Jornal, segundo Dines
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de julho de 1977
Hoje possivelmente o jornalista mais polêmico do Brasil, Alberto Dines, ex-editor do "Jornal do Brasil", atual diretor da sucursal da "Folha de S. Paulo" no Rio de Janeiro, analista da imprensa em seu "Jornal dos Jornais", nas edições dominicais da FSP, em entrevista de 6 páginas ao semanário "Pasquim", faz uma visceral análise do jornalismo brasileiro, com afirmações das mais corajosas. Ao analisar, por exemplo, a linha de atuação da "Folha de S. Paulo", hoje o jornal com maior circulação no País, Dines afirma: "A "Folha" tá provando que a grande imprensa pode ser renovadora, que pode se permitir certas coisas porque é essa a sua função. O "New York Times" não é um jornal revolucionário mas se permite indagar permanentemente. O leitor não quer uma linha constante, ele se chateia se ficar monótono, quer um jornal que na semana seguinte questione aquilo que opinou antes. A função da imprensa é questionar e criticar (no sentido filosófico da palavra). A "Folha" compreendeu os pedidos de postura crítica".
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Filho de israelitas, tendo estudado violino em sua infância, Alberto Dines encerrou sua longa entrevista com a seguinte afirmação em relação aos planos para o futuro: "Só escrever. Minha profissão é essa. Aquela liderança da qual vocês reclamam foi um desvirtuamento da minha capacidade de mandar nas pessoas. O que queriam de mim no "Jornal do Brasil" era minha capacidade física, meu drive intelectual, mas não minha produção intelectual. O Frias (n.c.: proprietário da "Folha de São Paulo") que minha [capacidade] de escrever e de pensar, as duas coisas que mais me agradam. Aí volto a ser um violinista. Comecei tocando violino e agora voltei a tocá-lo, não no telhado, mas no papel".
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Tanto Dines como seus entrevistadores, ao referirem-se à experiência de colonização anarquista ocorrida no Paraná, no século passado, cometem um engano ao afirmarem que a mesma (Colônia Santa Cecília) teria ocorrido em Curitiba. Na verdade foi em Palmeiras, tema do livro do professor e ex-jornalista Newton Stadler dfe Souza, um dos trabalhos que serviu de base ao roteiro do filme francês, realizado há três anos, lançado em Paris em 1975 e que apesar de todo interesse que poderia ter para o público brasileiro, parece que não chegará às telas de nossos cinemas.
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