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Aramis

Lembranças de Flávio Rangel

Lembranças de Flávio Rangel, mais um talento, amigo, pessoa admirável que desembarca deste nosso amalucado mundo. xxx São Paulo, setembro de 1967. Encontro Flávio na hora de embarcar, no aeroporto de Congonhas. Simpático, entusiasmado como sempre, Flávio interrompe a leitura do "Time" para falar de um novo projeto teatral. Justifica sua vinda, particularmente, a Curitiba: - "Quero expor ao Paulo (Pimentel) este projeto e pedir ajuda do Guaíra para montá-lo. Poderia tentar aqui mesmo, em São Paulo ou Rio de Janeiro, mas acho que em Curitiba há um ar mais democrático". Chegamos e a carona que ofereço a Flávio até o centro transforma-se numa esticada até o apartamento de Cláudio Corrêa e Castro, então casado com a Ileana (Kwasinski). Um papo descontraído, bom scoth de aperitivo e jantar no antigo Matterhorn. Flávio fala com entusiasmo da montagem de uma grande peça, envolvendo artistas de Curitiba - que já admirava pelo trabalho que Cláudio aqui vinha desenvolvendo há quase seis anos. Enquanto Flávio fala, parece que a encenação começa a se visualizar: o entusiasmo, as imagens que transmite com as palavras, a mensagem pretendida - tudo faz com que haja uma iluminação mágica de imaginação. Cláudio faz a colocação precisa: - "Flávio, você já é o teatro falado..." xxx Um ano antes, em agosto de 1966, Flávio passou vários dias em Curitiba. Embora vindo já de montagens de sucesso - a começar por "Gimba - O Presidente dos Valentes", de Gianfrancesco Guarnieri, aconteceria no Auditório Salvador de Ferrante a estréia nacional de uma superprodução: "O Sr. Puntila e o Seu Criado Matti", de Bertold Brecht, coincidindo com os 20 anos da morte do autor. Um elenco de nomes que se tornariam famosos - como Ítala Nandi e Thelma Reston - por exemplo, e já veteranos como Jardel Filho e Rosita Thomaz Lopes. Cenários e figurinos de Napoleão Moniz Freire, também no elenco. Uma temporada tumultuada - não só nos bastidores mas também nas esticadas. Jardel Filho, boêmio e bom de briga, numa madrugada foi até a "Marrocos" - então a grande boite da noite curitibana, e, na hora de pagar a conta, achou que estava errada. Dois leões-de-chácara avançaram sobre ele e a briga foi feia, rolando escadaria abaixo. Manchete na "Tribuna do Paraná" e a ordem, definitiva, do Palácio Iguaçu, para fechar a casa. Nem o delegado Miguel Zacharias, diplomata, espécie de anjo protetor dos donos de boite - conseguiu evitar o fechamento. Era o começo do fim da boite, pois seu dono, Paulo Wendt, havia sido assassinado há algumas semanas - e o irmão, "Amarelinho", que o substituíra, não tinha jogo de cintura... xxx Flávio Rangel voltou várias vezes a Curitiba. Numa delas, enquanto esperava no aeroporto Afonso Pena a chegado do ator Paulo Autran, falou por horas de sua única experiência como diretor de cinema, na adaptação à tela de "Gimba" - que, no palco, havia levado a Paris, com Maria Della Costa em momento de glória maior. Apesar da linguagem cinematográfica o fascinar, preferia o calor do palco: - "É uma questão de pele, de identificação. O teatro pode dar tanto ou mais trabalho que o cinema e ter uma duração efêmera, mas é a forma quente, direta, que eu conheço".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
27/10/1988

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