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Londres-Londrina, a verdade de Joffily

Há muito que se reclama a falta de estudos e pesquisas sobre a colonização do Norte e Oeste do Paraná. São raras as observações dignas de crédito e, apesar da contemporaneidade do surgimento de centenas de cidades nesse próspero interior do Estado, a documentação existe é das mais exíguas. Quem confirmou, mais uma vez, a pobreza da nossa memória foi o incansável escritor e historiador José Joffily. Paraibano, há 20 anos radicado em Londrina, onde preside a uma grande empresa de defensivos agrícolas, Joffily, 70 anos, tem uma obra da maior importância. Assim como em seus tempos de corajoso parlamentar (foi deputado federal até 1962) brigava por suas idéias nacionalistas, como pesquisador tem procurado o "outro lado" da História. Foi graças à vontade de saber quem foi, na verdade, o assassino de João Pessoa, que produziu ele dois livros magníficos, que motivaram a cineasta Tizuka Yamasaki para o filme mais badalado do ano passado ("Parahyba Mulher Macho"). Joffily, agora, está concluindo novo livro - "Londres-Londrina", no qual levanta interessantes questões em relação à fundação daquela cidade e, especialmente, às verdadeiras razões que levaram Lord Lowat, a Brazil Plantation, a Companhia de Terras Norte do Paraná e a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná e realizarem o grande projeto de colonização. Demoradas pesquisas, em centenas de livros e periódicos (inclusive nos arquivos do "The Times", em Londres), possibilitaram a Joffily levantar informações até hoje desconhecidas da raquíticas história que se conhece a respeito. xxx A pobreza de documentação a respeito é salientada pelo pesquisador já nas primeiras linhas do primeiro capítulo: "Talvez nenhuma outra cidade brasileira tenha alcançado, em tão pouco tempo, tão elevados índices de progresso, índices que bem refletem a crescente expansão econômica do Norte do Paraná cuja história é, no entanto, adulterada ou quase desconhecida, salvo em seus aspectos ufanistas pitorescos e folclóricos. Ignora-se, até mesmo, o resultado empresarial do lucrativo empreendimento, de vez que a única fonte de informação é tendenciosa - pelo seu próprio caráter promocional - "Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná", editada pela companhia loteadora das terras. Obra de apologia e não de análise. Note-se que até a década de 50 circulavam em Londrina três jornais: "Paraná-Jornal", "O Município" e "Paraná Norte". Todos ostentavam páginas inteiras pagas pela Prefeitura ou por aquela companhia. Em geral, as publicações, os periódicos e páginas avulsas - inclusive compêndios didáticos - limitam-se a transcrever trechos daquele opúsculo comercial". xxx Joffily - que acaba de ser nomeado para intefrar o Conselho Curador da Fundação Rio, entidade criada para dinamizar a programação da Rioarte, no Rio de Janeiro - é um pesquisador e escritor que não aceita a imposição da historiografia "oficial". Por isto, os seus livros são obras polêmica e vigorosas - tônica que deverá marcar também "Londres-Londrina", na qual analisa as relações do endividamento do Brasil com a Inglaterra, há 60 anos passados - e de seus reflexos para que os ingleses (e os banqueiros da família Rothschild) viessem a desenvolver o projeto de colonização no Norte do Estado. A respeito, diz Joffily nas primeiras páginas de seu livro - ainda sem data para lançamento: "É impossível conhecer a colonização do Norte do Paraná sem passar pelo nosso endividamento externo, assim como seria absurdo conhecer a colonização do Brasil sem passar pelas capitanias hereditárias. Pelo muito que fizeram os ingleses são merecedores da nossa gratidão tanto quanto o primeiro donatário Martin Afonso de Souza. Igualmente inaceitável é dissociar Londrina dos banqueiros multinacionais - N.M. Rothschild & Sons - com seus emissários - o título deste trabalho - Londres-Londrina - escrito sem objetivos sectários ou maniqueístas, mas preocupado em questionar um momento do povo brasileiro sob controle de uma classe dirigente inepta e acomodada com a pressão imperialista. Quadro que bem configura uma estrutura política dominada pelas oligarquias agrárias e liderada pelas cafeicultores. As razões devem prevalecer sobre outras razões devem prevalecer sob pena de impostura ou desinformação. Longe, portanto, do meu espírito supor que este livro - sendo o primeiro pela sua temática - esgote os objetos possíveis de investigação e conhecimento. Mas, nem por isso pretendo me poupar de críticas, desprezando evidências e indícios reveladores".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
08/11/1984

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