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Aramis

Música pop - Uma rápida fonografia do que existe de atual no rock (I)

Ainda não está definido exatamente o que é a chamada "Pop-Music". Derivando de "Popular Music", englobaria toda a música não-erudita (ou clássica), mas a verdade é que este novo neologismo, como tantas outras coisas características daquilo que se pode chamar de "depois dos Beatles", passou a englobar uma forma musical de maior força elétrica, com seus intérpretes na maioria das vezes recorrendo a sofisticadas aparelhagens eletrônicas, com o som muitas vezes superando a palavra - embora ela continue a desempenhar um papel marcante dentro da estrutura musical. Na verdade, a "Pop-Music" é confundida - ou talvez integrada - ao Rock, ao Ié-Ié-Ié e outras denominações que pouco traduzem, como outras classificações surgem agora - como o pop sinfônico, para definir as experiências mais avançadas (e importantes), por parte dos grupos de maior maturidade como Pink Floyd, Emerson, Lake & Palmer e Focus, para só citar três exemplos. Coube a um paranaense, o jornalista Roberto Muggiati, autor do melhor ensaio sobre a música popular contemporânea ("Rock - O Grito e o Mito", Edições Vozes, 1973, 119 páginas) sintetizar a questão, já na abertura de seu estudo, respondendo à pergunta: "O que é o rock?". - É a música que nasceu nos primeiros anos da década de 1960 nos Estados Unidos (Bob Dylan) e na Inglaterra (Beatles) feita por jovens exclusivamente para jovens e que a partir de "Sargent Pepper's" (abril 67) ganhou finalmente projeção universal. Muitos o chamam ainda de rock and roll pois o rock atual não existiria sem aquela revolução desencadeada nos anos de 1950 por Elvis Presley, Chuck Berry, Little Richard, Bill Haley, Jerry Lee Lewis e outros que abalaram as estruturas do Establishment com o seu ritmo selvagem. Mais recentemente o rock foi chamado também de música pop, sobretudo na França. Na Itália e no Brasil (onde foi provisoriamente batizado de ié-ié-ié onomatopaico e curioso como grafismo inspirado no refrão das primeiras canções dos Beatles. Mas o uso pejorativo que deram ao rótulo imprensa e autoridades, em suas análises parciais a superfície da "música jovem" fizeram com que o termo caísse de uso. A etiqueta - pop music - não deixa de ser interessante por seu caráter global e principalmente pelo paralelo que sugere com a pop art: ambas, arte pop (imagem) e música pop (som) penetram já no campo da metalinguagem, aspecto que Muggiati também trata em seu lúcido livro. Nos Estados Unidos e na Inglaterra porém o termo pop já era usado anteriormente para designar a canção popular. O parentesco entre a música de Elvis Presley e a dos Beatles acabou consagrando esta palavra compacta de quatro letras, ROCK com suas conotações múltiplas: rocha, balanço, acalanto, embalo. A palavra "rock" engloba na verdade uma variedade de formas musicais que vão desde o berro gutural e a batida primitiva do folclore até os sons eletrônicos mais depurados e abstratos. Como saber então o que é o que não é rock? Talvez seja mais fácil dizer que certas proposições musicais são mais rock do que outras isto é, preenchem um número maior de características básicas (páginas 7/8 obra citada). Em menos de uma década a música pop - ou o ROCK (sem roll) como prefere Muggiati - criou uma nova cultura. Hoje circulam mais de 20 revistas mensais (ou quinzenais especializadas - desde as conhecidas "Rolling Stones" e "Circus" até publicações undergrounds ou revistecas medíocres, espécies de "Amiga do mundo musical" há uma pequena mas vigorosa bibliografia especializada e na Europa e Estados Unidos já surgiram várias enciclopédias ao estilo das "jazz enciclopédias". Por exemplo desde a "Rock Encyclopedia" de Lilian Roxon (1969 Grossent & Dunlap) até a recém editada passando pelo didático "La Pop-Music", dois volumes, de Jean Marie Leduc/Jean Noel Ogouz editado por Albin Michel Roc & Folk em Paris em Julho - agosto de 1973. Em "Rock - O Grito e o Mito". Muggiati cita mais de 100 livros, revistas e artigos o que prova vitalidade deste novo campo musical - hoje já não tão desprezado como no início da década passada e merecendo estudos por parte de quem entende a necessidade de se informar do que acontece no campo da música de nossos dias. No Brasil onde a música chega como reflexo comercial