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Aramis

Livrar-se do patrão, eis o grande sonho do brasileiro

A Melhoramentos é uma editora com um marketing muito especial. Lança poucos títulos mas sempre acerta na mosca. Assim fez com obras de W. C. Ceram ("Deuses, Túmulos e Sábios") nos anos 50, com as especulações de Erik Daniken ("Eram os Deuses Astronautas?") e, mais recentemente, "Complexo de Cinderela" e "A Sindrome de Peter Pan", para só citar os exemplos maiores. Agora, o editor Paulo Condini está deslanchando um organizado trabalho para fazer um novo best-seller: a edição popular da pesquisa "O Sonho Brasileiro", realizada pela Saldiva & Associados Propaganda (noite de autógrafos em 9 de abril próximo). xxx A extinção do BNH pode ser entendida como mais um reflexo da mudança do sonho brasileiro, se examinada à luz dos resultados da pesquisa feita em 1986 pela Saldiva & Associados Propaganda - divulgadas, em parte, pela imprensa nacional no segundo semestre do ano passado -, e que agora adquire formato de livro. Explica o editor Paulo Condini que "o famoso sonho da casa própria deixou de ser prioridade: o sonho se expandiu, adquiriu características mais abrangentes, cresceu. Agora os brasileiros não desejam apenas ter onde morar, desejam ser donos de seus horários e das suas vontades, enfim desejam ser seus próprios patrões". xxx Essa foi a tendência dominante detectada nas duas praças pesquisadas: 77% dos paulistas e 58% dos cariocas desejam administrar negócios próprios, cuidando sozinhos de suas vidas, sem estar imediatamente subordinados a ninguém. A partir desta primeira constatação, fundamental do desejo do negócio próprio, o livro faz o mapeamento e aponta as tendências subordinadas a esse sonho: como conseguir realizar esse objetivo, quando realizá-lo, os que já conseguiram isso (8% em São Paulo; 20 % no Rio), os que estão prontos a dar esse salto e até os que pensam que não conseguirão efetivá-lo. Além disso, estão reunidos os dados que indicam a espécie de negócio que os brasileiros pretendem montar. As tendências indicam, em ordem de preferência, o comércio, a prestação de serviços e a administração de terceiros. As subdivisões dentro dessas categorias mostram que os brasileiros não sonham generalidades, mas sabem exatamente o que desejam, como atingir o que querem e para o qual estão trabalhando. xxx A pesquisa foi realizada pela agência pertencente a Rose Saldiva, 41 anos, jornalista de formação e publicitária há 23 anos, e ao seu irmão, Vanderley, 46 anos, solteiro como ela. Em 1975 eles decidiram abrir a agência que, em 1986 teve um faturamento de Cz$ 180 milhões e foi escolhida a Agência do Ano em São Paulo, ganhando o Prêmio colunistas. O sonho de Rose e Wanderley, pelo visto, deu certo. Eles eram só os dois há 11 anos e hoje têm mais de 50 funcionários. O grande orgulho de Rose Saldiva são as pesquisas institucionais de comportamento, não encomendadas por qualquer cliente, que a agência começou a fazer há cinco anos, revelando um importante e desprezado segmento de marketing: os homens solteiros e descasados. Em 1983, a Saldiva fez "As Abelhas", a primeira (e até hoje única) pesquisa sobre as empregadas domésticas. "Os sete pecados capitais revisitados" contou, em 1984, como estavam reagindo as mulheres "viúvas do milagre econômico" depois da recessão. No ano passado, com "Eu sou normal", descobriu-se que os jovens dos anos 80 são mais conservadores do que a geração de seus pais. xxx Para fazer "O sonho do brasileiro" a Saldiva mobilizou 10 funcionários durante quatro meses, contratou 60 pesquisadores de campo no Rio e em São Paulo e gastou cerca de Cz$ 800 mil. A idéia era testar uma antiga afirmação de que o maior sonho do brasileiro era a casa própria. No fim, descobriu-se que isso não só não é mais verdade como agora o brasileiro está disposto até a vender a casa própria para abrir seu próprio negócio.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
21/03/1987

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