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Aramis

Mussa, o amigo e o profissional

A espontaneidade nas manifestações de solidariedade e apoio que vem recebendo desde que houve o registro de que está sendo processado pelo senador José Richa, comprova um fato simples: poucos profissionais da comunicação merecem tanto respeito e admiração como Mussa José Assis, diretor-redator-chefe de O Estado do Paraná. São manifestações espontâneas, vindas de todos os setores, que repudiam mais esta demonstração de arbitrariedade, prepotência e intolerância de um político que, há alguns anos, era identificado como "exemplo" de liberalidade, encarando em sua postura a figura do homem que poderia representar "novos" (Novos?) tempos da política paranaense. Elegantemente, como é de seu feitio, Mussa José Assis evitou, até agora, qualquer comentário, pessoal, ou mesmo de amigos, abordando um aspecto da questão: o fato de conhecer - e muito bem - José Richa há quase 30 anos. Afinal, desde que começou sua carreira na imprensa, como modesto revisor de O Estado, no início dos anos 60, passando depois para a brava equipe de repórteres da sucursal do Paraná da "Última Hora", a partir de 1962/63, Mussa sempre soube manter uma difícil mas necessária independência em relação aos homens do poder. Na época, a bem da verdade, José Richa não tinha poder nenhum: recém-saído da campanha que levou Ney Braga ao Governo do Estado, interrompendo o período em que o antigo Partido Social Democrático (leia-se Moysés Lupion) dominava a política paranaense, ocupava uma das escrivaninhas na ante-sala do Palácio Iguaçu, como oficial-de-gabinete de Braga. Repórter do setor - (uma das muitas inovações que a "Última Hora" trouxe foi justamente criar repórteres setorizados, junto às áreas oficiais, livrando-se do release oficial) - Mussa fez um trabalho brilhante, cobrindo o dia-a-dia do governador, dando furos que incomodavam o Cúnico, uma espécie de cão-de-guarda palaciano. Houve até pressão sobre a direção da "UH" para afastá-lo do Palácio. Repórter antes de tudo, Mussa - que praticamente estreou na "Última Hora" fazendo uma entrevista de repercussão nacional (localizou e entrevistou em Curitiba a antiga professora de Jânio Quadros, que então assumia a Presidência da República), acabou, naturalmente sendo transferido para São Paulo, onde foi o mais jovem secretário-de-redação da "Última Hora", vivendo um período vibrante, inesquecível e tenso, inclusive nos inflamados dias que se sucederam ao golpe militar de 1º de abril -, que promete rememorar quando tiver tempo, em texto especial - estimulado após a leitura das memórias de seu antigo patrão, Samuel Wainer (1912-1979). xxx De volta a Curitiba, no começo do primeiro semestre de 1965, para reestruturar o Estado do Paraná, Mussa soube fazer uma verdadeira escola de jornalismo. Com antigos colegas da "Última Hora", mas sobretudo estimulando novos profissionais, vem dando, há mais de duas décadas, uma das maiores contribuições à imprensa paranaense. Falo isto com liberdade e sem constrangimento, pois Mussa, entre suas virtudes, odeia o puxa-saquismo, a bajulação e jamais admitiu qualquer promoção pessoal em torno de seu nome e seu trabalho. Quem o conhece - ou ao menos acompanha O Estado do Paraná - sabe disto. Mussa é um profissional que evita a badalação social, os gabinetes oficiais, resguardando-se de qualquer comprometimento pessoal. Uma das muitas lições que com ele aprendi, em termos de jornalismo, é que apesar da necessidade do profissional ter boas fontes de informação, o relacionamento pessoal, íntimo, com detentores - mesmo que eventuais - do poder, compromete o trabalho diário. Um equilíbrio difícil, pois sem fugir dos círculos que ciclicamente ocupam cargos oficiais - e que, portanto, temporariamente são (e fornecem) notícias, também deve ser mantida a distância, possibilitando, portanto, ao profissional da notícia, uma íntegra independência. xxx A questão formula-se então entre o amigo e o profissional. Em seus 27 anos de jornalismo, Mussa - como também este colunista - jamais se filiou a partidos políticos e procurou, tanto quanto possível, manter-se dentro de um trabalho puramente profissional. Amigo dos mais leais e sinceros - daqueles da primeira hora, jamais deixando de estar presente quando necessário, não mistura trabalho e amizade. A independência e a lealdade o fazem um dos profissionais de maior respeito entre todos que o conhecem. Quando há quase 4 anos deixou o Estado do Paraná para implantar o "Correio de Notícias", ali fez um trabalho da mais alta competência, garantindo, como redator-chefe, um veículo atuante, interpretando (e defendendo) a administração peemedebista, já que o jornal pertencia a empresários ligados intimamente ao ex-governador. Mussa foi o profissional, competente, executivo, naquilo que sabe fazer: jornalismo. E, em momento algum, sofreu qualquer restrição do deputado Paulo Pimentel, que sempre o respeitou em sua posição. xxx Dizem os que convivem com Richa que ele é fidelíssimo aos amigos. Tanto é que fez tudo para proteger o seu amigo Erasmo Garanhão no escândalo dos dólares, manteve na área da Cultura, alguns dos mais infelizes e incompetentes homens que fazem parte de seu grupelho e, direta ou indiretamente, acobertou dezenas de pessoas que, pouco a pouco, têm aparecido em manchetes dos jornais, envolvidos em cabeludos escândalos ocorrido na sua administração. Justamente por este período lamentável na história política do Paraná ser agora denunciado é que vem irritando o senador, que, em represália, tem processado - sem sucesso, aliás - várias pessoas. Ao investir contra Mussa José Assis - que o conhece muito bem há quase 30 anos, Richa, - por falta de melhor assessoria - dá mais uma demonstração de prepotência e falta de respeito à imprensa (não custa lembrar, que em seu governo, levou um ex-deputado e empresário, para a Secretaria da Comunicação Social, cargo eticamente privativo de jornalista). Mussa José Assis fica engrandecido com este processo. E a população que há tempos, via em José Richa um político "democrático", defendendo idéias contra a ditadura, conhece agora mais um pouco de sua verdadeira face. Mussa, na verdade, nem precisa de manifestações de solidariedade. Mas elas são centenas, sinceras e espontâneas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
02/03/1988

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