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Aramis

No campo de batalha

Na mesma semana em que a cidade perdeu um dos mais tradicionais restaurantes de comida italiana - o Tutto Massa, no térreo do Edifício Asa - Fabrizio Passeri, 26 anos, italiano de Roma, há apenas 9 meses em Curitiba, decidiu aceitar um desafio: assumir um casarão onde parece estar enterrada uma das maiores caveiras de burro da cidade e transformá-lo em novo endereço gastronômico. xxx Uma mansão de três andares, reminiscência da época em que o Batel era o mais sofisticado bairro residencial de Curitiba, tem sido, nestes últimos 5 anos, ocupada por empreendimentos que fracassam de forma clamorosa. Ali funcionou, no ano passado, por poucos meses, a "Borsalino", que não emplacou. xxx Agora, com muita pretensão, Fabrizio criou um ambiente diversificado - desde salas tranqüilas até uma barulhenta discothèque - para tentar fazer o ambiente funcionar. Os pratos de resistência serão massas com receitas especiais que trouxe, como segredo de família da Itália. A propósito: a casa tem o felliniano nome de "La Dolce Vita". xxx Já o "Tutto Massa" chega a um final melancólico, cerrando suas portas sem sequer uma festa de despedida. Ambiente democrático, onde conviviam gays elegantes e intelectualizados com casais que procuravam as boas massas ali servidas, o ambiente - apesar da pouca amabilidade do proprietário - tinha boa música de jazz (em fita), que o fez, inclusive, merecer visitas (e simpatia) do escritor Fernando Sabino, quando de suas passagens por Curitiba. xxx A cidade vai se transformando, perdendo velhos locais. Na Praça Osório, 147, o sobrado de três andares que por mais de 50 anos serviu ao Hotel São Luís, também está abandonado há meses, esperando a demolição para ali ser construído um novo prédio comercial. xxx Leo Robinson, 46 anos, um crioulo simpático de Arkansas, que após uma primeira temporada no "150", do Maksoud Plaza Hotel, tem voltado ao Brasil para apresentações em vários Estados, fez um animado show na última sexta-feira no Clube Curitibano. Prejudicado pela falta de melhor roteiro e, especialmente, pela mediocridade do quarteto de roqueiros que o acompanha (trajados, aliás, da forma mais desagradável possível), Robinson entusiasmou a platéia com sucessos standards dos últimos 4 anos, acabando, naturalmente, com "New York, New York". xxx Robinson está em negociações com Belchior, compositor e também dono de uma etiqueta fonográfica ("Paraíso"), para ter ao menos um dos cinco discos gravados nos EUA, editado entre nós. Por enquanto, Leo Robinson ainda só é popular nos espaços em que se apresenta ao vivo. Se melhorar o nível do grupo que o acompanha talvez até possa fazer mais sucesso! xxx Falando em shows de clubes, Elba Ramalho cobrará Cz$ 250 mil (mais despesas de produção) pelo show que fará no baile do dia 31, no mesmo Curitibano. xxx Miriam Paglia Costa, paranaense de Londrina, jornalista e poeta, ex-editora de arte de cultura na "Visão", hoje na "Veja", iniciando atividades como tradutora: o primeiro trabalho é "A vida sexual de Robinson Crusoé", do francês Michel Gall, a ser editada pela Brasiliense. xxx Desativada há 4 anos, volta a revista "Escrita", editada por Wladyr Nader. A revista, que começou a circular em 1975, chegou a ter uma tiragem de 15 mil exemplares mensais. Agora, as editoras Press Editorial e Vertente, que se uniram para promover o seu retorno, vão começar com uma tiragem de 10 mil exemplares, colocados em bancas de jornais e revistas neste mês. Assinaturas também poderam ser feitas diretamente com a editora - Largo do Arouche, 396, 4º, sala 44, São Paulo. Já nas bancas, há uma semana, o número zero de "O Nacional", editado pelo gaúcho Paulo de Tarso, um dos mais resistentes jornalistas da imprensa alternativa. Para fugir do estigma de "nanico", neste semanário - que promete se transformar em diário, em breve - adota o sistema standard, dois cadernos, e começa cuspindo fogo, com fortes reportagens-denúncia, não poupando nem o superempresário Mathias Machline (Sharp/SID), em relação ao acidente rodoviário com seu Mercedes que provocou a morte de uma humilde família.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
14/10/1986

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