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Aramis

King-Kong: quem está certo, o macaco ou Hollywood?

Consumida uma verba astronômica (U$ 24 milhões p Cr$ 250 milhões), "King-Kong" chega ao Brasil sendo exibido através de uma cadeia de 82 cinemas. Mais um produto do filão "catástrofe", descoberto por Holliwood, este filme foi produzido por Dino Di Laurentiis sobre o mesmo romance de Edgard Wallace que, a partir de 1933, renderia milhares de dólares e, hoje, é um dos clássicos do cinema. Com atraso de seis meses sobre os Estado Unidos e Europa o macaco está chegando. Mas está certo (o atraso, não o macaco); antigamente o atraso era maior. Hoje, na catástrofes marítimas ("Tubarão" "O Destino do Possêidon") terrestre ("Terremoto", "Inferno na Torre", "Pânico na Multidão") a aéreas ("Aeroporto", "Aeroporto-75" e o já prometido "Aeroporto-78) até que temos uma vantagem: aquilo que o americano julga ser bom é visto amanhã (ou depois) por nosotros... Falar em "King Kong" é quase redundância. Como "Tubarão" e tantos outros exemplos é o produto-marketing, embrulhando para consumo. De um tema que há 44 anos motivou um clássico do cinema o astuto Dino De Laurentiis fez uma produção de 22 milhões de dólares - ou seja, mais de Cr$ 250 milhões - para, a curto prazo, não só recuperar esse dinheiro. Curto ter um lucro imenso. Mas o esquema montado tem que funcionar: "King Kong" estreou em fins do ano passado simultaneamente em 2 mil 200 cinema de 17 países, cercado pela campanha publicitária mais espetacular que se possa imaginar. A Paris, por exemplo, a Paramount levou o macaco de 13 metros usados no filme, remontando-o nos Champs Elyséss. No Brasil, os macacos são menores: de 8 a 3 metros (como os que está na frente dos cines Plazas, e Vitória) são simples reproduções. O processo de marketing não deixou escapar nada: a trilha sonora foi editada pela Warner Records (no Brasil, a WEA Discos ainda não se decidiu a lançá-la), venderam-se milhares de chapéus e camisetas King Kong, foi criado um "King Kong cocktail" (receita: uma parte de Jian Bean, grenadinha, suco de laranja, limão e gelo), que é vendida numa garrafinha por coincidência , do formato exato de King Kong. Saíram 3 livros nos EUA - um com a história original de Edgar Wallace, outro contando como foi a produção do filme e um terceiro, "Minha Versão", como tivesse sido escrito pelo próprio gorila. Enfim, dezenas de bugigangas - botões, canetas e cinzeiros com a efígie do macaco. No Brasil, Alexandre Adamiu, presidente da Paris Filmes, que após quase um ano negociações conseguiu os direitos de distribuição da superprodução, está tentando criar o mesmo processo de merchadissing: mandou confeccionar milhares de camisas com a imagem do simpático macaco, foi orimovido o II Concurso de Cartaz para escolha de um belo cartaz feito por artista brasileiro, humanizado a figura do gorila - mas o qual, até há pouco ainda não estava sendo distribuído, obrigando toda a promoção a ser feita em cima do pôster americano - de péssimo nível, aliás. Preocupado em fazer um filme capaz de superar a receita do "Tubarão", o italiano Dino Di Laurentiis declarou em recente entrevista: - "Não é obrigatório gostar de King Kong". Basta que vocês o vejam. Além disso, nada que se diga contra o filme impedirá que as pessoas morram de curiosidade por vê-lo". Dos US$ 24 milhões que "King Kong" custou, mais de 50% foram investidos em sua promoção. Assim é um produto puramente comercial, onde consta o condicionamento que impõe ao público, atraído aos cinemas. No Brasil, são 82 cinemas em todo o país que, desde ontem estão exibindo simultaneamente, por várias semanas. Em Curitiba, - os cines Vitória, São João e Plaza. Quando David. O Selznick (1902-1965) produziu a primeira versão de "King Kong", em 1933, Hollywood vivia a época dos grandes tycoons da indústria cinematográfica - Louis B. Mayer, Darryl Zanuck, Harry Cohn, Adolph Zukor, os irmão Warner, entre outros. Para a época, a realização do filme sobre o macaco gigante que se apaixona pela mocinha e enfrenta os aviões em cima do Empire Buiding já foi uma produção fantástica - tão fascinante quanto Laurentiis agora. Só que os recursos não foram tantos e muitos cenários utilizados eram os mesmos do filme "O Malvado Zaroff" (The Most Dangerous Game), produzido na mesma RKO Rádio, um ano antes. Para dirigir "King Kong", Selznick convidou dois cineastas- Ernest Beaumont Schodsack (Council Buffe; Iowa, 1893) e Merian C. Cooper (Jacksonville, Florida, 