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Aramis

Nas vozes originais, os tempos pioneiros

O professor Roquete Pinto na parte do depoimento aproveitado no programa da BBC conta que em setembro de 1922 muito pouca gente se interessou pelas demonstrações de radiotelefonia, ao visitar a exposição na Esplanada do Castelo. Os alto-falantes - que faziam a ampliação - distorciam tudo e arranhavam os ouvidos. Poderia parecer apenas "uma curiosidade sem maiores conseqüências". Ao microfone de rádio, na estação instalada no Sumaré, a primeira voz que se ouviu foi do presidente da República, Epitácio Pessoa (1869-1942). Roquete Pinto, entretanto, acreditou no rádio e, graças ao seu espírito de liderança, seria criada a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, primeira emissora do Brasil. xxx Num belíssimo trabalho de pesquisa, Saroldi mostra também o pioneirismo do padre gaúcho Roberto Landel de Moura, (Moji das Cruzes, RS-1861 - P. Alegre, 1928), que muitos anos antes já havia feito as primeiras experiências de radiofonia, e apesar de ter patenteado, em 1901, seu invento, não teve, entretanto, o reconhecimento, já que o desenvolvimento das transmissões pelo ar, nas chamadas ondas Hertzianas, teve outros padrinhos. A documentação para a montagem dos programas da BBC - foi preciosa, buscando depoimentos de cantores, animadores, locutores, produtores, humoristas, jornalistas, pesquisadores, enfim de todos aqueles que, numa época em que inexistia televisão, o rádio era o grande veículo da comunicação imediata em todo o país. Chega a ser emocionante ouvir as vozes de Cesar Ladeira, Mário Reis, Marília Batista, Celso Guimarães, Aurélio de Andrade, entre outros, no programa "A Formação de Quadros", que abrange os períodos de estruturação do rádio. A importância do esporte e jornalismo, na rádio, mereceu toda uma programação especial - desde as transmissões apaixonadíssimas de Ary Barroso (tão fanático pelo seu "Flamengo", que o Vasco proibiu o ingresso do locutor no seu estádio), até a voz de Herom Domingues, anunciando o Repórter Esso, que seria, por mais de 20 anos, a imagem da credibilidade na informação radiofônica. xxx Para quem não viveu nos anos do rádio - especialmente entre as décadas de 40/50 - não pode aquilatar a sua influência em todo o Brasil. A Rádio Nacional, em si, como a maior emissora do país - correspondendo hoje ao que é uma rede nacional de televisão (Globo, SBT), mantendo numa certa época 16 maestros, três orquestras e centenas de contratados - entre radioatores, cantores, técnicos, produtores etc., em si tem uma história imensa, que é destacada por vários dos depoentes na série de programas da BBC. Já a Collector's dedicou 10 dos seus últimos volumes da série "Assim era o Rádio", para sintetizar o que foram seus 40 anos de existência - 30 dos quais, como campeã de audiência, orçamento milionário (embora pertencente ao governo, funcionava de forma autônoma, o que lhe permitiu o grande desenvolvimento), e principalmente, uma usina de criatividade em termos de produções ao vivo, que atingiram todas as partes do Brasil.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
30/06/1990

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