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Aramis

"Luz", uma iluminada obra-prima africana

Com exceção do curta de 5 minutos "Não Mataram o Sonho de Patrício", no qual Camilo de Sousa e Ismael Vuvo mostram os esforços de uma criança, que tendo perdido os dois braços, vítima de bandidos, continua a estudar, o cinema africano não teve maior participação competitiva do FestRio. O curta de Moçambique ganhou premiação do Centro Internacional do Filme para a Infância e Juventude, mas foi pouco visto, já que teve apenas uma projeção. Entretanto, na mostra paralela "Os Melhores do Mundo", foi apresentado o filme mais interessante - e em nossa opinião, importante - deste festival: "Yeelen" ("Luz"). Premiado pela crítica no último Festival de Cannes, este filme produzido na República de Mali (9 milhões de habitantes, entre a Nigéria e Argélia), é uma obra emocionante e tocante, realizada com intérpretes não profissionais e que narra a travessia entre a infância e a maturidade numa aldeia africana. Que é quase um rito de iniciação. O herói, um jovem, está prestes a receber a missão especial de comandar as forças locais, um privilégio que pertence aos Bambaras há gerações. O pai dele pretende evitar que o jovem torne-se igual aos outros que receberam esta missão e, para isso, planeja matá-lo. A mãe do jovem, no entanto, o protege e o manda embora. Durante a viagem, ele colhe conhecimentos e adquire novos poderes com os quais irá enfrentar o seu pai. Realizado por Souleymane Cissé, 47 anos, que estudou cinema em Moscou e foi fotógrafo e projetista antes de se tornar o primeiro cineasta em seu país, "Yeleen" é um filme puro e espontâneo. Totalmente rodado em cenários naturais (belíssimos), com não atores/atrizes - mais sim, os próprios personagens, tem mais do que a profundidade antropológica uma dimensão mágica. Inclui-se entre aqueles verdadeiros cult-movie, sem nenhuma chance de chegar ao circuito comercial - mas que, por sua beleza, autenticidade e sinceridade reflete com perfeição as lendas, a tradição, o imaginário de um povo negro. Difícil até descrever um filme como "Yeleen", mas a emoção que causou em Cannes - e que repetiu para quem conseguiu vê-lo nas duas únicas projeções que teve durante o FestRio - permanecerá como uma prova de que o cinema pode ser feito sem sofisticação, somente com a emoção e a sinceridade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
04/12/1987

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