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Aramis

Lapa perdeu o seu museu de costumes

Há uma semana, a Lapa perdeu - temporariamente - uma de suas atrações turísticas-culturais: a "Casa Lacerda", museu de época que retratando usos e costumes de uma família da classe média ocupa um dos mais antigos imóveis daquela cidade, tombado em 15 de fevereiro de 1938 quando Rodrigo Melo Franco de Andrade dirigia o então Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O arquiteto Braulio Carolo, 41 anos, diretor da delegacia regional do Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural, foi obrigado a tomar a medida extrema de fechar o museu "pela simples razão de que não há quem cuide do mesmo". Mantido em convênio com a Prefeitura e o governo do Estado, a "Casa Lacerda" tinha duas funcionárias pagas pelo governo do Estado. Em 2 de abril, pelo decreto 166, as mesmas foram exoneradas e, apesar de todas as solicitações feitas, até agora não houve qualquer providência oficial para que as mesmas - ou suas substitutas - fossem (re)contratadas. A União, através do IBPC, tem a gerência técnica do imóvel mas não dispõe de funcionários - o mesmo ocorrendo com a Prefeitura, apesar de toda boa vontade do prefeito Sérgio Leone. Resultado: mais um museu cerra suas portas por tempo indefinido. Na terça-feira, pessoalmente, o arquiteto Braulio Carolo esteve na Lapa, repassando o patrimônio mais valioso que se encontrava na Casa para a guarda da unidade do Exército, já que sem vigilância, a centenária construção pode ser facilmente arrombada, e roubada em preciosas peças que ali estão depositadas. xxx A "Casa Lacerda" foi construída entre 1842/45, pelo português Manoel José Corrêa de Lacerda e sua mulher, Leocádia Cassiana Rezende Corrêa de Lacerda, descendente dos fundadores da Lapa. O filho mais velho do casal, Joaquim Corrêa de Lacerda, ligado à história pela condição de herói da Resistência em 1893/94, herdou o imóvel, transmitindo-o a seu único descendente, José Lacerda, que se casou com Cecília Brito de Lacerda. Dona Cecília em setembro de 1981, legando a sua metade ideal da propriedade à Fundação Nacional Pró-Memória (extinta em março/90). A ratificação deste legado pelos herdeiros, que também doaram as suas partes, completou a transferência do imóvel. A construção foi restaurada criteriosamente, conservando suas características. Erguida em alvenaria de pedra, de um pavimento, com aproximadamente 500 metros quadrados de área distribuídos por 18 cômodos e 2 corredores, em linha reta, o prédio apresenta portas e telhados emolduradas, cornija e telhados terminando em beiral dourado. A Fundação Nacional Pró-Memória responsabilizou-se pela conservação do conjunto histórico compreendido pela casa, os bens móveis e os demais objetos que constituíam o seu recheio e pela sua destinação cultural. O Estado manteria apenas duas funcionárias para o atendimento ao público - já que a freqüência desde a inauguração sempre foi intensa. Um dos herdeiros, o pesquisador Luciano Lacerda, pouco antes de falecer, enriqueceu o acervo doando sua preciosa coleção de discos 78 rpm e também de publicações, inclusive a série completa (até então) do jornal "Pasquim". Seu irmão, o advogado Francisco Brito de Lacerda, escreveu a obra "Três Mulheres", focalizando a família que ali viveu - por quatro gerações (1843/1981). Outra irmã, Maria Thereza, também escritora, auxiliou nas pesquisas e montagem de nove fitas, com músicas da época, que os visitantes ouviam durante a passagem pelos ambientes. Enfim, um patrimônio histórico, dos mais importantes, que foi entregue sem ônus ao Estado - que deveria, em colaboração com a União e o município, zelar pela sua manutenção. Infelizmente uma das partes - a do governo do Paraná - deixou de ser cumprida e enquanto uma solução não for encontrada a "Casa Lacerda" não poderá mais ser visitada pelos turistas que diariamente procuram a cidade da Lapa.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
01/08/1991

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