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Aramis

Na guerra dos hamburguers, mudou até o comportamento

Dos tempos pioneiros do velho Amatuzzi e Rudi Blum, primeiros a introduzirem o cachorro-quente na provinciana Curitiba dos anos 30, nos hoje históricos Triângulo e Mignom na Rua XV de Novembro - a industrialização de lanchonetes, que hoje passam de 5 mil na região metropolitana, muita coisa mudou. E, para um observador atento do comportamento urbano eis um tema que pode justificar estudos de profundidade - por que não, até uma tese universitária? Dos mais simples espaços para venda de comestíveis até ambientes sofisticados, com decoração primorosa - como o recém-inaugurado Toffy's, ocupando um privilegiado terreno de 1.500 metros quadrados, na avenida Souza Naves, um fato é inegável: o curitibano está cada vez consumindo maior quantidade de sanduíches. A exemplo do Karina's, Samoa's e Hamburgão, o Toffy's não é mais uma improvisada lanchonete, mas sim um espaço projetado pelo escritório do astuto Washington Fiuza, que mesmo sem ser formado em arquitetura é hoje um multiestadual técnico na área de bolar ambientes para restaurantes, lanchonetes, bares de hotéis etc. - com quase uma centena de obras desenvolvidas em vários Estados e escritórios em São Paulo e Rio de Janeiro (em fase de implantação). Contando com arquitetos experientes - como a jovem Rosa Daledone, 26 anos, da turma de 1981 da Universidade Federal do Paraná, Fiuza tem sido, indiretamente, responsável pela transformação de muitos espaços da cidade, numa arquitetura funcional em que velhas construções podem ser recicladas em ambientes jovens ou sofisticados ou terrenos ociosos acabam tendo um aproveitamento excelente - como aconteceu com o imóvel de Edson Ramon, arrendado por Celso Bronze para a implantação do Toffy's. Proprietário já da Ilha, um terreno privilegiado no Batel e do Samoa's - que introduziu a novidade do flipper-burguer - Celso Bronze é um empresário que procura se transformar numa espécie de Ricardo Amaral dos sanduíches em Curitiba. Só que na guerra do cachorro-quente retorna ao campo de batalha outro empresário que, há 18 anos passados, já inovava na área de alimentos preparados com a cadeia Tipiti - João Paulo de Oliveira Mello, 39 anos, que com a cadeia Juriti do Bico Amarelo promete que desta vez voltou pra ficar. E brigar no paladar dos consumidores curitibanos... Em apenas 90 dias, João Paulo já instalou duas lojas e com cinco carroças de tração humana, vendendo cachorro-quente na madrugada, está em disputa dos melhores pontos com a Au-Au, outra rede de fornecedores e cachorro-quente. Vai implantar também 15 micropontos de vendas, portáteis e aos quais quer somar uma dezena de outras microlojas, "usando todo espaço possível", explica. Com uma filosofia prática, adaptando ao jeito curitibano o que observou em uma dezena de viagens aos Estados Unidos, Oliveira Mello é favorável a um esquema ágil e rápido no fornecimento de alimentos - e para tanto também fazendo pequenos investimentos. Aliás pelo próprio dinamismo do mercado, nenhum empresário do setor arrisca-se a adquirir imóveis, preferindo arrendar, alugar ou mesmo oferecer um percentual aos proprietários de espaços que possam se adaptar ao mercado. xxx A Ilha ocupa uma área privilegiada, numa das zonas mais caras em termos imobiliários da cidade. Na impossibilidade de ali ser construído um grande prédio ou supermercado (como pretendia-se, há alguns anos), o terreno foi transformado numa grande lanchonete, com faturamento tão grande que possibilitou ao sr. Celso Bronze expandir-se para um segundo empreendimento na mesma avenida Batel - o Samoa's e, agora, investir mais alguns milhões no Toffy's - nome de fantasia que deverá ser adotado em suas outras lojas. A freqüência dos drive ou serv-car é basicamente jovem. A imagem do drive escuro e seguro para encontros amorosos - uma espécie de primo de motel - começa a ser modificada por estabelecimentos mais iluminados e com uma freqüência descontraída. Evidentemente, que os drives para namorados e amantes - ao estilo do Agarro's, no Capanema - têm ainda uma freqüência grande, mas a rotatividade dos ambientes mais familiares - por assim dizer - traz lucros maiores, pois mesmo com uma freqüência jovem (e que tem suas limitações financeiras), o faturamento é elevado. xxx Se os drives atingem a faixa de público que dispõe de veículos próprios, as lanchonetes centrais, que buscam também o público jovem mas que não precisa ser, obrigatoriamente, motorizado, também apresenta resultados excelentes. É o caso do Frisco's - outra lanchonete na linha do burguer-flipper, que funcionando até as 2 horas da manhã de segunda a sexta-feira e cruzando a noite nos fins de semana, tem uma faixa expressiva dos jovens em busca de alimentos rápidos e relativamente econômicos. Uma das características de alguns drives, especialmente localizados em bairros é de se transformarem em espontâneos e naturais pontos de encontro da juventude. Isto aconteceu no Black Burguer, no bairro do Boqueirão - consolidado em poucas semanas, e no Hamburgão, no Cabral - para só citar dois exemplos. Numa cidade ainda carente de pontos de lazer, os drives tornam-se naturais opções para o início - ou fim - dos embalos não só dos sábados, mas, de certa forma, em outras noites da semana.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
22/10/1986

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