do Exterior com exceção de Muggiati Ezequiel Neves ("Jornal da Tarde"), Tarik de Souza, ("Veja - Opinião", "Pasquim"), Júlio Hungria (ex-"Jornal do Brasil", "Pasquim"), Ana Maria Bahiana ("Alto Falante", "Veja") e mais meia dúzia de jornalistas preocupados em pesquisarem e se informarem musicalmente, pouco se tem falado a respeito da música pop em termos de textos de profundidade. As próprias gravadoras diretamente interessadas neste campo já que editam apressadamente e sem maiores critérios tudo o que chega a alcançar boa vendagem no Exterior não se preocupam em disciplinar as informações no mundo musical o que poderia representar um acréscimo ainda maior nas vendas. Assim quem se interessa pela música pop - principalmente os jovens - restringem suas informações em algumas revistas importadas que chegam irregularmente ao país ou dois ou três críticos que dispõe de maior facilidade de obter informações de publicações estrangeiras. A experiência de lançar a edição brasileira de "Rolling Stone" fracassou e Tarik de Souza planeja a edição de uma revista sobre Música (todos os gêneros) há muito tempo. A Continental e a Odeon editam bons "house organs" - "Curtisom" e "Alto Falante" - que trazem algumas informações mais precisas, embora restritas aos interesses (justos) comerciais destas empresas. No mais, são as informações de "orelhadas", deturpadas nas transmissões oral e que produzem certos "fatóides" como diria Norman Mailer. Por exemplo há algum tempo, nos dizia Orlando Azevedo baterista e líder de "A Chave" - um dos moços que se considera bem informado do mundo pop - de que os quatro integrantes do Pink Floyd eram psicólogos formados, o que não deixa de ser um exagero. E todo mês, pelo menos 20 novos discos de música pop ou rock são colocados nas lojas do Brasil em edições feitas sem critérios em que um álbum da importância de "The Six Wives of Henry VIII" (A&M/Odeon, 2104, setembro-73) - para nós o melhor disco estrangeiro lançado no Brasil em 1973 - tem o mesmo tratamento de um conjunto inexpressivo, sem qualquer criatividade. Tudo isto faz com que se torne difícil aos programadores de rádios e mesmo aos jornalistas que escrevem sobre música, dar uma cobertura mais precisa a este gênero - inflacionado por múltiplas edições e, repetimos, mais uma vez sem critérios. E se nas grandes cidades os jovens interessados conseguem manter-se relativamente informados, no Interior - onde apenas chegam os reflexos - há confusões gritantes. Ainda recentemente, ao sermos convidados para presidir o júri do III Festival Internacional da Canção, em Pato Branco sentimos a preocupação dos jovens do Sudoeste de pequenas cidades onde as vezes nem existem lojas de discos em estarem "por dentro" do que existe de mais sofisticado no som internacional mas sofrendo com isto terríveis deturpações culturais, numa extraordinária confusão que termina em fazer com que acabem não conhecendo nem os mais populares clássicos de nosso cancioneiro e confundirem Terry Winter paulista com Pink Floyd - cujo som experimental evoluído, jamais terá condições de ser programado por exemplo numa rádio que atinge basicamente a área rural como o Celenauta pertencente a uma ordem religiosa em Pato Branco. Acrescenta-se a isto a pequena duração da maioria dos grupos pop, as constantes alterações e evoluções em suas formações e se tem ainda um panorama mais confuso. Assim, quando chega finalmente e no Brasil o lp de um grupo importante como "Focus" provavelmente os participantes daquela gravação já não estão mais trabalhando juntos e partindo para outras formações - experienciais. E o mais importante é que mesmo os grupos menos conhecidos e que por não trazerem nada de importante passam despercebidos conseguem vendagens razoáveis compensando as gravadoras os investimentos e justificando o lançamento de outros e outros ilustres desconhecidos. Todas estas explicações justificam-se pelo fato de num registro jornalístico que fazemos - QUEREMOS LEMBRAR MAIS UMA VEZ - num sentido apenas informativo e não crítico visarmos objetivamente transmitir a leitores espalhados por todo o Interior - em cidade e localidades onde o Estado é o único órgão de imprensa que chega regularmente. Procuramos transmitir alguns dados que muitas vezes orientam a quem se interessa pela música atual. Assim como no Brasil se consome a informação vinda