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Aramis

Música

Em julho do ano passado, saindo da direção da Rádio ornal do Brasil, o jornalista Antônio Chrisostomo ingressava na RCA Victor, auxiliando a Severino Filho (ex-Os Cariocas) na produção de um novo disco de Nelson Gonçalves: << Quando a Lapa era Lapa >> (Victor,... 103.0060). Utilizando a bela voz de Nelson, Chrisostomo/Severino, procuraram valorizar o seu trabalho, apesar do comprometimento de cinco das 13 músicas serem ainda de Adelino Moreira, compositor que marcou (e prejudicou, em termos artísticos), a longa carreira de Nelson Gonçalves. Um rompimento com Adelino, há 3 anos, fez com que o cantor procurasse em suas ultimas gravações, ampliar o repertório deixando de ser o interprete exclusivo das insônias canções de << dor de cotovelo de Adelino Moreira. De qualquer forma, o lp foi bem melhor do que a maioria de sua numerosa produção em 54 anos de vida. A fórmula parece ter funcionado, tanto é que a realização do novo lp de Nelson Gonçalves (<< Passado e Presente >>, RCA Camden, 107.170, fevereiro-74) foi novamente entregue a Severino Filho, que fez também os arranjos e participou com seu coral em alguns arranjos. Na contracapa, há a informação de que << lojistas de todo o Brasil fizeram uma seleção musical, pedindo que a RCA lançasse através de Nelson Gonçalves as páginas que constam deste LP, garantindo, assim, uma venda de 100.000 discos >>. O resultado é uma seleção bastante esdrúxula que inclui ao lado de cinco músicas de Adelino Moreira até um clássico da Bossa Nova como << Barquinho >> (Roberto Menescal-Ronaldo Boscoli), que na voz de Nelson aparece ridicularmente, nos fazendo lembrar a imitação do homem de TV Osny Bermudes, costuma fazer mostrando como seria a interpretação de << O Pato >>, criado por João Gilberto, se cantada por Vicente Celestino (1894-1969) . Só esta faixa já caracteriza este << Passado e Presente >> com um lp curioso na carreira do cinqüentão Gonçalves, que na contracapa, em duas fotos diferentes procura modificar uma transformação de repertório via cabelo: na primeira, o discreto penteado de interprete << tanguista >> das musicas de Moreira. Na segunda, um close-up, cabelo despenteado (como na foto principal da capa), num aparentemente descompromisso e uma << comunicabilidade >> jovem. Mais uma vez Gonçalves prova que é um cantor de bela voz. Limpa, bonita e tranqüila. É difícil porém aceitar um cantor que caracterizou-se durante 30 anos como interprete de um repertório Kirtsch, de repente, procurar a leveza para cantar sambas bonitos como << Manias >> (Flavio Cavalcanti-Celso Cavalcanti), << Cinco Letras Que Choram >> ( Silvino Neto), << Madama Fulano de Tal >> (Ciro Monteiro-Dias da Cruz >>) , << Chuvas de Verão >> (Fernando Lobo-Armando Cavalcanti) e << Naquela Mesa >> (Sérgio Bittencourt). Gonçalves é mesmo o interprete de << Fica comigo esta noite >>, << Escultura >> , >>Mariposa >>, << Tenho Desejo >> , << Meu Vicio é Você >> de Adelino Moreira, infelizmente. Ou no máximo, de um << Pensamento em Ti >> de Herivelto Martins-David Nasser. Para os fãs incondicionais de Nelson Gonçalves um lp que talvez os irrite por ver o << grande >> seresteiro (sic) interpretando uma musica como << Barquinho >>. Mas para a geração que aprendeu a ouvir musica a partir dos anos 60, isto não acontece: no máximo acharão gozado ver o interprete de << Fica Comigo, Esta Noite >> dizer: << Dia de lua/festa de sol/ um barquinho a deslizar.... >>
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
1
24/03/1974

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