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Aramis

Mundo de Kózak no resgate de Severo

Emoção. Esta a primeira sensação que passou a projeção de "O mundo Perdido de Kozák" (colorido, 16mm, 15 minutos, 1988) na projeção especial que coincidiu com o Dia do Índio (terça-feira, cine Ritz). A emoção de rever imagens de uma Curitiba dos anos 30, com bondes na praça Tiradentes, pela primeira vez, em documentário, capturadas em Kodak colorido que, meio século depois, mantém toda a beleza cromática. Emoções de seqüências da maior importância antropológica e ecológica que o checo-brasileiro Vladimir Kozák (1898-1979), durante os 39 anos em que viveu no Paraná sempre procurou registrar em milhares de negativos, os quais deixou, na maioria dos casos, inéditos. Como recordava um de seus amigos, o fotógrafo Helmuth Wagner, 63 anos, "Kozák nunca se preocupou em terminar os filmes que rodava e até usava isto para desculpar o ineditismo que os mantinha". Outro de seus grandes amigos, o professor Oldemar Blasi, 64 anos, nomeado curador de seu acervo, comentava o temperamento introspectivo, solitário de Kozák que, com os donos do poder cultural, especialmente na Universidade Federal do Paraná - na qual nunca teve o apoio merecido, embora funcionário do setor de antropologia - fazia suas filmagens, não só no Paraná mas em outros Estados, por conta própria. Um jovem cineasta, Fernando Severo, 31 anos, catarinense de Caçador, mas há mais de 20 anos em Curitiba, sem nunca ter conhecido a Vladimir, fez a maior homenagem que ele poderia merecer: de mais de 80 horas que deixou em negativos (hoje guardados no Museu Paranaense), extraiu seqüências belíssimas, que acopladas a um roteiro inventivo e um esplêndido trabalho de animação, resultaram num dos mais belos documentários já realizados no Paraná. Uma linguagem precisa, narração correta de João Luiz Fiani, trilha sonora das mais bem escolhidas (Uakti, Villa-Lobos, Wagner e até Brian Eno) somadas a emoção das imagens de um pioneiro do cinema antropológico, que viveu esquecido e morreu praticamente abandonado em Curitiba, fazem de "O Mundo Perdido de Kózak" um filme esplêndido, merecedor de ser visto por todos que se interessam pela nossa cultura. E que deixa um nó na garganta: quantos outros Kozaks não sofrerão o mesmo processo de esquecimento, só sendo devidamente valorizados após a sua morte? LEGENDA FOTO - Kozák, numa filmagem no Interior do Paraná, em 1949.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
21/04/1988

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