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Na época do vídeo, poeta Emílio ressurge na tela

Durante o XIV Festival de Cinema Brasileiro em Gramado, a partir de segunda-feira, Claudinho Pereira, produtor de tv e animador cultural gaúcho, deve apresentar novidades sobre uma idéia que o vem fascinando nestes últimos meses: o I VideoPô-Sul. Um amostra não competitiva do que vem sendo produzido em termos de vídeo, por realizadores independentes, do Sul do Brasil. E nesta mostra, o Paraná poderá ter uma participação ao menos com um longa-metragem, "A Revolução dos Brasis" de Altenir Silva (hoje, 20h30min, pré-estréia na Cinemateca do Museu Guido Viaro). xxx Mesmo sem contar com uma boa aparelhagem - um modesto VHS e um simples aparelho de televisão quando o ideal seria um telão importado, semelhante ao que Luís Renato Ribas possui no Vídeo Clube - a Cinemateca do Museu Guido Viaro abriu, desde o ano passado, um espaço, aos sábados, para mostras de vídeos. Afinal, esta nova forma de comunicação visual não pode ser desprezada e já há muitos curtas e longas-metragens realizados e a espera de locais para serem mostrados aos interessados. Cláudio Pereira, pensa no VideoPô, em Porto Alegre. O advogado Constantino Viaro, 48 anos, presidente do Clube Curitibano, ex-diretor da Fundação Cultural e que foi, em sua juventude, atuante produtor de cinejornais (Flag Filmes), entusiasmado com o que observou numa de suas viagens a Milão, quer também realizar um grande festival de vídeo em Curitiba. Já houve, inclusive, reuniões para discutir o projeto e a promoção pode alcançar dimensão nacional. xxx Altenir Silva (Bolinha), cineasta e agora entusiasta do vídeo, passou vários meses trabalhando em "A Revolução dos Brasis", uma ficção onírica, com uma linguagem vanguardista e que parte de uma proposta rebelde: Emílio de Menezes, o gordo e satírico poeta curitibano, volta ao Brasil em plena década de oitenta e convoca várias personalidades do meio artístico, pois acha que "o Brasil está muito chato e sem criatividade". A este propósito, em seqüências rodadas em Curitiba, Rio, São Paulo e até Guaratuba, jovens intérpretes - entre profissionais e amadores - revivem personalidades como Oswald e Mário de Andrade (Geraldo Magela Cardoso), Villa-Lobos (Rony Costa Branco), Tarsila do Amaral (Rosana Guimarães), Pagu (Katie Ribeiro), Glauber Rocha (Cido Marques), Guimarães Rosa (Sinval Pinto), Vianinha (Ulisses J.), Leila Diniz (Mara Izidora), Grande Otelo (Ronald Pinheiros) e Oscarito (José Dibax). O gordo, alto e albino Paulo J. Friebe, o ator que tem mais atuado nos filmes de super 8 (e 16mm) realizados pela nova geração de cineastas curitibanos, é Emílio de Menezes. Na linguagem debochada e fragmentada que optou para sua obra - com toques claros do tropicalismo dos anos 60 - Nivaldo incluiu até dois personagens místicos - a Musa da Miséria (Virgínia Leal) e o Conde Del Coca Cola (Giovane Cesconetto). Em participações especiais, ao lado de atores e atrizes como Raquel Rizzo, Toni Miranda e Ana Andruszuk - há uma intervenção do cineasta Carlos Diegues, que pelo visto, gostou do projeto. xxx No início de março, Hamilton Costa Pinto, diretor do setor de TV e vídeo do FestRio, levou uma vigorosa representação da produção brasileira nesta bitola a I Generalitat de Cataluña, na Espanha. Os espanhóis tiveram, assim, a oportunidade de conhecer trabalhos magníficos como "Bagre Cego", de Ricardo Lua (com Hermeto Paschoal e seu grupo, fazendo música nas cavernas do Vale do Ribeira, em São Paulo) e "A César" (sobre o pianista e compositor César Camargo Mariano) de Solano Ribeiro, vencedores na categoria musical no I e II FestRio, respectivamente. Também o político vídeo "Do outro lado da sua casa" (Tucano de Prata na categoria Programa Jornalístico), realizado pelo Olhar Eletrônico (a mais atuante produtora de vídeos independentes) foi mostrado no festival da Cataluña, na qual aconteceram conferências e mesas redondas com personalidades brasileiras e espanholas ligadas à área de vídeo. Um setor novo, que vem se consolidando nesta década, o vídeo já tem uma grande produção, com trabalhos dos mais interessantes - infelizmente ainda pouco divulgados. Depois do pioneiro festival paulista, já caminhando para a 4ª edição, e o ótimo setor de vídeo e tv do FestRio, novos eventos devem multiplicar-se para que os realizadores desta bitola mostrem seus trabalhos. LEGENDA FOTO - O bruxo dos sons, Hermeto Paschoal, numa cena de "Bagre Cego", vídeo de Ricardo Lua, levado à mostra Generalitat, na Cataluña.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
05/04/1986

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