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Aramis

Nicolau: os "rebeldes" também falam

Todo o respeito por vossas opiniões! Mas pequenas ações divergentes valem mais. Nietzsche Em resposta à carta do Secretário da Cultura do Paraná, Sr. René Ariel Dotti (publicada no "Almanaque" de O Estado do Paraná em 29 de setembro de 1989), a respeito do afastamento da equipe do periódico "Nicolau", temos alguns esclarecimentos a fazer. Em primeiro lugar, acreditamos que não é preciso ter registro em carteira de trabalho para se ter idéias, opiniões e posicionamento intelectual-ético-estético. Portanto, toda a equipe tomou essa decisão em conjunto, solidária ao arbitrário afastamento do diretor de arte, Luiz Antonio Guinski, da editoria de "Nicolau". Quanto à questão do Conselho Editorial (que merece todo nosso respeito por não ter sido informado do posicionamento da equipe), queremos deixar claras nossas restrições. O Sr. Secretário coloca em sua carta que "não apenas rejeitamos a pauta como a tratamos com ironia". Por bem da verdade, diga-se que, após a reunião do Conselho Editorial na qual foi aprovada a pauta para o número de setembro de "Nicolau", perguntamos ao editor, Wilson Bueno, se o referido Conselho lera o material apresentado para aprová-lo. O editor nos respondeu que não, o que era textual pautado em apenas uma reunião. Diante dessa resposta, realmente colocamos nossa insatisfação, pois não era esse o procedimento da equipe, que sempre analisou atentamente os textos a serem publicados. Como se pode aprovar matérias que serão lidas por aproximadamente 300 mil pessoas sem um exame cuidadoso? Quanto à afirmação de que teríamos rejeitado a pauta, isso seria impossível, pois deixamos de ter voz ativa no que se refere a qualquer decisão. Outro ponto importante a salientar é a maneira como foi instituído o Conselho Editorial. Em reunião do Conselho Estadual de Cultura feita em sete de agosto último, ao ser colocada a questão da criação de um conselho para o jornal, o próprio editor afirmou, literalmente (como consta da ata da reunião), que "o jornal é dirigido não apenas por uma pessoa, e sim por uma equipe", e que "um conselho editorial não poderia ser constituído por pessoas alheias ao jornal, que não participassem da vivência diária e da dinâmica que o envolve". Os conselheiros presentes resolveram, então acatar a sugestão do conselheiro Waldir D'Angelis, de que fosse possibilitado o acesso de sugestões ao jornal. Ao informarmos o Conselho Estadual de que este procedimento já fora adotado pelo jornal há vários meses (vide Seção de Cartas), o Sr. Secretário sugeriu que "no expediente do jornal fosse impresso com destaque o anúncio para recebimento de sugestões e colaborações". Como todos concordaram com a solução encontrada, foi encerrado o assunto, conforme consta da ata da referida reunião. (Como se pode constatar agora, o editor mudou de opinião). É lógico, então, que ficamos surpresos com a súbita comunicação da criação de um Conselho Editorial, decisão tomada sem consulta ao próprio editor, que se encontrava ausente há dias. Voltamos ao trabalho, e após alguns dias o diretor de arte, Guinski, recebeu repentinamente, sem qualquer aviso, a comunicação oficial de seu remanejamento. Pedimos ao editor que nos explicasse esse estranho acontecimento, e ele respondeu-nos não estar a par dos motivos, e que devia se tratar de algo pessoal. Em respeito ao profissional Guinski, tentamos esclarecer o fato com o Sr. Secretário, que não nos recebeu. A nosso pedido, o editor levou ao Gabinete nossa perplexidade, e a impossibilidade ética e humana de compactuarmos com esse ato arbitrário. A resposta trazida pelo editor foi a seguinte: que todos saiam, se quiserem. Quanto a outra colocação do Sr. Secretário, relativa à "série de tentativas feitas pessoalmente, a fim de compatibilizar o progresso editorial do jornal com as riquezas temáticas do nosso Estado e do país, sem os confinamentos e preconceitos ditados por um grupo peculiar, a começar por seu número: duas pessoas", informamos que acatamos várias das sugestões lançadas, não só pelo Conselho Estadual, como por intelectuais, políticos, poetas, pesquisadores, estudantes e outros. Disso é testemunha o editor do jornal. Afinal, ele não trabalhou conosco durante dois anos e meio? Sempre existiu um conselho consultivo informal, e aí podem dar sua palavra todos os colaboradores e leitores que se dirigiram à equipe com sugestões, textos, aportes. E de maneira alguma fomos, como sugere o Sr. Secretário em sua carta, "carcereiros da sensibilidade, da imaginação e da inteligência de aproximadamente 300 mil pessoas", como o conselho recém-instituído também não o será, qualquer que seja a linha editorial que adote. E a respeito do pequeno texto que acompanha a carta do Sr. Secretário, intitulado "Agora, enfim, a cultura popular", perguntamos: o que é "cultura popular"? Essa é uma discussão longa, que seria leviano abordar aqui, mas que toca no âmago do problema de se produzir, estimular e divulgar cultura neste país. Que tal todos pensarem a fundo sobre isso? (Curiosamente, é o próprio Sr. Secretário da Cultura quem diz, no "Mosaico" de "Nicolau" 26: "Já é um truísmo a afirmação de que não se combate a crise com a marginalização da inteligência. Nenhum Estado será forte e nenhuma sociedade poderá alcançar marcas avançadas na história da humanidade se não forem inflamados pela "bendita loucura" do espírito criador que revoluciona a ciência, as letras e as artes"). Já dizia Maiakóvski que sem forma revolucionária não há arte revolucionária. Isso não á novidade, sem ousadia não se sai da previsibilidade nem se inventa nada. Vamos deixar, pois, que os próximos números de "Nicolau" nos ensinem, enfim, o que é cultura popular. E pra não nos acusarem de elitistas por citarmos o grande filósofo alemão Nietzsche e o genial poeta russo Maiakóvski, vamos finalizar com a sabedoria dos anônimos provérbios populares: "Cada dia tem seu cuidado, mas cada cuidado tem seu dia". "Não há nada como um dia após o outro". "Na boca do discreto, o público é secreto". "Chia um carro, ou falo eu?" "A lima lima a lima". Assinam: Josely Vianna Baptista, Rodrigo Garcia Lopes, Luiz Antonio Guinski, Iara Rossini, Rita Brandt, Amilton de Oliveira, Lilian Rothert e Eron L. da Cruz.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
05/10/1989

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