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A justa homenagem ao constituinte Joffily

Apesar de uma agenda ocupadíssima, que o havia levado, horas antes à Paraíba, Estado pelo qual é Senador, o presidente do Senado, Humberto Lucena fez questão de presidir uma solenidade muito especial, no entardecer da última quarta-feira, 27, em Brasília: a entrega da medalha de "Constituinte de 1946" ao seu amigo José Joffily, conterrâneo e de quem, de viva voz, se confessou como inspirador de sua carreira política. Como Lucena, outros políticos do Nordeste, em discursos inflamados, enalteceram os diferentes aspectos que fazem do rijo Joffily uma personalidade admirável: o defensor das Liberdades Democráticas, revolucionário de primeira Hora, em João Pessoa, em 1930, preso político em 1936, deputado Constituinte dez anos depois, reeleito várias vezes e que, em 1962, por idealismo, trocou uma segura eleição no Senado pelo PSD paraibano para concorrer pelo Partido Socialista Brasileiro, dentro de suas convicções. Às virtudes pessoais e políticas de José Joffily, foi acrescentado outro aspecto fundamental: a sua vocação de historiador, remexendo sempre em temas incômodos da "história oficial", redescobrindo personagens fascinantes que povoam seus onze livros, o último dos quais autografou na mesma ocasião, "Harry Berger" (Paz & Terra/ Universidade Federal do Paraná, 185 páginas, Cz$ 200,00). xxx "Foi uma festa PP - Paraíba e Paraná", comentava feliz, o sociólogo César Benevides, 33 anos, primo e colaborador de Joffily, um dos presentes na solenidade no salão nobre do Senado. Explica-se: embora nordestino da Paraíba, saudado principalmente pelos políticos de seu estado, Joffily é hoje um homem de ligações paranaenses: em 1964, ao ter seus direitos políticos cassados pelo Ato Institucional-1, reiniciou sua vida em Londrina. Ali, fundou a Herbitécnica, hoje uma poderosa empresa e, mesmo convidado, mais tarde, para voltar a política (em 1982, foi lembrado, com insistência para disputar uma das cadeiras do Senado, pela Paraíba), preferiu continuar em Londrina, dali saindo apenas para suas pesquisas em arquivos, bibliotecas e outras fontes nas quais tem buscado matéria-prima para seus livros. Esta vocação de Joffily pela história, trazendo fatos novos sobre o Plano SALTE, analisando a Revolução que, em 1930, levou Getúlio Vargas ao Palácio do Catete, contando a história de amor de Anayde Beiriz (que foi filmada por Tizuki Yamazaki em "Parahyba Mulher Macho", 1982), foram salientadas na entusiástica saudação que o senador Francisco Leite Chaves, como Joffily um paraibano que trocou o seu estado por Londrina, o segundo orador da tarde de quarta-feira. Os deputados Cid Carvalho e Aluísio Campos também falaram sobre a importância de Joffily, em seu resgate de fatos da história contemporânea, esquecidos - intencionalmente ou não - pelos profissionais da matéria, mas que ele tem sabido levantar, seja em seu estado natal, no Maranhão ou em Londrina ("Londres Londrina", Paz & Terra, 1983, no qual provou os interesses multinacionais que levaram os ingleses a colonizarem o Norte do Paraná). Outro senador da Paraíba, Marcondes Gadelha, no discurso mais longo, fez um belo perfil de Joffily, salientando especialmente o político coerente, que, desde 1946, sempre foi um defensor do petróleo, combatendo as multinacionais, formando ao lado de homens da dimensão de Seixas Doria e Aliomar Baleeiro, a Frente Parlamentar Nacionalista, um dos primeiros, inclusive, a discutir a Reforma Agrária no Congresso Nacional. xxx A homenagem a Joffily - por uma felicidade conjugada ao lançamento deste seu novo livro, no qual resgata a figura de Harry Berger, esquecido mesmo pelos comunistas, em sua participação nos fatos que levaram à Intentona de 1936, foi mais um momento significativo em sua vida, pontilhada de grandes momentos. Homens simples, com um vigor extraordinário para os seus 72 anos, Joffily fez com que amigos de vários estados se encontrassem em Brasília. Do Rio de Janeiro, o jornalista Moacir Werneck de Castro, ex-diretor da "Última Hora" nos tempos de Samuel Wainer, suspendeu outros compromissos para abraçar o seu grande amigo. De Três Lagoas, Mato Grosso, veio a professora Nadir Domingues Mendonça, que - como tantas outras pessoas cativadas por Joffily - muito tem aprendido com suas lições de história. Do Rio de Janeiro foi a advogada Layra Pimentel, que por 13 anos foi secretária pessoal do senador Teotonio Vilela. Dezenas de políticos, jornalistas e autoridades - o embaixador Paulo de Tarso Flexa Ribeiro, representando o presidente José Sarney, o ministro Celso Furtado, da Cultura, deputados, senadores formaram fila para que Joffily colocasse o seu autógrafo neste seu novo livro, como todas suas obras, polêmico, corajoso e revendo a história - e que amanhã, a partir das 18 horas, estará lançando em Curitiba, no hall do auditório da Reitoria da Universidade Federal do Paraná.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
31/05/1987

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