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Aramis

A música vanguardista do alemão Stockhausen

A música contemporânea, em termos eruditos, é praticamente inédita entre nós. Se mesmo na Europa e Estados Unidos os trabalhos de vanguarda de John Cage, do francês Pierre Boulez ou do polonês Krzystoff Penderecki tem tiragens reduzidas, para platéias especiais, imagine-se qual o público que podem alcançar no Brasil, onde mesmo as mais digestivas gravações de música clássica tradicional não atingem 6 mil cópias? Há quase 20 anos, Maurício Quadrio ousou lançar uma "cantata" de Penderecki, álbum duplo, pela Polygram, que apesar de ser considerada uma obra-prima, não vendeu nem 150 exemplares. Portanto, não deixa de ser admirável a coragem da mesma Polygram em lançar agora um elepê contendo obras de outro mestre da vanguarda - importantíssimo mas conhecido de segmentos muito especiais no Brasil: Karlheinz Stockhausen. Compositor alemão, 60 anos - a serem completados em 1988, aluno de Milhaud e Messiaen (outro mestre da música contemporânea, cuja obra tem sido gravada pela pianista Jocy Camargo, ex-mulher do maestro Eleazar de Carvalho e com ligações curitibanas), a partir de 1953 Stockhausen passou a trabalhar no estúdio de música eletrônica de Colônia. Durante esse período estudou fonética em Bonn, o que influenciou sua composição. Na década de 1950, contribuiu para o desenvolvimento do serialismo total, ampliando-se com a exploração do som eletrônico. Assim, em obras como "Kontrappukte" (1953), "Zeitmasse" (1956) e "Gruppen" (1957), Stockhausen elaborou a composição do grupo e a forma do momento, em que grupos de notas e blocos de sons (em vez de sons individualizados) constituem as unidades composicionais. Em "Kontake" (1960), desenvolveu técnicas de transformação e modulação eletrônicas, que aplicou, mais tarde, a obras ao vivo (1962). Entretanto, sua obra, pela própria especificidade e conhecimentos que exige do público, permanece praticamente restrita a pequenos públicos, mesmo na Europa e Estados Unidos. Por isto, merece estímulo a coragem da Polygram, consciente da limitação do mercado, em editar os "Coros Invisíveis", compostos por Stockhausen em julho/agosto de 1979, gravados em fita de 16 canais com o Coro da Rádio da Alemanha Ocidental (MDR), de Colônia, com regência do próprio autor. No mesmo ano, a 16/10/79, no Jerusalém Theatre, houve a estréia mundial, em versão de quase-concerto de "A Juventude de Michael". Trata-se de uma obra extremamente difícil, com recomendações específicas. Tanto é que na contracapa desta edição da Deutsche Grammophon, vem a informação de que "devem ser tocados como uma fita magnética, independente". Sua duração é de aproximadamente 49 minutos. LEGENDA FOTO - Stockhausen na sala de controle de som do Estúdio 2 da WDR (Rádio da Alemanha Ocidental), de Colônia, em agosto de 1985, preparando as fitas de 8 canais de "Coros Invisíveis", para montagem da ópera "Donnestag Aus Licht" (Quinta Feira de Luz), no Covent Garden, em Londres - que, em três extratos, é agora editado no Brasil pela Polygram. Neste mesmo estúdio, entre 1953/56, Stockhausen produziu os "Estudos Eletrônicos" e "Gesang Der Junglinge" (O Canto dos Adolescentes).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
18
06/03/1988

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