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Aramis

Música sempre dourada

O frio e atração que foi o belíssimo espetáculo de abertura das Olimpíadas, transmitido sábado à noite pela televisão , não prejudicaram a estréia de "Sonho Dourado" provando a fidelidade do público que Toquinho ( Antônio Pecci Filho, 38 anos) soube conquistar em 16 anos de carreira. Um público que quase lotou o auditório Bento Munhoz da Rocha Neto em três sessões - duas no domingo - deste espetáculo que teve aqui sua estréia nacional - e que hoje será levado no ginásio do Sesi, em Florianopolis - chegando a Londrina e Maringá no final de agosto, após percorrer algumas cidades de São Paulo. Antes de temporada de duas semanas no Anhembi, SP, "Sonho Dourado" será apresentado em Buenos Aires, no Luna Park. Sem a sofisticação, mas com extremo bom gosto, "Sonho Dourado" confirma a felicidade no casamento entre os talentos de Toquinho e o diretor Fernando Faro, um sergipano ao qual a música brasileira deve muito pelos excelentes shows, discos, programas de televisão que vem realizando há 20 anos. A exemplo de "Aquarela"(1983), este novo show de Toquinho foi um espetáculo concebido com o senso do equilíbrio de quem construiu, desde o início, uma carreira sólida e honesta, durante onze anos dividida com a energia do eterno Vinícius de Moraes - mas suficientemente talentosa para sobreviver a parceria do Poeta, o que, para muitos, poderia ter sido fatal. Toquinho, violinista em constante evolução ( e num aprendizado que mantém através de um constante contato com o instrumento) e letrista que muito aprendeu com a convivência de Vinícius, é hoje um compositor completo, capaz de criar as mais belas harmonias e desenvolver as palavras perfeitas, exatas e precisas para as letras das canções - como mostra nas faixas deste seu excelente "show e disco ( "Sonho Dourado", Ariola/Barclay), com um punhado de composições novas - nas quais embora haja a parceria italiana de seus bons amigos Maurício Fabrizio e Guido Morra tem a personalidade que sempre caracterizou a sua obra. xxx Produção envolvendo 22 pessoas, num trabalho profissionalmente irrepreensível de Fred Rossi (um dos mais corretos empresários artísticos do Brasil), "Sonho Dourado" foi concebido por Fernando Faro como uma viagem pelos vários tempos musicais de Toquinho, que apesar de sua juventude tem já uma expressiva quilometragem da melhor criação sonora. Assim, através das belas vozes de quatro promissoras vocalista - Fortuna Concilia Rafaella De La Torre, as irmãs Bel (Adalbertina dos Santos Sousa) e Adil (Adilene Dos Santos Sousa), o espetáculo abre com uma seleção de temas afro-brasileiros ( "A Benção Bahia", "Canto de Oxá-Lufam", "Canto de Oxum", "Tamiró") com a entrada de Toquinho no perfeito "Pra Viver Um Grande Amor", música de 1970 e que deu título a um dos melhores discos da parceria com Vinícius. A harmoniosa formação instrumental - Mutinho (Lupiscinio Rodrigues Jr.), companheiro há 10 anos, na bateria; Cláudio Bertrami (do grupo "Medusa") no baixo e dois tecladistas - Luís Lopes e Bozo Barretti (que por 5 anos trabalhou com o londrinense Arrigo Barnabé), é um fator importante para o equilíbrio musical. Mesmo variando anualmente em torno dos músicos convidados, Toquinho mantém fidelidade ao baterista Mutinho (além do mais também um bom compositor e seu parceiro na maioria das faixas do lp "Aquarela"). E a cada novo show, músicos revigorantes e talentosos se acrescentaram num trabalho criativo e inspirado. Vinícius, naturalmente, é uma lembrança muito forte, em vários blocos da melhor parceria: "Tarde em Itapoã", "Escravo da Alegria" e mais um post-pourri de quase 10 minutos; "Vôos da Vida"- do novo disco - entra antecipando a rememoração de dois outros parceiros marcantes: Jorge Bem ( "Que Maravilha", 1967) e Paulo Vanzoline ( "Boca da Noite", 1970). Mas é sobretudo o Toquinho instrumental que arranca aplausos mais entusiásticos ao dividir com o excelente percussionista Papete (José de Ribamar Viana, 1947) , o tema que fez para este músico maranhense - na mesma dimensão de Djalma Correa e Nana Vasconcelos, em termos de domíngo do barimbau. A "Bachianinha", de seu antigo mestre Paulinho Nogueira, renascem num arranjo bem brasileiro e "Barcelona" é um tema novo, homenagem de Toquinho a bela cidade espanhola. Instrumental também é a obra-prima "O Filho Que Eu Quero Ter", acoplada a nova canção - "Ao Que Vai Chegar", prévio canto de ninar ao filho de Toquinho e Mônica, que chegará na próxima primavera. Apaixonado por crianças, ao qual já dedicou três álbuns - os dois volumes de "Arca de Noé" e "Casa de Brinquedos"- Toquinho estabelece uma grande comunicação com a crianças de todas as idades ao obter um espontâneo coro para "A Casa", "O Ar", "Caderno", "A Bicicleta" e "O Pato". Um poético e enternecedor texto de Fernando Faro é dito por Toquinho como introdução a sua nova música, "Sonho Dourado", de imagens belíssimas e que acoplada a "Aquarela", encerra este show suave, enternecedor, profissionalmente irrepreensível. Um espetáculo bonito, que iniciando sua carreira nacional em Curitiba estará até o final de janeiro percorrendo todo o Brasil.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
31/07/1984

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