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Aramis

Na tese de Coutinho um outro lado de Gilberto

Cunhado do desembargador Heliantho Camargo, presidente do Tribunal de Justiça do Estado e com raízes curitibanas - aqui passou sua adolescência, o jornalista e escritor - Ediberto Coutinho guarda preciosas recordações dos anos em que era o locutor do Clube Juvenil M-5, da Rádio Guairacá, então dirigida por Aluísio Finzeto. Intelectual ativo, presente em muitas frentes de trabalho, Edilberto não pára: seus livros de contos tem colecionado prêmios e há poucos dias defendeu sua tese de doutorado na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro: "A Ficção do real em Gilberto Freire". Neste seu novo trabalho universitário, Coutinho analisa o método de Freyre em tratar sempre imaginativamente o fato histórico. - A história que ele escreveu nunca foi um simples relato convencional dos acontecimentos. Constituiu-se, antes, numa interpretação, a seu modo poética, e até romanesca, da nacionalidade brasileira. Romanesca, no sentido em que Balzac e os irmãos Goucourt falam da "história íntima" dos povos como um verdadeiro romance. Por isso, Gilberto Freyre - a partir de seu clássico "Casa Grande & Senzala", tem sido comparado aos criadores dos maiores monumentos literários da humanidade, como "A Comédia Humana", "Guerra e Paz" e "Em Busca do Tempo Perdido". Mostra Coutinho que Gilberto Freyre em suas denominadas seminovelas - ou seja, nos livros "Dona Sinhá e Filho Padre" e "O Outro Amor do Doutor Paulo" - faz o histórico, a todo momento, penetrar o campo da estória, criando-se assim um produto necessariamente "híbrido" - casamento de gêneros "normais" das seminovelas - que é considerado como veículo de realização ideal para um autor que se proclama essencialmente "misto". Em seu estudo - primeira crítica universitária que se faz sobre a ficção de Freyre - Coutinho surpreende, nos textos dispersos do autor de "Casa Grande e Senzala", como crítico literário, uma espécie de teorização pré-existente ao seu projeto de "seminovelista", e que viria a ser por ele aplicada nos livros "Dona Sinhá e o Filho Padre" e "O Outro Amor do Doutor Paulo". O levantamento do corpus literário gilbertiano permitiu, ainda, a Ediberto Coutinho, constatar que, como ficcionista, Freyre continua a tratar sempre imaginativamente o fato real. Ao mesmo tempo, o autor de "A ficção do real em Gilberto Freyre", pôde apontar uma brecha "nos excelentes estudos anteriores" analisando, pela primeira vez as "seminovelas" do ponto de vista da "construção e abismo". xxx Falando em ficção e o real, uma experiência inédita foi feita por Silvinho Santiago, mineiro, 45 anos, em seu livro "Em Liberdade" (Paz & Terra, 235 páginas, Cr$ 480,00). Formado em letras neolatinas e com doutorado em várias universidades americanas, Silviano resolveu inventar um possível diário que Graciliano Ramos (189201953) teria escrito ao sair da prisão. Para tal, durante cinco anos, familiarizou-se com a obra do romancista alagoano, pesquisou em livros, jornais e revistas da época, consultou álbuns fotográficos e guias de ruas da cidade, com o intuito de dar maior autenticidade à narrativa. Sua intenção mestra foi a de escrever uma história do movimento modernista de 22 através do cotidiano dos seus principais autores, durante um momento de crise na sociedade brasileira. Como pano de fundo para a vivência de Graciliano, tem-se a perseguição aos comunistas de 35, o fortalecimento das forças integralistas e a sede de poder de Getúlio Vargas. A primeira parte de "Em Liberdade" passa-se na residência do romancista José Lins do Rego que, gentilmente, acolheu o colega de letras. Ao cabo de um mês, o autor de "Angústia" transfere-se para uma pensão no Catete, onde pensa escrever um romance provando que o poeta Cláudio Manuel da Costa não teria se suicidado. A originalidade da concepção romanesca, a atualidade do debate sobre os condenados políticos, o vasto panorama da época feito sem a linguagem convencional da história tornam "Em Liberdade" um livro original e interessante. Falando em obras documentais, saiu agora "Ainda é Tempo de Viver", de Roger Garaudy (Nova Fronteira, 228 páginas, Cr$ 550,00) - Garaudy, 68 anos, nome dos mais marcantes do pensamento francês, propõe neste seu novo livro algumas questões importantes: "como sair da crise econômica e do desemprego?", "Como construir uma nova democracia?". Em sua obra anterior, "Apelo aos Vivos", Garaudy propunha perguntas e levantava dúvidas a respeito das contradições do mundo contemporâneo. Agora, neste livro-programa, concreto e imediato de vida, o filósofo francês procura encaminhas respostas objetivas sobre as principais questões de nossa época: Ao mesmo tempo, Garaudy desmistifica os interesses dos grupos econômico responsáveis pela desumanização de um progresso que só beneficia a eles próprios. xxx Ao mesmo tempo que o jornalista Alberto Dines publica uma original biografia do escritor Stefan Zweig (1881-1942), a Nova Fronteira está reeditando sua obra: em novembro saiu "Maria Antonieta" e agora foi para as livrarias o "Brasil, País do Futuro" (236 páginas, Cr$ 550,00). Quando chegou ao Brasil, em 1939, para uma rápida viagem a convite de Vargas, o escritor austríaco Zweig encantou-se com o Brasil que e a ele dedicaria esta obra, lançada em 1941, na Europa e que, posteriormente traduzida para seis idiomas, projetou internacionalmente o nosso País - e o título, ficou como uma adjetivação até certo ponto irônica. xxx Uma pausa para a (boa) ficção: Lígia Fagundes Telles reuniu em "Ministérios" (Nova Fronteira, 224 páginas, Cr$ 550,00), contos onde libera as formas mais definitivas de sua força dramática e de sua imaginação. Há um entrelaçamento de realidade com fantasia. No primeiro efeito aparecem questões como a censura, a repressão e o "milagre brasileiro" e no efeito fantástico estão presentes, as fantasias secretas, diurnas e noturnas, os estados perfeitos do autor e da inocência.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
25/12/1981

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