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Aramis

McFerrin e Nina, as máquinas vocais

Um dos projetos para a edição-86 do festival de jazz de Montreaux - cada vez menos jazzístico e mais eletrificado - é um incrível encontro no palco de dois cantores originalíssimos: o brasileiro Ney Matogrosso e a alemã Nina Hagen. Será, sem dúvida, uma proposta de fusão entre vozes das mais especiais - e que dentro dos malabarismos canoros que desenvolveram chegaram a um público internacional. No Free Jazz Festival, que hoje se encerra no Rio - após um primeiro segmento em São Paulo - a grande revelação para o público brasileiro foi do cantor Bobby McFerrin, 35 anos completados a 11 de março passado, único no panorama vocal dos anos 80 - e que apesar de já ter dois elepês gravados na Elektra (etiqueta do grupo WEA) continua (va) inédito no Brasil. Talvez agora a WEA anime-se a lançar seus discos, já que a cobertura que mereceu nos últimos dias foi grande. Filho do barítono Robert McFerrin (que dublou Sidney Poitier nas partes cantadas) do filme "Porgy and Bess" (1958, de Otto Preminger) e da soprano Sara McFerrin, McFerrin já pode, entretanto, ser ouvido num disco editado no Brasil. No avançadíssimo e [interessante] "Sportin Life" (CBS, Collector's Jazz Séries) do Weather Repórter, McFerrin participa como vocalista em quatro das melhores faixas: "Corner Pocket", "Hot Cargo", "Pearl On The Half-Shell"e "Ice-Pick Willy" - dividindo, entretanto os vocais com Carlo Anderson, Dee Dee Bellson e Alfie Silas. "Sport's Life"é o exemplo de como um grupo jazzístico consegue se manter na crista da onda. Embora com apenas dois dos integrantes originais de quando o conjunto nasceu - Joe Zawinul (sintetizadores) e Wayne Shorter (sax), o Weather surpreende a cada nova gravação. Agora formado também por Omar Hakim (bateria), victor Bailey (baixo) e Mino Cinelu (percussão), o Weather funde mais uma vez diferentes correntes e, especialmente neste caso, traz a voz originalíssima de McFerrin, o que por si só já justifica a sua aquisição. xxx Por várias razões, Nina Hagen foi a grande sensação do Rock In Rio, em janeiro último. Do exotismo de sua figura a potencialidade vocal, esta cantora da maior originalidade se transformou no must musical do início do ano, o que fez com que seus dois primeiros discos aqui editados - "Nunsexmonkrock" (1982) e "Fearless" (1983) - que permaneciam estacionados em vendagens, explodissem rapidamente. E também faz com que a CBS agora edite praticamente simultaneamente aos Estados Unidos o novo disco de Nina ("Ektasy"), uma produção que passou por estúdios em Ibiza (Espanha), Paris, Nova Iorque, Londres e Los Angeles. Nina arrasa como vocalista (além de compositora de cinco faixas). Trabalhando sua voz diretamente com um instrumental especialíssimo - por exemplo três tecladistas e três bateristas, mais guitarra, sax e pistão, além da participação especial do grupo Afrika Bamtaata (em "Prima Nina In Ekstasy"), Nina faz viagens sonoras a universos nunca dantes ouvidos - seja numa recriação de "My Way" (totalmente distante daquela romântica gravação de sinatra) ou a revisitação de um tema clássico e Aram Khachaturian ("Dança do Sabre"). Nina é possivelmente a cantora mais original desta década - só comparável a norte-americana Laurie Anderson - e cujo trabalho tem o mérito de ser tanto curtido pela garotada incrementada ao som pop como oferecer elementos que a levam merecer atenção por quem tem ouvidos suficientemente abertos ao novo i inusitado. Feito porém com extrema competência técnica. LEGENDA FOTO - Nina Hagen: máquina vocal
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
42
11/08/1985

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