Mecenato Oficial (II)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de julho de 1977
Há seis meses, quando os irmãos Sérgio e Lafayette Queirollo conseguiram, finalmente, que a Fundação Cultural liberasse os recursos para a instalação do Circo Chic Chic, as esperanças eram grandes. Afinal, pelo menos cinco gerações de curitibanos conheceram o humor, a graça, a comunicabilidade do palhaço Chic-Chic ([Otelo] Queirolo) e seus irmãos, Ricardo e Julião, que, com seus filhos, sobrinhos, esposas - enfim toda uma comunidade artística, integraram-se à cidade e seu tempo.
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Infelizmente, o sonho acabou. A televisão com sua anestesia eletrônica, os quase 10 anos que o circo esteve paralisado, desde que uma tempestade destruiu seu toldo, novos [costumes], parecem ter feito desaparecer aquele público que durante tantos anos foi fiel. E assim, há meses que Lafayette Queirollo vem montando comédias popularescas, procurando levar aos diversos bairros da cidade uma nova opção de diversão, ao público mais humilde, mas os resultados, em termos de rentabilidade, têm sido mínimos.
Apesar da morte de Sergio, há pouco mais de um mês, Lafayette não desistiu e, no ano 60 do circo Queirollo, continua a insistir. Mas está vivendo um drama: havendo mínimo público, não há renda e ele não tem condições de parar os seus companheiros. Velhos amigos e companheiros de agruras circenses, como o bom Juve Garcia, mesmo entendendo o esforço de Lafayette não tem condições de trabalhar, em bairros distantes, ganhando o ridículo cachê de Cr$ 35,00 por noite. Mais Lafayette não pode pagar mais e assim, tem que apelar para amadores, decaindo a qualidade das comédias. E com isso o público também se afasta. Está formado o círculo vicioso.
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Existe uma solução, que depende, exclusivamente, da sensibilidade dos donos do poder municipal: a Fundação Cultural aplicar parte de seu excelente orçamento em subvenção regular ao Circo, que poderia, inclusive, abrigar peças atraentes, como "O Santo e a Porca" ou "O Auto da Compadecida" de Ariano Suassuna, "Tempestade em Água Benta", de Cavalcante Borges, entre outras, integrando-se assim, a um trabalho criativo. O circo sobreviveria, daria empregos a atores e atrizes humildes e seria uma maneira bem mais honesta de aplicar recursos públicos - que muitas vezes tem sido desperdiçados em supérfluas promoções na área municipal. Como este, não há futuros: público cada vez menor, artistas desistindo de trabalhar com os Queirolos e uma melancolia no ar. E, afinal, de nada adiantou fazer um circo, se não houver uma - ajuda mais substancial. A não ser que a intenção tenha sido apenas política!
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Outro ator humilde mas sincero, também veterano no mundo das lonas, Edson D'Avila, 57 anos, 42 de teatro, está levando [às] menores cidades e vilas do Paraná um monólogo de Pedro Bloch - "Esta Noite Chove Prata", um dos maiores sucessos na carreira de Procópio Ferreira, que tem divertido e [emocionado] platéias que raramente [assistem] teatro. Edson já esteve em Maripá, Cândido Rondon, Palotina, Cascavel, Medianeira e Toledo e agora, em agosto, irá a Matelândia, Nova Aurora, Foz do Iguaçu e Corbélia. Em todas estas localidades - apresentando-se em cinemas, clubes e até em barracões - tem conseguido excelentes resultados. O público participa do espetáculo, chora, aplaude, emociona-se. É teatro, na mais autêntica expressão do termo.
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