de San Francisco via "Rolling Stone" ou Londres via "Circus" e da GB - São Paulo elas são (re)transmitidas pelos jornais, nos procurarmos fazer chegar a outros pontos do Estado, num sentido profissional de informação. Hoje, aqui iniciamos um rápido registro de lançamentos internacionais na faixa POP (ou Rock) que no período de agosto - dezembro - 73 chegaram as lojas. Estão desde os discos mais importantes - como o de Rick Wackeman - a lps de grupos inexpressivos mas que aqui merecem nossa informação jornalística para orientação a quem interessar possa esteja ele no bairro do Boa Vista ou em Pérola do Oeste. Desde que deseje se ligar a música de hoje em dia. UMA FONOGRAFIA ATUAL Blue (RSQ/Phonogram,... 2394105) A expressão "Blue" de múltiplos significados desde a cor azul até estado de espírito (triste/melancólico) em termos musicais tem origem nos cantos dos escravos negros na pré-história do Jazz. A partir de 1930-35 foi incorporada na música do consumo com um estilo de interpretação dolente (e que poderia grosseiramente, ser comparada no Brasil ao samba-canção música de dor-de-cotovelo, ou mais especificamente, canção de fossa). Posteriormente o Rhythm N'Blues desenvolvido em Memphis Kansas City etc., incorporou-se ao Country e Western evoluindo até a música pop que sem preconceitos sempre soube aceitar todas as (boas) influências. Assim hoje mesmo simpáticos jovens como Muddy Waters, J. L. Hooker e B. B. King são cantores de "blues" mas ao estilo elétrico - diferente dos "Blues" das margens do Mississipi dos anos 10-20. Robusto como designação Blues tem sido utilizado em nomes de muitos grupos de música pop e só o dicionário de Leduc-Ogouz encontramos o Blue Grass, o Blue Cheer, o Bulesbreakers, o Blues Image, o Blues Maggos o Blues Project e o Blue Whale. Quando foi elaborado aquele dicionário um outro trio também designado "Blue" ainda não havia se destacado o suficiente para merecerem um verbete. E assim Hugh Nicholson na guitarra keyboard, Ian MacMillan no contrabaixo e Harmônica e Timmy Donald na percussão todos também vocalistas - só agora aparecem através deste lp distribuído pela Phonogram onde apresentam 12 composições próprias: "Red Light Song", "Look Around", "Someone", "Sunset Regret", "Timi's Black Arrow", "Sitting On A Fence" etc. Nada de especial a destacar neste lp. Talvez Nicholson, MacMillan e Donald brilhem no céu azul mas também correm o risco de melancolicamente desaparecerem no azul escuro do esquecimento do instável público consumidor de música pop. BLACKMORE JOHN (Cash Box/Copacabana, CBLP 11747) - ainda mais obscuro que os rapazes do Blues é este cantor John Blackmore, que a Copacabana lançou em novembro último no Brasil. A única referência a seu respeito é de Jerry Becka (?), em press release distribuído pela gravadora: "A primeira vez que ouvi John Blackmore pensei estar de frente a um Rod Stewart ou a um Sinatra. Talvez seja impossível misturá-los, mas se conseguirmos ouviremos John Blackmore". Apesar do otimismo exagerado de Mr. Becka, deve-se reconhecer em John Blackmore, uma voz doce e até certo ponto agradável. E também é compositor, dividindo com 2 parceiros chamados Duncan e Hadash, a autoria das 10 faixas deste lp de estréia. BLOONTZ (Evolution Records/Copacabana, 35003) - Tendo no Moog (sintetizador de sons) o grande apoio para suas vozes e instrumentos, o grupo Bloontz - Tony Braunugel (bateria, percussão), Andy Chapman (vocais), David Kealey (guitarra), Michael John Montgomery (kayabonau) e Terri Wilson (contrabaixo, guitarra) apresentou 9 faixas de vários autores neste lp gravado no ano passado em Nova York. Sem uma criatividade ao nível de outros conjuntos que souberam aproveitar melhor os recursos eletrônicos, entretanto o Bloontz pode agradar a quem gosta de música estridente e que deve ser ouvida bem alto. (Continuaremos no próximo domingo a esta resenha de música pop).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
21
20/01/1974
pop
cadê o Michael Jackson daí. Ele é o mais importante da música.
Gostaria de saber se esse site possui uma enciclopédia que fala sobre o rock atual rítmo,características etc.. É para um trabalho escolar e eu não consigo encontrar isso em site algum :( e agora preciso que vocês me ajudem! Por Favor...Atenciosamente grata desde já. Abraço.

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