou a modificar sua vida profissional. Primeiramente trabalhou na área de seguros e, em 1977, com alguns amigos, fundou a Herbitec, em Londrina - hoje uma das maiores empresas do País na área de defensivos agrícolas. De seu passado político, ficou um exemplo de coerência. Poderia ter chegado ao governo da Paraíba se não tivesse se afastado do PSD, quando sentiu que aquela legenda já não mais se identificava com seus princípios de democracia e coerência de seus ideais. O poder nunca o fascinou como realização pessoal - mas sim apenas como instrumento de transformação da sociedade e valorização do homem. Assim, deixando a política e dedicando-se à iniciativa privada e ao trabalho de pesquisa histórica, continuou fiel ao seu pensamento - num exemplo de retidão pessoal e intelectual. Ao homenageá-lo, com o título de cidadania Honorária, o Paraná está fazendo justiça a um dos grandes homens de sua geração. LEGENDA FOTO - Joffily: coerência política e garimpador da história. Recebe amanhã o título de Cidadão Honorário do Paraná.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
22/04/1986

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