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Aramis

John explica a nova orquestra

Numa de suas últimas entrevistas, a Jim Schaffer, John McLaughlin procura explicar as razões da dissolução da Mahavishnu Orchestra, ao mesmo tempo em que procura bastante despreocupado em relação a ela, considerando-as (dissolução e a orquestra) "uma coisa do passado". Seu novo grupo - com o mesmo nome - ficou conhecido oficialmente no Brasil com o lançamento do disco APOCALYPSE, enquanto os antigos parceiros seguem caminhos diferentes. Os substitutos dos antigos músicos são dez (onze com McLaughlin) e a idade média da orquestra baixou para vinte anos, o que dá a sensação ao líder de estar penetrando numa "experiência" nova e altamente gratificante". O jornal americano "Rolling Stone" procurou traçar um perfil desta segunda Mahavishnu Orchestra. Ambas dão uma idéia muito precisa daquilo que pretende um dos maiores músicos do atual e conflitante cenário internacional. Por tabela, o que Laughlin e o Rolling Stone dizem pode ser estendido e generalizado, de certa forma. Principalmente no que tange aos possíveis destinos guardados para este hoje enorme tentáculo d cultura de massa que é a indústria fonográfica de música pop. MAHAVISHNU John McLaughlin é personalidade singular como homem ou músico. Há críticos que consideram sua maneira de tocar a guitarra convencional. Outros discordam. Seu som exerce influência marcante no cenário musical de hoje, tendo-se ampliado devido sua associação com Miles Davis, Herbie Hancoock e outros. Sua maneira de tocar foi reconhecida pelos críticos, que o escolheram "O Guitarrista do Ano", nos últimos dois anos. Nestes últimos três anos, ele foi líder espiritual e musical dos 5 elementos que compunham a Orchestra Mahavishnu (dissolvida em fins de 1973). Criou a nova Orchestra Mahavishnu com 11 elementos, entre os quais destaca-se o violinista que desde 1969 tem recebido louvores dos críticos do "Readers Poll" Jean-Luc Ponty. Citam-se, também, os violinistas Carol Shive e Stephen Kindler que trabalharam com as Sinfônicas do Havaí e New Jersey. Nas cordas, encontram-se Marshal Westbrook na viola e Phill Hinschi no violoncelo. A nova banda também inclui 2 pistonistas e uma flauta. Por estarem sendo lançados uma nova banda e um novo disco, pareceu-me mais apropriado iniciar a entrevista neste ponto. Perguntei a John se os que participam do disco são os mesmos da nova Orchestra Mahavishnu. ML : Uma parte, sim. Há 8 pessoas participando do disco, outras 3 chegaram após o mesmo já estar gravado, porém, temos ensaiado juntos desde então. Espero que as pessoas gostem tanto quanto eu. Acho que gostarão. Acredito, realmente, ser o início de uma nova era. Alguns de nós cantam no novo disco. Gosto da voz. Gostaria de tê-la utilizado na antiga Orchestra. E há um equilíbrio no uso de tendências clássicas. S : Você se refere à utilização da voz ? ML : Me refiro ao intervalo que há entre a composição e a improvisação. Por exemplo, no disco você encontrará a Orchestra Sinfônica de Londres e Michael Tilson Thomas, como regente, juntos. Sinto-me profundamente feliz em trabalhar com ele, porque além de possuir um profundo conhecimento do clássico gosta de Martha Vandelias, tanto quanto aprecia os principais compositores ocidentais. Em resumo, ele não vê barreiras na música; basicamente, eu também não. Quando existem barreiras na música, é porque os músicos possuem barreiras dentro de si mesmo e que os levam a se perder no jogo das definições. Na antiga Orchestra, ele se limitavam. Só se podia ir até ali. Eu gostaria de ter tentado algumas sinfonias no ano passado. Venho pensando nisto há alguns anos. Sinto-me bastante satisfeito que agora possa fazê-lo. Como já disse, é como se fosse o nascimento de uma nova era. Para que uma nova era possa nascer, a antiga deve ser posta de lado. Acredito sinceramente que esta forma dará lugar a uma melhor, mais perfeita e mais universal também. S : Então, é como se fosse um prolongamento ... ML : Todos nós somos prolongamentos de outras bandas. A flor tem que crescer; o universo tem que se expandir. Todos nós obedecemos a esta mesma e infalível lei - evoluir ou morrer. Você não é estático. Nada é estático. Há uma evolução constante e todos deveriam harmonizar-se com este processo, com esta lei. Gosto muito que assim o seja, pois, continuamente, há novas possibilidades. S : Foi você quem trouxe Tilson Thomas para reger a Sinfônica de Londres ? ML : A idéia me ocorreu alguns meses atrás e foi ótimo. Conversamos e chegamos a um acordo. O que aconteceu, foi que alguns meses mais tarde ele devia apresentar-se em um concerto beneficiente, já programado, com a Orquestra Sinfônica de Búfalo. O artista convidado era o violinista Isaac Stern. Por uma razão ou outra, Isaac não pode comparecer ao