1893), que trabalhavam juntos desde 1926, quando fizeram o documentário "Batkiari", rodado na Turquia, seguido de "Chang" (1927), rodado no Sião e, posteriormente, a primeira adaptação do romance colonialista "As 4 Penas Brancas" (The four feathers, de A . E . Mason). Fizeram depois, ainda juntos, "The Most Dangerous Game", cujos cenários utilizaram em parte, em "King Kong". O filme alcançou tanto sucesso que no mesmo ano à equipe providenciou uma seqüência - "O Filho de King" (Son of Kong) e, 16 anos depois, Schoedsack voltaria ao mesmo tema com "O Grande Gorila" ( Mighty Joe Young, 1949). Ambos, em melancólicos fracassos: diretor e macaco. Marian Cooper, ex-jornalista, produtor de John Ford (1893-1973) em alguns de seus melhores filmes (The (") 1947; "Forte Apache", 48; "Depois do Vandaval", 52 e (") outros do Ódio", 56), dividiu com o romancista inglês (") Wallace (Londres, 1875-Hollywood, California-1932) à adaptação da história. Wallace, autor de centenas de romance (") morreria antes de que o filme baseado no seu livro (") estreasse. Uma excelente equipe de técnicos foi convocada para (") época: Willis O`Brien praticamente introduzido a técnica de (") de transparência, Ted Cheeseman chefiou a equipe de efeitos especiais, E . A . Wolcott garantiu um som perfeito em quanto que a trilha sonora foi entregue ao sensível Max (") (Maximilian Raoul Steiner, Viena-1888-Hollywood, (") No elenco, nomes que depois se tornariam famosos: Fay (") Robert Armstrong e Bruce Cabot, em início de carreira. O filme foi um sucesso em todo mundo. E, passados 40 anos continua a ser curtido como um clássico do cinema de ficção merecendo constantes revisões e apreciações críticas. Há 2 anos a revista "Midi-Minuit Fantastique", editada em Paris, dedicou uma edição de 110 páginas, analisando o filme sobre todos os aspectos. Já exibido várias vezes na televisão, o "King Kong" original continua a atrair público - razão pela qual a Fama Filmes pensa em reprisar, dentro de algumas semanas cópia de que dispõe. Oferecendo ao público oportunidade de comparar as duas versões. (aramis milarch) Uma produção como "King Kong, versão 1976, é obra de equipe e, principalmente, de executivos. Assim mesmo, o nome de John Guilhermin, cineasta inglês, merece algum respeito. É, no mínimo, um bom administrador, como mostrou em "Inferno na Torre", cujos bons resultados de bilheteria e devem ter creditado junto do "big boss" Laurentiis para coordenar a refilmagem de "King Kong". Assim como em 1933 Selznick acreditou em novos artistas para lançar em "King Kong", Laurentiis também preferiu nomes novos para esta versão: com exceção de Jeff Bridges - no papel de Jack Prescott - todos os demais interpretes são literalmente desconhecidos do público: Jessica Lange, "Dwan" a mocinha pela qual o gorila se apaixona, está no Brasil para ajudar a badalar o filme. Charles Grodin, John Randolph, Rene Auberjonois, Julius Harris, Jack O`Hollaran, Dennis Fimple, Ed Lauter, Jorge Moreno, Mário Gallo, Keni Long, Sid Conrado são outros interpretes de papéis importante. No finalzinho da lista aparece o nome de John Agar, que mais velhos cinemaníacos, estudiosos de elencos - como o Nilsom Ramon - talvez lembrem-se: apareceu em alguns filmes classe "b" da Universal da década de 50, com relativo destaque. A fotografia de "King Kong" é de (") Grossberg, que teve, evidentemente, (") maciço de uma grande equipe, inclusive uma segunda unidade. A trilha sonora foi criada por John Barry, o maestro-compositor longa-série 007 - e o disco, edição nos EUA Warner Records, até agora não apareceu Brasil. O que é incompreensível em termos marketing. "King Kong" chegou até a conquistar um Oscar em abril último. O único que podem sem dúvida! "King Kong" deve ser visto como um (") industrial, de uma nova fase do cinema (") tenimento. Foi feito para isso e sobretuto para ganhar dinheiro, não é mr. De Laurentiis? FOTO LEGENDA- Jessica Lange, manequim e modelo fotográfico estréia no cinema como "Dawn", a namorada do gorila gigante. FOTO LEGENDA1- Para o filme foi necessária a construção de um gorila-robô, de 13 metros de altura. FOTO LEGENDA2- King-Kong, versão 1933: filmado em plena recessão, aproveitando cenários já usados. FOTO LEGENDA3- King-Kong, versão 1976: uma superprodução... FOTO LEGENDA4-milionário que estréia hoje no Brasil
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
25/06/1977
Em São Paulo, no Playcenter há (1977) um King Kong de 15m.

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