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Aramis

Neste feriadão, Peggy Sue é melhor programa

O feriadão apenas vai fazer com que aumentem as filas dos cinemas que estão exibindo os filmes "Oscarizados" - cujas rendas provam de quanto vale o boneco dourado em termos de marketing. Mesmo com "A Missão" deixando o Itália para ali estrear o violento "Falcão - O Campeão dos Campeões" (Over The Top), de Menahem Golan (também em exibição no Palace Itália) e o belíssimo "Uma Janela Para O Amor" (A Room With A View) passando para o Cinema I (a partir do dia 21), a temporada dos filmes impulsionados pelo Oscar prossegue: "Platoon" continua formando filas ao redor do quarteirão do Plaza, e no Astor, a partir de hoje, estréia o emocionante e belo "Peggy Sue - Seu Passado A Espera", de Francis Ford Coppola que valeu a Katheleen Turner a indicação do Oscar de melhor atriz - perdendo para Marlee Matlin, por "Filhos Do Silêncio", de Randa Haines (que continua no Condor). Nesta Semana Santa não poderiam também faltar os filmes de fundo religioso. Assim como na televisão são programadas as velhas produções de inspiração bíblica, também a "kitsch" mais simpática versão da "Paixão De Cristo" que os "Irmãos Coragem" - Jorge e Ariosto Santos - desenterram anualmente, estará em projeção no Morgenau, nos dias 16 e 17. Só que este ano, em programa duplo com "Tarzan, O Homem Macaco", numa versão autêntica, com o legítimo Johnny Weissmuller. O ecumenismo não poderia ser melhor: Cristianismo e a teoria evolucionista num cinema que, normalmente, exibe cascatas de orgasmo em suas telas... O Scala também dá uma folga à pornografia para exibir nesta Quinta e Sexta-Feira Santa, uma versão de "Jesus De Nazaré", falado em português, sem maiores informações. Sábado, retorna a programação específica: "Animais Do Sexo Explícito" e "Shao Lin Contra Os Bravos Do Kung Fu". Curioso, no mínimo, este marketing cinematográfico: os dois cinemas que têm a programação mais pornográfica da cidade, anualmente fazem uma interrupção para, respeitosamente, exibirem filmes religiosos. E com bom público, garante João Aracheski, diretor da Fama Filmes. ANDRÉA, A ERÓTICA - A programação do Cine Glória é tão pornográfica que nem sequer registramos em nossos espaços, já que se destina a um público específico. Entretanto, nesta semana, João Aracheski decidiu tirar o explícito da sensualidade do Glória e ali programar uma comédia francesa, erótica e excitante mas, ao que consta, de bom gosto: "Andréa", produção francesa, roteiro e direção de Henri Glaeser, com Odette Laurent, Marie-Christine Descouard, Jack Zolty e Jean-Mar Dupuice. Rodada em vários países, com cenas de sexo, é claro, mas ao menos tendo distribuição (Warner) e elenco definido. Em complemento, a reprise de uma violência explícita: "Stallone Cobra", de George Pan Cosmatos, com Sylvester Stallone, Brigitte Nielsen (a mulher de Rambo), Reni Santoni e Andrew Robinson. O Morgenau, a partir de sábado, reprisa um ingênuo e simpático country tupiniquim: "O Menino Da Porteira", com Sérgio Reis e Joffre Soares, direção de Jeremias Moreira Filho, que posteriormente realizaria outro bom filme com Reis: "Mágoas Do Boiadeiro". AS BOAS OPÇÕES - Opções de qualidade não faltam para quem ainda prefere a tela larga do que a imbecilizante limitação do vídeo-tape. Por exemplo, o belíssimo "Ginger E Fred", de Frederico Fellini, com Marcelo Mastroianni e Giulietta Massina, emociona a todos que sabem reconhecer a beleza do universo do mestre italiano (Ritz, 4 sessões). Outro mestre, o japonês Akira Kurosawa, pode ser apreciado num dos momentos de maior inspiração em "Dersu Uzala", 1975 - Oscar de melhor filme estrangeiro - com uma clara mensagem ecológica. Desta vez, Toshiro Mifune não está no elenco: foi substituído por Maksin Munzuk, ao lado de Yuri Salomi e Koreshikov - artistas soviéticos, já que esta foi uma co-produção com a Rússia. A história se passa numa zona agreste da Rússia, onde, em 1902, um destacamento comandado pelo capitão Vladimir Arsenyev (Salomi) encontra um velho caçador, Dersu Uzala (Munzuk), que se torna o guia do grupo. Nasce entre ele e o capitão uma grande amizade. O filme tem muito simbolismo, belíssima fotografia (de três profissionais: Asakazu Nakai, Yuri Gantman e Fyodor Dobronravov), montagem perfeita (Kurosawa/Stepanovi) e, revisto hoje, traz ainda maior emoção do que há dez anos passados, quando chegou em nossas telas. Outro filme que ganhou com o tempo e se tornou ainda mais atual é "Danton", do polonês Andrz Wajda. Filmado em 1982, prêmio Louis Delluc de 1983, este filme mostrando os conflitos entre Danton e Robespierre, no período mais dramático da Revolução Francesa, tem uma imensa atualidade, conforme registramos em comentário publicado na quarta-feira ("Tablóide", segundo caderno). Em terceira semana, no Cine Luz, merece ser visto. "Peggy Sue - Seu Passado A Espera" (Peggy Sue Got Married), penúltimo filme de Francis Ford Coppola - registrado com detalhes na semana passada - é um filme suave, profundo e enternecedor. Embora lembre, a princípio, "De Volta Para O Futuro", tem uma estrutura própria e bem mais adulta do que a produção de Spielberg. Coppola faz com que a viagem de Peggy Sue (Kathellen Turner, excelente) ao passado, seja um reflexo do sublimado e hipotético desejo de tantos quarentões: uma volta à juventude com a experiência da maturidade. Um filme para muitas interpretações, belíssima trilha sonora e ótimo elenco de apoio - inclusive um Nicholas Cage totalmente diferente do garotão que Alan Parker lançou em "Asas Da Liberdade". No Groff não haverá sessão da meia-noite. Em compensação, no Astor, sábado, uma sessão de arrepiar, com a reprise de "A Hora Do Espanto" (Fright Night), de Tom Holand, com Chris Sarandon. LEGENDA FOTO - Odette Laurent e Marie-Christine Descouard em "Andéa", comédia erótica em exibição no Glória.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
16/04/1987

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