Lambada é marketing mas ainda não chegou ao Sul
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de fevereiro de 1990
Karim Carlsberg, um misto de modelo coreógrafa/bailarina, executiva e sobretudo sensualidade de 1,80 da maior beleza física, tentou trazer a lambada para o clima pré-carnavalesco. Há um mês abriu um curso de lambada em sua academia de danças e tentou, em vão, encontrar patrocínio da iniciativa privada e apoio das autoridades (sic) ligadas ao turismo para promover um concurso de lambada no Litoral. Esforço inútil pois na desinformação que caracteriza aqueles que deveriam procurar modernizar os eventos populares a lambada ainda é um bicho estranho.
Entretanto, em muitos outros estados - do Pará ao Rio de Janeiro - a lambada deve marcar este Carnaval 90, dentro do marketing que fez deste ritmo nascido em Belém, passar pela Colômbia e após ter estourado na França, voltar para o Brasil.
Pouca gente está lembrando de Pinduca e do guitarrista Vieira, de Belém do Pará, primeiros a divulgarem a lambada, com influência dos ritmos do Caribe. Luís Antônio Giron, da "Folha de São Paulo", esteve em Belém do Pará para identificar as origens do ritmo e registrou que há 16 anos o disc-jóquei Haroldo Ceraciolo (1943-1977), num programa matinal que apresentava na rádio "Clube AM" de Belém, divulgava ritmos caribenhos, chamados de "Lambada", palavra que significa "pancada forte" ou "trago de cachaça". O guitarrista Vieira, 54 anos, nos bailes da Ilha de Bacarena (onde vive até hoje com a mulher e 8 filhos) "misturava carimbó elétrico, merengue e salsa" como disse a Giron e, em 1976, gravou um lp ("Lambadas das Quebradas") que só seria editado 2 anos depois. Hoje tem 11 discos e no último, "Melô da Pomba", mostra um ritmo novo, o cambará, "uma mistura de carimbó com lambada".
A discografia de lambada já é grande mas dezenas de gravações produzidas para o público na região Norte raros chegaram ao Sul e só o grupo Kaoma ter vendido milhões de exemplares de seu disco na França - provocando inclusive uma discussão em torno dos direitos autorais - o ritmo passou a ser visto, empresarialmente, pelas gravadoras brasileiras como o grande negócio para o modismo musical-90.
Da edição do próprio Kaoma, feito pela CBS, as montagens providenciadas pela Polygram - aproveitando inclusive os baianos como Luís Caldas (que com o Fricote, foi o modismo há 4 anos passados) até a brasileiríssima Continental, de São Paulo, mas que com muita astúcia vinha sabendo gravar os grupos de samba-reggae e assemelhados surgidos na Bahia nestes últimos anos - que só com o que vendem naquele Estado já garantem um imenso lucro.
A estrela maior da lambada, o paranaense Beto Barbosa, 33 anos, 1,3 milhões de cópias vendidas se seu terceiro lp, antes de viajar a França - em maio - colhe os frutos: de segunda a quinta-feira última no Canecão, apresentou o show "Adocica" - nome de sua música mais famosa - e que foi o mostrada com acompanhamento de banda e quatro casais de bailarinos para demonstrar a sensualidade do novo ritmo.
Entre mais de duas dezenas de discos aproveitando o modismo da lambada (e assemelhados, pois nesta geléia geral os ritmos se confundem), o grupo baiano Cheiro de Amor, veio com o lp "Festa" (Polygram), com composições de baianos já conhecidos - como Carlos Pita ("Pra te Balançar"), Carlinhos Brown ("Tipo Nativo"), Missinho ("Meu Rei"), ao lado de outros autores - Marinho, Carlos Neto, Renan Ribeiro, Djalma Oliveira, Zé Henrique etc. - músicas de muito embalo e letras capazes de serem digeríveis ao menos na Bahia, cujas rádios divulgam as músicas dos autores e grupos locais - ao contrário de nossas colonizadas AMs e, especialmente FMs, que nem mesmo no Carnaval se animam a substituírem o lixo pop ou brega comercial com a música carnavalesca.
Responda rápido! Qual a emissora de Curitiba que se preocupou em fazer algum programa de música carnavalesca este ano? Nem mesmo a "Estadual", que sendo um prefixo oficial, teria a obrigação de dar maior ênfase à música desta festa maior do povo brasileiro.
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