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Aramis

Mautner, antimaldito

Jorge Mautner, 44 anos, completa agora 27 de contestações lançando "Antimaldito" - que sai com o selo de uma nova etiqueta ("Nova República", mas distribuído pela Polygram). Desde "Deus da Chuva e da Morte", o calhamaço que este paulista filho de vocês lançou em 1958, vem insistindo em ser uma espécie de voz crítica da consciência jovem. Toca (mal) violino, foi um dos primeiros arautos contra os riscos da corrida nuclear chegar ao Brasil, autoexilou-se em Londres quando seus amigos Caetano e Gil foram forçados a deixar o Brasil (e lá chegou a fazer um filme experimental, "O Demiurgo") e, mesmo sem ter voz, chega ao quinto lp como intérprete. E dá ao seu disco o título de "Antimaldito", numa irônica referência a sua própria (e assumida) marginalidade na MPB em termos de consumo. Afinal, como Luiz Melodia, Arrigo Barnabé, Jards Macalé, Itamar Assunção, Mautner é um autor/intérprete-desafio: mais da palavra do que da harmonia musical, irônico e debochado, seus discos são verdadeiros discursos sonoros, aos quais é preciso aceitar com uma extrema boa vontade - caso contrário a audição não passa dos primeiros cinco minutos. Mautner tem, entretanto, idéias e vigor que fazem ficar entre seus admiradores os baianos Gil e Caetano e, ao lançar um novo disco como este "Antimaldito" receber um tratamento promocional especial. Candidato a Constituinte pelo PDT, Mautner inclui neste disco, por exemplo, uma música intitulada "A Bandeira do Meu Partido" - idealizada em 1958, mas ao qual acrescentou uma estrofe final, nascida em 1984 quando da realização das manifestações pelas diretas já. Há duas maneiras de apreciar uma presença como Mautner: buscar intenções críticas-sociais mais profundas em sua não-música - vendo sua voz irritante, seu violino chocante - como parte de uma cultura underground, ou, simplesmente ignorá-lo em termos artísticos. Posição assumida pela maioria do público - basta ver a pequena vendagem de seus discos. Mas há os que o curtem - como Caetano e Roberto Santana, produtores deste "Antimaldito", no mínimo um ponto referencial para discussão.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
37
03/11/1985

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