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Aramis

Mulher I

No pacote de final de ano, junto com os supercampeões Roberto Carlos e Chico Buarque, também as superstars da MPB vão para as lojas: Elis, agora estreando na Odeon após rápida passagem pela WEA, e Maria Bethânia, que, provando ser a maior vendedora (cantora) de discos, já saiu com 600 mil cópias colocadas. Elis Regina surpreende um pouco: não só pelo repertório inédito, mas pelo estilo ácido, um tanto roqueiro que imprimiu nas gravações das nove músicas incluídas: Natham Marques, guitarrista do grupo que a acompanha, divide com a excelente letrista Ana Terra a faixa de abertura ("Sai Dessa"), o amigo Gil vem com "Rebento", Guilherme Arantes ganhou duas faixas: "Aprendendo a Jogar" e "Só Deus é Quem Sabe". Cantora pé-quente, que sempre deu sorte aos compositores por ela lançados, Elis apresenta Luiz Guedes/Thomas Roth ("Nova Estação"), e os irmãos Jean e Paulo Garfunkel (netos do pintor Paul e madame Helene Garfunkel), com a deliciosamente irônica "Calcanhar de Aquiles", que mostra que Bosco/Blanc já têm (bons) seguidores. O grupo mineiro está presente: a regravação de "O Trem Azul" (Lô Borges/Ronaldo Bastos), Beto Guedes/Fernando Brandt ("O Medo de Amar é o Medo de Ser Livre") e os irmãos Telô e Márcio Borges ("Vento de Maio"). César Camargo Mariano (de quem também saiu pela Odeon o seu elepê instrumental) se esmerou nos arranjos. Apesar de tudo, se esperava mais deste (aguardado) lp de Elis. Em "Talismã" (Philips), Bethânia continua na mesma linha que a consagrou: canções densas, dramáticas, românticas. Um bem escolhido repertório, com a presença maciça do mano Caetano: "Vida Real", "Pele", "Gema" e a canção-título, parceria com Waly Salomão. Gil está presente com "Amo Tanto Viver", os irmãos Nelson/Xixo Motta em "Noite de Um Verão de Sonho". Duas homenagens a compositores dos anos 50: "Cansei de Ilusões" (Tito Madi) e "Mentira de Amor" (Lourival Faissal/Gustavo de Carvalho). Faissal é também autor da versão de "Eu Tenho Um Pecado Novo", bolero de Mariano Mores/Alberto Martinez que adquire um tom agradável na perfeição técnica de Bethânia. Dona Yvone Lara ("Alguém Me Avisou") e Mariana Lima/Antonio Cícero ("O Lado Quente do Ser") também entraram. Mas, como sempre, a música mais forte é a de Gonzaguinha ("Mergulho"), com imagens bem do agrado de Bethânia e seu público ("No exato momento/No exato instante em que nós mergulhamos/é preciso entender/Que não estamos somente matando/ Nossa fome na paixão/Pois o suor que escorre/Não seca, não morre, não pode/E nem deve nunca ser em vão/São memórias de doce e sal"). Como em todos os discos de Bethânia, a partir de 1970, a convocação de instrumentistas identificados com seu estilo (Chiquito Braga no violão, Tulio Mourão no piano, Luizão no baixo, Enéas Costa na bateria, etc.), afora participações especiais e afetuosas, como do trombonista Manoel Araújo em "O lado quente do ser", Gil e Caetano em "Alguém Me Avisou". Destaque para "Noite de um verão de sonho"; apenas o teclado suave de Mourão, emoldurando a sentida interpretação de Bethânia.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
27
28/12/1980

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