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Aramis

Não perca pelo título esta divertida comédia

Um dos aspectos mais divertidos do folclore cinematográfico é o que se refere aos títulos que os filmes estrangeiros recebem no Brasil. Desde os anos 20, quando a indústria cinematográfica americana começou a fazer seus produtores chegarem até nós têm sido cometidos verdadeiros atentados em termos de "adaptar" os títulos originais para que haja um "interesse" do público. Pérolas da imbecilidade são freqüentes e a mais recente delas é a que a United International Pictures, no Rio de Janeiro, deu a "Parenthood": O TIRO QUE NÃO SAIU PELA CULATRA. Se a simples tradução - "Parentesco" - poderia, no entendimento do gênio de marketing (sic) que bolou este estapafúrdio título não atrair o público, o que pode significar "O Tiro que não saiu pela Culatra"? Resultado: com um desastre title como este não é de se estranhar que poucos espectadores tenham se animado a verificar o filme que, em lançamento praticamente nacional, está em exibição no Lido I, em 5 sessões. O que é uma pena! "Parenthood" é uma deliciosa comédia sobre o american way of life, com alguns momentos dignos mesmo de um Woody Allen e que mostra mais uma faceta do talento de Ron Howard. Aos 2 anos, em 1956, o ainda bebê Howard aparecia na comédia "Frontier Woman" e, em 1959, era uma das crianças que estava com a família fugindo da URSS (tempos de Guerra Fria!) em "Crepúsculo Vermelho" (The Journey, de Anatole Litvak, com os falecidos Ingrid Bergman e Yul Brynner). Sua carreira de ator continuou até 1979 ("E a Festa Acabou/More American Graffiti", de B. W. L. Morton), passando por musicais ("Vendedor de Ilusões/The Music Man", 62), comédias de Vincent Minelli ("Papai Precisa Casar", 63), westerns ("Cidade dos Gigantes", "O Último Pistoleiro" etc.). Pelo visto, Howard aprendeu bastante, pois estreando como diretor em "Grand Thet Auto" (76), deslancharia em filmes para a televisão até emplacar seu primeiro êxito de público: "Splah, uma sereia em minha vida" (1984), ao qual se seguiram "Cocoon", "Fábrica de Loucuras" (uma sátira a concorrência japonesa no mercado americano) e a superprodução "Willow" (88). Dentro de uma familiaridade com filmes tamanho família, Howard decidiu em "Parenthood" - um razoável êxito dos EUA - abordar de forma sutil, um tema perigoso: relações familiares. A partir de entrechoques culturais de pais e filhos de uma mesma família, Howard, com mão leve, consegue esvoaçar entre conflitos, que embora partindo de um ambiente estritamente americano, alcançam uma universalidade contemporânea. Assim é que Gil (Steve Martin, como sempre uma atuação correta) é um pai superprotetor, buscando de qualquer maneira, fazer com que seu primogênito, Tod (Keanu Reeves) vença uma timidez que o distancia de seus colegas e mesmo dos irmãos. A irmã de Gil, a divorciada Helen (Dianne Wiest, indicada ao Oscar de melhor coadjuvante por esta atuação) tem problemas maiores: sua filha adolescente, Julie (Martha Plimpton), após transas com o namorado acaba casando-se em segredo, enquanto o filho Gary (Leaf Phoenix), 13 anos, raramente se digna a dirigir a palavra a qualquer pessoa. Uma outra irmã de Gil, Susan (Harley Kozak), vive a beira de um colapso pela mania de seu marido, Nathan (Rick Moranis), em querer transformar a única filha do casal, Patty (Ivyan Schwan, um bebê encantador) num minigênio aos 2 anos de idade. O quarto irmão, Larry (Tom Hulce), após andanças pelo mundo, reaparece com um filho e perseguido por gangsters - obrigando o pai, Frank (Jason Robbards), a gastar suas economias para salvá-lo da morte. Neste universo de confusões familiares, discussões e separações, o roteiro de Babaloo Mandel e Lowel Ganz consegue ser primoroso: há um encadeamento seguro nas seqüências e a leveza na direção de Ron Howard possibilita que as situações aparentemente dramáticas deslizem agradavelmente - para um happy end que apesar de dar a impressão de que os 95 minutos do filme não passaram de um imenso vídeo-clip em favor das vantagens da maternidade, faça o espectador deixar feliz a sala de exibição. Ainda mais porque a trilha sonora de Randy Newman é excelente e, merecidamente, a canção-tema - "I Love To See You Smile" - está entre as cinco indicadas ao Oscar-90. (Fazia tempo que não aparecia uma bela canção para disputar o dourado titio Oscar!).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
07/03/1990

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