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Aramis

Noite de jazz para a história

Há muito tempo não se ouvia/via nada igual. O concerto de Gerry Mulligan Quartet, segunda-feira, no auditório da Reitoria , fica entre os mais belos momentos da música instrumental que já aconteceram em Curitiba. A longa dieta de bons espetáculos jazzísticos imposta por Tio Sam, começa, afinal, aser interromida, com esse belíssimo presente, que foi incluir Curitiba como uma das duas únicas capitais brasileiras (a outra foi Porto Alegre, domingo) para ouvir o jazz cool e criativo que Gerry Mulligan sabe fazer há quase 40 anos. Um espetáculo suave, profundo, quase camerístico, na cometência de um saxofinista-compositor que se mantém fiel à linguagem mais agradável do jazz, sem necessidades de fusions metaleiras, piruetas eletrônicas ou bobagens convencionais que t6em feito naufragar tantas carreiras de jazzistas ilustres. Trabalhando com instrumentistas jovens mas plenamente identificados com sua escola, Mulligan trouxe um repertório novo, com sonoridade magnífica e possibilitando aos três companheiros mostrarem também toda a competência: o pianista Willian Allen Mays (L.A.Califórnia, 2/5/44), em emocionantes acordes, buscando, como um garimpeiro, extrair a máxima sonoridade das notas: o magnífico baixista Michael Formanek (San Francisco, 7/5/56), o único a acompanhar os temas com partitura, o que nos explicaria depois pelo fato de ainda não ter memorizado os novos temas de Mulligan, com quem começou a trabalhar em abril último (fez apenas 7 concertos até agora), extraindo do instrumento acústico toda a dimensão digna de um Charlie Mingus, na sua melhor forma; e o percussionista Richard Jerome Da Rosa (Huntington, N.I. 25/11/1959), suave no uso dos instrumentos, fazendo, muitas vezes, que banquetas soassem quase como um instrumento sinfônico. Independentemente dos méritos de Mulligan (N.I. 6/4/1927), o [concerto] já valeria pela presença desses três jovens instrumentistsa, estimulantes e criativos, sem se afastar da linha-padrão de Mulligan, que, ao saxofone a modulou os mais belos desenhos, especialmente em emocionate homenagem ao compositor e pianista Billy Strayhron (1915-1967), durante anos arranjador da grande orquestra de Duke Ellington (1891-1974), para quem compôs o tema-prefixo ("Take The a Traim"). Outra sentida homenagem prestou Mulligan ao "meu amigo Antonio Carlos Jobim", com um longo tema intercalado de citações de "Desafinado" e "Dindi" (antes, uma brasileira homenagem ao fazer algumas notas de "Aquarela do Brasil". Abrindo a noite, com "North Atlantic Run"e, em seguida, mostrando o tema em homenagem a Jobim, vieram, depois, "Walk on Water", "Lullaby", "Georgia"(o único do repertório que não é de sua autoria) e encerrando a primeira parte com "Maytag". Na segunda parte, uma nova homenagem, "A Gift From Dizzy", reverência carinhosa ao pistonista Gillespie, seguindo o profundo "Waltzing Mathilda" e a "Song For Straygorn". Com "Taurus Moon", alegre e divertido, encerrou o programa oficial, mas o público (lotando completamente o auditório da Reitoria) exigiu a volta, e, então, Mulligan fez uma concessão e reviveu um standard dos mais conhecidos. "Satin Doll". Aplausos delirantes, mas não o suficiente para exigir um segundo extra. Que já era previsto, mas não aconteceu: "Walking's Shoes". Uma noite musicalmente histórica. Possivelmente o mais belo concerto de jazz já apresentado em Curitiba.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
14/08/1985

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