As mulheres & os livros
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de novembro de 1977
Duas mulheres ligadas ao Paraná acabam de ter seus livros lançados pela Francisco Alves, editora que em menos de 3 anos conseguiu montar respeitável catálogo de títulos editados. A jornalista Nina Chaves, que antes de ser conhecida como "a colunista dos sábados" no jornal "O Globo" morava em Londrina, onde escrevia uma coluna da "Folha" e era correspondente do Jornal "O Estado de São Paulo" e da revista "Visão", para assuntos políticos e econômicos, reuniu em livro, as crônicas que escreveu da França, nos quatro anos que ali passou ("Paris, Via Varig", 190 páginas, Cr$ 60,00).
Reunidas em livro, as crônicas de Nina compõem, como diz a editora, uma literatura intimista, saborosa, muito chegada à auto-interpretação feminina. Escrevendo em seu estilo particular, Nina Chaves parece brincar de Guimarães Rosa, reinventando verbos e sintaxes ao sabor de uma imaginação esfuziante.
Cada crônica é um tijolo sem parágrafos nem truques para afugentar o sono do leitor. Durante 4 anos, Nina manteve sua página semanal em "O Globo". Como nem sempre existia assunto para preencher todo o espaço, começou a escrever crônicas muito pessoas, totalmente diversas do estilo de sua coluna, sob o título de "Pois É". Para sua surpresa, conseguiu um novo tipo de leitor, aquele que gosta de ler alguma coisa mas do que a vida alheira.
Maria Helena Kuhner esteve várias vezes em Curitiba como técnica do Serviço Nacional de Teatro e autora de peças infantis. Agora, mostra uma outra dimensão de seu talento, com um dos mais sérios livros da temporada: "O Desafio Atual da Mulher" (182 páginas, Cr$ 70,00). Depois de alguns livros sobre teatro ("Teatro em Tempo de Síntese, 71; "Teatro Popular: uma Experiência", 75; a peça infantil "A Menina que buscava o sol"), Maria Helena, formada em Letras e Psicologia, decidiu fazer um livro sobre a mulher brasileira. E fundamentada em sólida pesquisa, incluindo entrevistas com mulheres de diferentes categorias sociais, pode compor um estudo honesto. Após uma introdução em que fundamenta o enfoque adotado na obra, Maria Helena parte do cotidiano onde se forma a consciência capaz de reflexão para a ação transformadora, analisando as estruturas em que se move a mulher; a mulher e o trabalho, a relação homem-mulher; a relação mulher-filhos, a relação da mulher consigo mesma. A cada passo, interrogando a experiência e os fatos do dia-a-dia, busca sentir novos valores e tendências, as novas atitudes e comportamentos que se esboçam como caminhos de uma transformação desejada, necessária e possível, nas relações assim geradas e nas próprias instituições a ela ligadas - o casamento, a família, a escola e a educação.
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