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Aramis

Muitos querem saber da vida de cada um

Entre tantos volumes que surgiram nos últimos meses, algumas até reedições, com biografias que variam desde a Santa Teresa de Ávila até a escandalosa porno-deputada Cicciolina, são muitas as opções. Na área artística, então, os lançamentos se sucedem ainda com maior intensidade. xxx A Vida do Barão do Rio Branco - Lançada há 30 anos, a biografia que o acadêmico Luís Viana Filho, 81 anos, escreveu sobre José Maria da Silva Paranhos (1845-1912) é considerado um dos mais completos estudos não apenas sobre o homem, o político e o estadista - mas um importante processo político brasileiro. Como disse o crítico Eduardo Portella, "este livro saldou uma velha dívida que nós, brasileiros, havíamos assumido para com o Barão do Rio Branco: a de escrever-lhe uma biografia que não fosse apenas um repositório de documentos sem maiores conseqüências interpretativas ou um simples relato, frio e incolor das conquistas do chanceler" (439 páginas, volume 106 da coleção "Documentos Brasileiros", José Olympio Editora/Pró-Memória). Gertrude Stein (1874-1946) foi uma das personalidades mais fascinantes da literatura internacional, cunhadora da frase "geração perdida" para definir alguns dos maiores escritores americanos que se auto-exilaram na Paris do início do século. Poeta, com uma frase que é repetida ad nausean ("Uma rosa, é uma rosa, é uma rosa"), em "Autobiografia de todo mundo" (Nova Fronteira, 339 páginas) não chega a fazer uma biografia propriamente dita mas, em seu estilo magnífico, oferece informações de personalidades como Pablo Picasso, De Chirico, Chaplin, Miró, Marcel Duchamp e tantos outros com quem conviveu em sua trepidante vida parisiense. Henry Miller (1891-1981), outro americano que viveu mais na França do que nos Estados Unidos, ficou famoso por seus livros realistas, acusados de pornográficos - como os "Trópico de Câncer" (1932) e "Trópico de Capricórnio" (1939), além da trilogia "Sexus" (1949), "Plexus" (1953) e "Nexus" (1959). De sua vida, há muito ainda a ser contado e por isto um dos lançamentos mais interessantes feitos no ano passado foi "Henry, June e Eu", de Anaïs Nin (Record, 184 páginas), no qual estão alguns anos da vida da escritora no período em que ela conviveu intimamente com Miller e sua mulher, June. Devido a vários problemas, Anaïs Nin (1913-1967), só viria a publicar seus diários a partir de 1966, assim mesmo fazendo uma auto-censura nas passagens mais picantes. De qualquer forma, dentro de um campo para se conhecer melhor a vida (e em conseqüência) de intelectuais que, em sua época, romperam convenções e padrões de comportamento, este livro definido como "o diário íntimo de um ménage à trois" não fica apenas no lado escandaloso. Cicciolina (Ilona Staller, Budapeste, 1951) foi um escândalo na Itália católica ao ser eleita para deputada, pelo Partido Radical Italiano, com cerca de 20 mil votos. Atriz de filmes e espetáculos pornô, sem nunca antes ter participado da política, esta imigrante húngara, que se tornou conhecida com o apelido de Cicciolina (fofinha) não tem parado de chocar a hipócrita sociedade. Em suas "Confissões" (Record, 154 páginas, tradução de P.C. Xavier) fala de suas aventuras sexuais, de seu lado ecológico e, não esconde o muito dinheiro que ganhou fazendo filmes eróticos vulgares e até shows com animais - e revelando também detalhes de sua caminhada política - na qual associou sexo e erotismo. E que levou também algumas mulheres liberadas, em outros países, a também pensarem em fazer carreira política. Mishima se tornou, nestes últimos anos, um dos escritores orientais mais discutidos e estudados em vários países, inclusive no Brasil. Independente dos méritos de sua obra - e da repercussão que o filme que Paul Schraeder fez sobre sua dramática vida - para isto colaborou a forma dramática que morreu: em 24/11/1970, aos 45 anos, numa tentativa de sublevação militar-política em Tóquio, rasgou o ventre antes de ser decapitado pelas mãos de um amigo. Foi uma morte ao mesmo tempo terrível e exemplar porque constituiu o meio de alcançar, em toda profundidade, o vazio metafísico que fascinava Mishima desde a juventude. Uma das mais importantes intelectuais contemporâneas, Marguerite Yourcenar, que se tornou conhecida por seu "Memórias de Adriano", dedicou um ensaio biográfico a Mishima, no qual iniciou falando sobre a dificuldade de julgar um grande escritor contemporâneo devido à falta de recuo. Destaca que a dificuldade aumenta quando este escritor pertence a outra civilização, em relação à qual entram em jogo a atração pelo exotismo e a desconfiança do exotismo. Um livro denso ("Mishima ou a visão do vazio", editora Guanabara, tradução de Tati de Moraes, 105 páginas), capaz de ajudar a entender melhor a obra do autor de "Mar de Fertilidade". Herberto Sales, 72 anos, autor consagrado, durante anos diretor do Instituto Nacional do Livro, em "Subsidiário - confissões, memórias & histórias" (Livraria José Olympio, 618 páginas) enfeixou fatos, idéias e acontecimentos, lembranças de uma longa vida literária e política. Sem preocupação cronológica ou a de reduzir a história de sua vida a um mapa cheio de contornos, o livro é uma lição de liberdade e sabedoria. Fala da vida e dos homens, das histórias que fizeram história - tudo isso sem perder o fôlego. Gorbachev se tornou o grande nome da política internacional desta década. O que o transformou também num homem que precisa ser mais conhecido, razão que fez de uma de suas biografias, escritas por Zhores Medvedv (José Olympio, 292 páginas) uma obra interessante para melhor entendê-lo. O autor, Medvedv, acompanhou sua ascensão desde os dias de estudante da Universidade de Moscou até chegar ao comando supremo da URSS e iniciar a política da glasnost. Teresa de Ávila, uma cristã-nova, neta de judeus convertidos, numa Espanha que em 1492 havia expulso todos os hebreus e na qual a Santa Inquisição levava o terror ao máximo, conseguiu, como religiosa, afirmar sua personalidade feminina na repressiva sociedade do século XVI. E justamente por dar uma revisão a S. Teresa de Ávila, como líder de uma reforma nos conventos femininos e, indiretamente, uma feminista em sua época, é que o livro escrito por Rosa Rossi (edição no Brasil da José Olympio, 272 páginas), transformou-se num dos mais vendidos na Itália e obteve o prêmio Donna-Cittá de Roma, em 1984. A autora, Rosa Rossi, é professora de literatura espanhola na Universidade de Roma e se tem destacado por seus ensaios sobre filologia hispânica.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
18/03/1989

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