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Aramis

Muitos sertanejos mas também o único Guarani

Há 29 anos, para comemorar o primeiro aniversário de sua criação - em 16 de agosto de 1958, como uma divisão da então poderosa loja de departamentos Cassio Muniz, em São Paulo, o produtor Braz Baccarim sugeriu uma superprodução: a gravação integral da ópera "O Guarany", com direção musical de Armando Pellardi e que, na época, atingiu um custo fantástico: quatrocentos e cinqüenta mil cruzeiros. Eram três elepês numa caixa, mais libreto - algo fantástico para uma etiqueta que tinha basicamente no gênero rural o forte de seu acervo. Passadas três décadas - e mesmo com as comemorações dos 150 anos de nascimento de Carlos Gomes (Campinas 1835-Belém 1896), há dois anos, nunca mais houve nenhuma gravação integral - no Brasil ou Exterior - desta ópera que teve sua estréia em 19 de março de 1870, no Teatro Alle Scala, em Milão. Em 1986, houve uma reedição, mas de forma econômica (em álbum duplo, sem libreto), feita pela própria Chantecler. Só esta "ousadia" da Chantecler lhe garante um espaço especial na futura história da fonografia brasileira - projeto acalentado por nossa Associação dos Pesquisadores da MPB, mas ainda a espera de que alguém (ou uma equipe) o leve adiante. E para a história da Chantecler, uma fonte básica é a de Braz Baccarim, 58 anos, hoje consultor jurídico do grupo Cotinental, mas ligado ao setor musical desde 1951, quando deixou a loja Mundo Fonográfico e passou para a Cassio Muniz. Seis anos depois, junto com Palmeira (Diogo Muller, 1918-1967) e Teddy Vieira (1922-1965), seria um dos responsáveis pela grande presença do selo Chantecler, concorrendo com multinacionais e formando um calendário no qual conviviam duplas e trios sertanejos, cantores bregas - com produções culturais, não só da dimensão de "O Guarany", mas os primeiros discos da pianista Eudozia de Barros e o hoje internacional (há 10 anos radicado nos EUA) violonista Antonio Carlos Barbosa Lima. Em 1973, vendida por Hélio Muniz de Souza para o grupo Continental - também uma das raras gravadoras formada por capital exclusivamente nacional - a Chantecler se manteria ainda com catálogo e administração separada por mais cinco anos. A partir de 1978, entretanto, seria totalmente incorporada a Continental, permanecendo apenas o selo e o acervo - no qual há preciosas matrizes para a história da música brasileira. Uma delas é "Gralha Azul", produção de 1965 de Inami Custódio Pinto, com Ely Camargo e os Titulares do Ritmo, interpretando folclore parananese - agora reeditada pela Secretaria da Cultura, com 2 mil exemplares já prensados - e que terá lançamento tão logo seja concluída a capa dupla, com um grande encarte informativo. xxx Mesmo tendo, diferentes períodos, representado etiquetas internacionais, especialmente americanas, a Chantecler sempre foi uma espécie de trincheira da música brasileria em suas formas mais simples. Um acervo reunido ao longo de pelo menos 20 anos, hoje incorporado a Continental - esta nascida muitos antes, como Columbia - mas também brasileiríssima em sua constituição. Pertencente a família Byghton - e enfrentando, portanto, dificuldades de mercado que as multinacionais fonográficas não possuem (mas que nem por isso deixam de refletir em seus balanços), há, nos artistas simples, que poucas vezes obtem o reconhecimento promocional merecido - mas que chegam a milhões de pessoas que se identificam com suas músicas - naquela brasilidade tão necessária para as nossas raízes culturais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
16/08/1988

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