Mais um escândalo de Glauber Rocha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de dezembro de 1977
Glauber Rocha, volta e meia, é notícia nos jornais. Se não são muitas as vezes em que aparece apara anunciar seu próximo filme, já que dos três últimos dois não foram liberados para serem exibidos no Brasil, diversas são as situações em que se envolve e que geram manifestações, ultimamente desfavoráveis, por parte de críticos, intelectuais e "admiradores".
Como se não bastasse as declarações feitas recentemente ao presidente Geisel, no que foi contestado pelos cineastas pelo fato dele ter se considerado no direito de representar a classe, quando disse concordar com o modelo político adotado, ou mesmo quando nas filmagens do enterro de Di Cavalcanti, consideradas um desrespeito à família do morto, e, recentemente, o inicio das tomadas de "A Idade da Terra", em que Jece Valadão fará o papel de Cristo, Glauber, não satisfeito, volta a atacar.
O seu último escândalo, ocorrido antes de ontem na Bahia, terminou com a interferência da política, pois ele tentou filmar cenas de "A Idade da Terra" dentro do Museu de Arte Sacra da Bahia, o que não é permitido: A cena, que seria filmada não fosse a interferência do diretor do Museu, era de um bailado de freiras.
Enquanto o funcionário do Museu, depois de ter proibido o cineasta baiano de filmar, foi chamar o diretor, professor Valentin Calderon , espanhol radicado na Bahia há 30 anos, e Glauber já tinha afastado algumas peças para iniciar o bailado. Por ter impedido a tomada de cena, o diretor foi classificado por Glauber como "franquista" e "Fascista", o que considerou um insulto.
Mas Glauber foi ainda mais longe, e declarou: "Estou na Bahia, e quando estou aqui quem manda sou eu". Diante disso, o diretor chamou a polícia e o cineasta só não foi prestar declaração porque Jece Valadão interveio e obrigou Glauber a pedir desculpas. Para a imprensa, o professor Calderon disse que "esse Glauder pode mandar até na cidade, mas quem manda aqui no Museu sou eu".
Glauber Rocha, mais tranqüilo, deu sua versão ao Jornal "A Tarde", versão aliás muito interessante e que certamente causará muitas discussões entre os intelectuais: "como o diretor falava em espanhol, disse-lhe que estávamos no Brasil e que, pelo menos, falasse nossa língua. Depois da troca de palavras rudes, realmente o chamei de fascista e franquista, mostrando a ele que o presidente Geisel e o ministro Ney Braga haviam aprovado naquele mesmo dia uma lei determinando que 75 por cento das rendas dos filmes estrangeiros seriam empregados aqui no nosso País, que o presidente Geisel considerou os filmes nacionais obras culturais e que "A Idade da Terra" está sendo financiada pelo governo federal, portanto pelo País.
Depois desta justificativa para o incidente, o cineasta baiano disse ainda acreditar que "o governador da Bahia é um homem de cultura, e certamente não permitirá o terrorismo cultural em sua terra".
FOTO LEGENDA - Glauber: quem manda sou eu!
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