Login do usuário

Aramis

Márcio, agora com suspense político

Com "Galvez, o Imperador do Acre" o escritor amazonense Márcio de Souza transformou-se num fenômeno literário. Já traduzido para vários países, esta picaresca novela já vendeu 500 mil exemplares - soma que poucos outros escritores alcançaram. Bastante jovem e com intensa atividade editorial, Márcio uniu-se a Maria José Silveira e Felipe José Lindoso e fundou sua própria editora - a Marco Zero - pela qual tem saído importantes títulos. Por exemplo, na coleção "Histórias do Pau Brasil", afora "Galvez" e "A Resistível Ascensão do Boto Tucuxi", do próprio Márcio, saíram "Trilha nos Trópicos" de Miguel de Almeida: "Casulo das Águas" de Márcia de Almeida; "Marta, Júpiter e Eu" de Oscar Araripe; "A Terceira Margem" de Benedicto Monteiro; "Mário/Vera" de Tânia Jamarão Faillace; "Os Anões" de Haroldo Maranhão e "Das Trips, Coração" de Dau Bastos. No final do ano passado, um novo romance de Márcio foi acrescentado a esta coleção: "A Condolência" (capa de Romero Cavalcanti, 324 páginas, Cr$ 16.500). Uma obra um tanto diferente na obra do escritor amazonense: depois da novela picaresca em "Galvez, o Imperador do Acre", o romance de aventuras em "Mad Maria", a ficção-científica em "A Ordem do Dia" e a sátira política em "A Resistível Ascensão do Boto Tucuxi", Márcio decidiu tentar o thriller, construindo um romance em que mistura elementos policiais e políticos. Um livro definido pela própria editora como "glamourosamente" internacional e de ação, cujo suspense se desenvolve pelas favelas e bairros ricos do Rio de Janeiro até as margens esquerda e direita do Sena, em Paris, começando por um selvagem assassinato em uma solitária rua carioca numa noite chuvosa até revelar um complô terrorista cujas maquinações sinistras só podem ser desvendadas numa determinada hora de um único dia do ano no restaurante La Coupole, em Paris. Generais, guerrilheiros, direitistas, uma estilista de alta costura no Rio de Janeiro, oficiais da reserva, contas em bancos suíços - tudo entra neste caldeirão de aventuras que Márcio ferve com muita competência, conduzindo o leitor numa história interessante e atual. Márcio de Souza, numa entrevista distribuída por sua editora, diz que se preocupa em "não encher o saco do leitor". - "Só escrevo o que me diverte e dá prazer. Gosto de mostrar para os amigos e observar a reação deles, como, por outro lado, utilizo muitas histórias que eles me contam". Uma paixão e vivência cinematográfica - companheiro de Joaquim Murtinho, advogado e intelectual amazonense, ex-presidente da Fundação Cultural daquele Estado (e que em 1971 bancou a primeira edição de "Galvez"), Márcio procura dar uma linha de muita ação em seus textos - o que cria uma empatia com o público. Mas não é só: - "Além da experiência obtida com cinema, utilizou uma metodologia de pesquisa aprendida na USP. Para contar uma história interessante é preciso paciência para levantar os dados, fichá-los e não se deixar levar por fontes aparentemente mais fáceis, mas inexatas". Lucidamente, assim Márcio vê o panorama atual da indústria cultural brasileira. - "Qualquer discussão que se faça hoje sobre a indústria cultural atacando o imperialismo, precisa de autocrítica, pois muitos se bandearam para a produção artística em função do mercado do tráfico de influências, existindo um divórcio da cultura popular com a dominante. Então, ou você é artista e defende o seu trabalho, parando com o bom mocismo de defender as lutas de outras classes, ou não reencontraremos nosso papel como trabalhadores. Só para exemplificar a situação, é fácil observar como o conjunto de intelectuais está muito engajado em lutas de outras classes, sem nem sequer ter pensado em se sindicalizar. É preciso que se faça cinema, teatro, literatura e música considerando que isto é indústria cultural, é um trabalho que deve ser levado a sério e justamente remunerado. Não adianta nada fazer um filme condenando o latifúndio, se os atores ganham menos que o peão do latifúndio... LEGENDA FOTO - Márcio: thriller policial.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
27
10/02/1985

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br