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Aramis

Manuel constrói sua obra lírica

Poetas, felizmente, não faltam. Dos rebeldes que preferem o Bar do Cardoso - onde o bardo Cardoso não se cansa de declamar, entre pedidos de cerveja e caipirinhas, "Urbe Urge", de seu amigo Reinaldo Atem, às idosas senhoras que, comportadamente, se reúnem em tertúlias literárias em academias e centros literários, também para declamarem eus poemas. A poesia é boa ou ruim, dependendo da cabeça de cada um - e, a rigor, ela é feita mais como uma tentativa de comunicação individual do que uma pretensão literária. Há os poetas de ocasião, de momentos - por que não, um poema apaixonado para fazer a musa amada relaxar sua disposição virginal? - e há, estes sim, talvez, poucos, os Poetas profissionais. Os Poetas com "P" maísculo. De "Eu, Sem Mim" (1964) a esta "Rapsódia Mineira" (Concerto Barroco), recém-lançada, são 18 livros só de poesia. João Manoel Simões é destes. Embora tendo já percorrido os caminhos da ficção, com aplaudidos contos - muitos deles publicados em primeira mão aqui em "O Estado do Paraná", e de ensaios profundos (como a recente análise sobre Honoré de Balzac, também publicado por este jornal), Simões realiza-se, sobretudo, na poesia. Se acrescentar-se ensaios e ficção, sua bibliografia passa dos trinta títulos. Das edições do autor, pequenas e modestas, de anos passados, Simões hoje tem o reconhecimento de editores exigentes, acostumados a textos dos melhores escritores e que, reconhecendo o valor, sabem o que publicar. É o caso de Ênio Silveira, ex-Civilização Brasileira, hoje na Philobilion, do Rio de Janeiro, que já lançou "Túnel Circular" e agora esta "Rapsódia Mineira". Uma segunda edição, revista, da "Ode a Tiradentes" está também no prelo da mesma editora. Também está no prelo um novo livro de poemas, editado pela Theasaurus, de Brasília, cujo título, ainda não definitivo (Simões poderá mudá-lo a última hora, por sugestão do editor) é "Elegia Para Jorge Luiz Borges & Outros Poemas". Aliás, Simões tem sempre sabido reverenciar aquilo que admira. Por exemplo, em 1982 publicou "Guernica E Outros Quadros Escolhidos De Picasso" e, no mesmo ano, lançava "Alguns Poemas Para Drummond". O fim das Sete Quedas não poderia ficar sem um Réquiem. E, em 1983, Simões publicou um belo livro - parte do qual está agora no álbum fotográfico editado pela Secretaria da Cultura, com patrocínio da Unicon - com fotos de Helmuth Wagner. Há dois anos, a "Ode Para O Alferes Joaquim José da Silva Xavier", antecipava, de certa forma, este mergulho nas Alterosas que empreende agora com "Rapsódia Mineira". xxx Hoje um escritor brasileiro, mais especificamente curitibano - cidade em que reside desde 1960 - Simões tem uma grande alegria: dentro de alguns meses, será lançado em Portugal uma antologia de sua poesia - o primeiro livro editado na terra onde nasceu, mas numa coleção de poetas brasileiros contemporâneos. De fato, Simões é hoje um escritor brasileiro. Afinal, como diz, foi aqui que concebeu e produziu os seus 30 livros. Da mesma maneira que T. S. Elliot (1888-1965) nascido nos Estados Unidos e emigrado para a Inglaterra aos 22 anos de idade (Simões veio de Portugal com 14) é hoje universalmente conhecido como um escritor inglês (o maior poeta inglês, para alguns), Simões também é um brasileiro, um curitibano, "um Bicho do Paraná". Portugal é, entretanto, um referencial. Importante, por exemplo, quando a revista "Nova Renascença" (hoje, reconhecida como superior a "Colóquio") publica nada menos que 10 páginas com o seu "Inventário da Infância ou Memórias de um Menino".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
23/04/1987

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