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Na mostra do vídeo, até Hiram fez o seu "marketing" político

Rio de Janeiro - O publicitário Hiram Pessoa de Mello é, pelo visto, o único paranaense que está aproveitando a mostra de vídeo que se realiza no 2º andar do palácio das convenções do Hotel Nacional, para fazer a sua badalação. Não que Hiran esteja concorrendo com algum trabalho, mas é que cartazes anunciando-o corno vencedor do "Prêmio de Marketing Político" como coordenador da campanha que deu 70% dos votos válidos para a eleição de Álvaro Dias, há um ano, e chamando para sua palestra, "com exibição de vídeos", no auditório 91 da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, às 19 horas do próximo mo dia 30 de novembro. Os cartazes estão espalhados por todas as partes na luta pelo espaço que centenas de realizadores de vídeos tem para divulgar seus vídeos, em disputa ou apenas simples exibição. É curioso que apenas uma palestra do publicitário Hiram Pessoa de Mello com apresentação de vídeo, num evento que não tem nada a ver com o FestRio, seja a única referência, ao menos promocional, do Paraná nesta mostra que traz produções em vídeo de vários Estados. Entre mais de cem horas de programas de televisão e vídeos, há produções (independentes ou não) de vários Estados do Brasil, mas o Paraná está ausente. Será que não houve nenhum concorrente interessado ou condições de classificação? Na correria dos três primeiros dias ainda não foi possível descobrir a razão, já que Hamilton Costa Pinto, coordenador do setor de vídeo, é, como os outros executivos do FestRio, ocupadíssimo e difícil de ser localizado. O vídeo de Arthur - Só a exibição dos vídeos, em três cabines - com acesso gratuito ao público - já ocuparia todo o tempo de quem se interessa pelo que se produz no Brasil e no mundo. São dezenas de vídeos dos mais interessantes que trazem uma amostragem do que esta nova tecnologia permite. Por exemplo, na noite de sábado, foi apresentado o mais badalado e aguardado vídeo do FestRio: "Steps", do polonês (radicado nos EUA) Zbignew Rybczynski, urna curtição bem humorada desenvolvida com atores e atrizes tendo como back-projection a mais famosa seqüência do clássico "O Encouraçado Potenkim"; com incrível habilidade e recursos técnicos notáveis, o tape mistura cenas do filme que o russo Serge Eisenstein (1898-1948) realizou em 1925 - justamente a seqüência do massacre da escadaria de Odessa, por coincidência também referenciada por Brian De Palma em "Os Intocáveis" (1987, em exibição no cine Condor). Só que em "Os Intocáveis", Brian usou a idéia da escadaria e do carrinho de bebê caindo pela escadaria, enquanto que o polonês Rybczynski criou todo um clima com a seqüência real, uma sátira a Lenin e aos próprios atores - atrizes - como um bando de turistas "dentro" daquele momento. Um tape marcante, emoldurado justamente com uma trilha sonora extremamente criativa desenvolvida pelo músico polonês (radicado nos EUA) Michael Urbaniak, aliás amigo pessoal de Airto Moreira - com quem já dividiu algumas gravações. Falar dos vídeos mostrados no FestRio exigiria um espaço imenso, pois cada um tem seu significado. Por exemplo, também no sábado, foi mostrado "La Drôlo de Queneaue", realizado por Nelson Pereira dos Santos como parte do acordo de cooperação cultural Brasil-França. Outro vídeo interessantíssimo foi "Santa Marta: Duas Semanas no Morro", que na sexta-feira lotou a Sala 1. Realização de Eduardo Coutinho (vencedor do primeiro FestRio, em 84, com "Cabra Marcado para Morrer"), também é mais uma demonstração de como o vídeo pode trazer uma contribuição social. O vídeo de Arthur Em termos de inovação, a grande expectativa brasileira foi em torno de "O Nervo de Prata", de Arthur Omar. Mineiro de Poços de Caldas, 39 anos, realizador de trabalhos de vanguarda como o longa "Tristes Trópicos" e curtas como "O Som", "Congo", "Tesouros da Juventude", "Música Barroca Mineira", "Voceis" entre outros, Arthur Omar foi quem, no ano passado, ao lado do cineasta Edson Frederico, teve a coragem de vaiar "O Cinema Falado", de Caetano Velloso, na primeira exibição pública hors-concours no III FestRio - abrindo polêmica em torno da suposta vanguarda do filme do compositor baiano. Arthur Omar orgulha-se de ser há mais de dez anos um cineasta de vanguarda. Por isto mesmo, fora dos circuitos especiais, poucos conhecem seus trabalhos inquietos, polêmicos e de difícil assimilação. Nem por isto, deixa de realizar filmes - tem agora dois curtas-metragens a véspera de lançamento, um sobre a violência urbana ("Ressurreição", ex - "Marcado Para Morrer") e outro sobre o detetive Jamil Warwar, que investigou o caso Cláudia Lessim ("O Inspetor", ex-"O Enigma de Brecht"). Atualmente, prepara um novo longa-metragem, co-produção argelino-franco-brasileira com o título (provisório) de "Haxixe em Marselha". Em vídeo realizou "Nervo de Prata", desenvolvido a partir das esculturas do artista Tunga. Segundo Arthur: "o universo insólito e paradoxal do artista plástico - famoso relativamente em algumas rodas no Rio, mas desconhecido nacionalmente - se combina e se transmuta em cinema vertiginoso e fortemente experimental. Diz Arthur: - Um vídeo bem humorado, mesclando emoções arcaicas a um leve sentimentalismo hig-tech. Em "O Nervo de Prata", o espectador é atirado no interior de um túnel sem começo nem fim, onde cenas nada comuns vão se encadeando. Gêmeas xifópagas ligadas pelos cabelos, serpentes que formam tranças, touros, cabeleiras de chumbo e cobre, sapos devorados por cobras, ossos que se curvam, cérebros diminutos roubados como carteiras, um dentista misterioso, tacapes, imãs e sedas. Interpretado pelo ator Paulo César Pereio, atleta Jacqueline e atriz Julita Sampaio, "Nervo de Aço" não é trabalho para ser visto na televisão - ao menos nas cadeias comerciais - mas a exemplo de tantos outros aqui em exibição, poderá, eventualmente, ser levado aos Estados, desde que se organize eventos específicos para mostrar vídeos independentes. Material não falta! LEGENDA FOTO: Arthur Omar, cineasta de vanguarda, traz um vídeo inquieto na mostra do FestRio
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
26/11/1987

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