compromisso. Em vista disso, Michael propôs: "Por que não escolhemos uma seleção de músicas e, com os 5 elementos do grupo, não tocamos com a Sinfônica de Búfalo?". Claro que isto me interessou profundamente. É impressionante como conseguimos tocar esta obra bastante longa, juntos. Encontra-se no disco e chama-se Hymn to Hymn. Fomos a Londres na primeira semana de março e fiz com que George Malin produzisse o disco. Conseguimos o mesmo arranjador dos Beatles, Sergeant Pepper e o mesmo material. Com esses elementos, realizamos um belo som. Finalmente tivemos com a Sinfônica de Londres uma experiência extraordinária, muito instrutiva e incomparável em diversos aspectos. Michael e eu planejamos fazer, juntos mais alguns trabalhos com orquestras de todas as partes do mundo. Agora sabemos a marcação exata para o grupo e as sinfonias. Desejo apresentar um concerto ao vivo no fim deste ano com ele e afortunadamente com a Filarmônica de New York. São enormes as possibilidades que se abrem. ML : Acho inevitável que a platéia participe mais. Eu nunca subestimo o público. Na verdade, acho que o público é capaz de apreciar qualquer coisa boa sem se importar com a propaganda. Estou convencido de que a platéia é totalmente desprezada e padronizada pelos homens de negócios, que apenas projetam suas próprias limitações. Digamos, o mundo dos negócios musicais poderia ser mais vantajoso se contasse com os músicos jovens. Acredito que esteja havendo uma mudança: ultimamente, o talento está vencendo. Se você tem alguma coisa para dizer, mais cedo ou mais tarde, você dirá. Só que é muito difícil. Na antiga banda todos diziam: "você nunca o conseguirá". Nada de vocais e outras tolices. As pessoas estão preparadas para aceitar tudo aquilo que for bom. Se o músico sente e acredita realmente naquilo que faz, a platéia corresponderá. Esta é uma fé inquebrantável que tenho. Sinto ser meu dever aperfeiçoar-me, expandir-me e evoluir ao máximo de tal forma que tenham uma melhor vivência ao ouvir-me. Na minha opinião, não há outra saída. Ou se retrocede ou se desenvolve. Você não pode ficar no meio termo. O som, é muito diferente, da antiga banda mesmo que tenhamos tido o mesmo comportamento com outras pessoas. Nos sentimos compelidos a buscar agora novos sons e novos conceitos. Isto, realmente, parte das pessoas. Nós tínhamos um conceito e este se desenvolveu ao ponto máximo. Além disso, usamos novos instrumentos. É diferente. Por ser muito pessoal, torna-se difícil, para mim, fazer uma comparação. Seria mais indicado que uma comparação mais objetiva fosse feita por outra pessoa. ML : Todas as musicas do primeiro disco, fui eu que fiz. Espero receber contribuições de Michael Waldon, que é um compositor muito talentoso para não ficar absoluto, além de Jean-Luc, que atualmente está muito envolvido em seus próprios interesses e também em minha banda. Foi por respeitá-lo, o convidei a apresentar qualquer composição que deseje. Ele está fazendo seu próprio disco, portanto, é provável que ele mesmo utilize a matéria que tenha escrito para mim. Como você pode observar, a nova banda é, de fato, mais flexível. A antiga era rígida. Por exemplo, analisemos os Beatles. Eles formavam um grupo, porém, gravavam com outros músicos (88toda espécie de músicos). Bem, no ano passado eu queria gravar um disco de sinfonias, mas foi-me totalmente negado pelo grupo. Agora a situação é bem outra. Eu necessito ser livre para permitir novas influencias. É exatamente isto que está acontecendo agora. Estou realmente contente com este progresso. S : Alguns guitarristas amigos meus, que viram você viver e ouviram seu disco, se perguntam como você pode ser tão destro. ML : Se você ouvir com bastante concentração, na certa tudo se revelará. Na verdade, é o que o músico deve fazer. A música nasce nos sons mais recônditos da alma. Toda música que existe partiu do silencio interior de cada músico. O músico tem que primeiro ouvir. Cultivar a arte de ouvir, e, mais cedo ou mais tarde, se sentirá compelido a executar. Quanto a destreza, é muito relativo. Há sensações que tenho que articular muito acuradamente. Há várias técnicas. Mas a técnica serve somente para expressar os sentimentos. S : Que técnicas você já praticou ? ML : Seja qual for o instrumento, as escalas são a chave para o domínio dos instrumentos independente do conhecimento e capacidade de execução. Daí para frente, fica por conta da imaginação, sentimento, conceitos, gosto. Nós somos os pintores dos sons na 4ª dimensão (que não deixa de ser um tempo também). Na música você tem todas essas cores. Tem dissonância, consonância. Tem tempos diferentes. Tem a tensão intercalada. [4ª COLUNA DO JORNAL ILEGÍVEL (BORRADA)
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
26
16/02/1975

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