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Aramis

Memórias de Aloysio, o homem com boa Lua

Quando esteve cm Curitiba pela última vez - em fevereiro de 1975, participando do I Encontro de Pesquisadores da MPB -, Aloysio de Oliveira ao longo de um almoço no (hoje de saudosa memória) restaurante Nino, gravou um depoimento com os pesquisadores Miecio Caffé, João Luiz Ferreti, Didier Betega e este repórter, sobre um pouco de sua carreira artística. Como já disse um jornalista, Aloysio sempre esteve ligado ao que de importante acontecera com a música brasileira. Fundador do Bando da Lua (1930/1955), acompanhou toda a carreira de Carmem Miranda (1909-1955), foi responsável pela explosão da Bossa Nova, quando voltou ao Brasil e foi dirigir a Odeon, criou a histórica Elenco (marca agora reaparecendo como propriedade da Sigla/Som Livre), produziu dezenas de discos, foi compositor e cantor da maior importância. Hoje, aos 69 anos - a serem completados no próximo dia 30 de dezembro - Aloysio de Oliveira retorna após longo período com problemas de saúde. E o faz da forma mais bonita: lançando um livro de memórias, escrito sem preocupações de precisão cronológica mas sincero , rico e emocionante: "De Banda Para a Lua" (Editora Record 176 páginas, Cr$ 1.990,00). O livro vai desde o seu nascimento até a morte de Carmem Miranda, de quem foi o maior amigo. Os últimos 29 anos ficaram para um segundo volume - necessário, pote neste período Aloysio teve também uma importantíssima contribuição musical, inclusive realizando o musical "Deus Lhe Pague", no Canecão (estréia em outubro de 1976), numa tentativa de fazer do monólogo de Joracy Camargo um espetáculo nos moldes da Broadway - que tão bem conhece. Casado e descasado várias vezes. tendo vivido nos EUA por quase 30 anos - especialmente cm Hollywood, onde trabalhou nos estúdios de Walt Disney,-marcando com sua voz musical a narração de centenas de documentários da série "Maravilhas da Natureza", Aloysio de Oliveira foi sempre um homem bafejado pela sorte. Mesmo sem reunir fortuna - embora sempre ganhando muito bem - conviveu com os grandes ídolos do cinema e da música, participou de históricos acontecimentos do show business, viajou por meio mundo e sempre foi das pessoas mais estimadas do meio artístico. Em 1973, quando esteve cm Curitiba, a nosso convite, junto a seu grande amigo Lúcio Alves (para quem produziu os' melhores discos) fazendo uma palestra no Teatro do Paiol, AIoysio contou algumas passagens interessantes de sua vida - que agora, com maiores detalhes, coloca neste seu livro de memórias. O qual, inicia de uma forma muito sincera: "A parteira, competente, formada e informada, acreditava na influência da 'Ala sobre aqueles que estavam para nascer. Por isso, estudara cientificamente o seu movimento, calculara o ângulo de incidência sobre nossa casa e colocara a cama de minha mãe ao lado da janela, em posição favorável para receber, sem quaisquer esbruções, todos os lúmeres selênicos no momento exato em que minhas nádegas surgissem neste mundo. E foi assim, sem muitas dificuldades, que nasci com a bunda para a Lua". e.. "De Banda Para a Lua" não é um livro-ensaio, com números precisos, para quem exige rigor de datas. O próprio Aloysio adverte que não teve intenção de escrever uma autobiografia, mas, sim, relatar "alguns acontecimentos que rodearam minhas andanças no mundo da música". lato desculpa enganos como o de colocar a sua participação no filme "Tentação Verde" (green Fire, 1934, de Andrew Marton), o pior filme estrelado por Grace Kelly (1928-1982), como ocorrido nos anos 40. Na página 119, Aloysio conta que o produtor do fume (ele não diz o nome; mas foi Armand Deutsch) durante sua estada na Colômbia ouviu o Trio Irakitã cantando "Maringá" (Joubert de Carvalho) e cismou que a música era colombiana Decidiu então colocar a canção na trilha sonora deste filme em que atuavam Stewart Granger, Paul Douglas e John Ericson (além de Grace Kally, é claro). "Por isso - diz Aloysio - fui chamado no estúdio, a fim de ensaiar dois mexicanos para fazer um trio comigo. E assim cantei "Maringá" para Grace Kelly, fazendo parte de um trio mexicano, cantando uma música brasileira num filme passado na Colômbia". Na colocação que Oliveira fez dessa informação relacionando-a entre fatos ocorridos entre 1944/48, antecipou em quase 10 anos a realidade - e o filme, distribuído pela MGM, chegou ao Brasil em 1956, sem repercussão. Urna pequena falha que não invalida esta obra interessante e indispensável para quem se preocupa cm conhecer a música brasileira. Como o professor Alceu Schwaab, tesoureiro da Associação dos Pesquisadores da MPB, e que para concluir seu levantamento da bibliografia da MPB, esteve em São Paulo, há 3 semanas, mergulhando nos arquivos de 1. Ramos Tinhorão - e completando as anotações para uma publicação que deverá sair nos próximos meses. LEGENDA FOTO - Aloysio: Memórias
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
15
28/09/1983

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