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Aramis

Nosso cinema com o pente e os alemães

Na última sext-feira, mais de 200 pessoas participaram de uma das sequências de " A Guerra do Pente " , Documentário - ficção de Nivaldo Lopes - " Palito " se lança numa empreitada das mais interessantes : reconstituir a revolta popular ocorrida em Curitiba há 27 anos passados, e que, começando com uma briga entre um lilitar e um comerciante sírio, na Praça Rui Barbosa, tomou conta da cidade e só foi interrompida com a entrada de tropas do Exércitos. Enstrivistando pessoas que participaram daqueles fatos - até hoje nunca estudos em maior profundidade e reconstituindo-os com atores, dos quais apenas dois conhecidos, Emilio Pitta e João Mello, - Palito já rodou mais de uma hora de negativos, investindo mais Cr$ 15 milhões. Há uma promessa - e isso o estimlou a iniciar a produção de ajuda oficial, mas, como sempre, a liberação está sofrendo " misteriosas " dificuldades. Na semana passada, Palito e seu cinegrafista. Cido Bueno, reconstituiram uma sequência de multidão, utilizando cerca de 200 populares. O local esolhido foi a Rua Saldanha Marinho, com auxilio inclusive da Policia Militar, que tem se mostrado sensivel ao projeto, auxiliando seus realizadores de todas as manieras. Outro projeto cinematográfico que começa a ter andamento é o Frederico Fullgraff, atualmente radicado no Rio de Janeiro, mas curitibano de longa vivência, e que pretend reconstituir um aspecto importântissimo da memória regional : " Alemão Batata ...". Fullgraff, tendo consolidado sua competência em dois domentários, hoje em exibição no Exterior ( " Quarup - Sete Quedas ", 1982; e "Desapropriado", 1983 ), finaliza " DDA - Dose Diária Aceitável " ( ou "O Veneno Nosso de Cada Dia " ), sobre agrotóxico com a estréia prevista para maio próximo. Tendo realizado muitas horas de filmagem no Norte do Paraná, em Curitiba e até na Amozônia, Fullgraff conta com material de mais de duas horas, dos quais fará uma versão final com dois blocos de 30 minutos de cada um. A estréia nacional deverá acontecer em Curitiba; a seguir o filme irá a Porto Alegre. Depois, exibições em São Paulo, Rio, ( já que muitas sequências foram feitas no Interior do Pará ) e no Congresso Nacional, Internacional do Meio Ambiente, a 6 de junho. xxx O projeto " Alemão Batata..." carinhosamente desenvolvido há anos por Frederico e que a exemplo de suas outras realizações deverá ser uma co-produção com a participação de intituições da República Federal da alemanha ( pais em que residiu durante 17 anos), visa não apenas preencher um considerável lacuna deixada pela historiografia mas, a partir de uma postura irreverente diante do material fornecido pela história ("comome exige meu papel de artista",diz Fred ), contribuir para o exorcisamente de "Sindrome paranaense": de onde viemos, como sentimentos, que queremos, para onde vamos ? Justificando a realização deste filme de longa-metragem e que abrangerá, naturalmente, não apenas a colonização alemã no Paraná, mas também em Santa Catarina e Rio Grande do sul, Frederico lembra que o caráter pioneiro de " Alemão Batata..." reside, ironicamente, na necessidade de marrar a história do pioneiro alemão ao negar-se a reprodução do discurso apologético e suas vertentes chauvinistas, resgatando o polifacetismo e o policramatismo desta Saga, que produziu heróis e traidores, vencedores e vencidos. Este policromatismo não poderia limitar-se à captação e reprodução, pela imagem cinematográfica, do picotoricamente belo na paisagem do emigrante alemão no Sul do Brasil ". Desenvolvendo pesquisas profundas e amparado em importantes consultorias, como do antropólogo teuto-brasileiro Egon Schaden, o pré-roteiro que Frederico já aprontou, antecipa a profundidade e visão panorâmica que "Alemão Batata..." terá. Como diz o cineasta. " haverá polifatismo ou heterogeneidade maior, em comunidade emigrante, que contou entre seus pioneiros com lideres messiânicos ( Rio Grande do Sul ), anarquistas repúblicanos (Joinville), nazistas e integralistas ( Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná), durante os três principais estágios de sua evolução no corpo social e cultural da sociedade brasileira ". Procurando traduzir em imagens uma saga até hoje inacessivel à maioria dos brasileiros - justamente por haver sido redigida, em grande parte em lingua alemã - " Alemão Batata..." revelará inúmeros personagens dos mais interesantes - e sua integração no Sul. Especialmente em Curitiba, há inúmeros exemplos - como Friedrich Wilhein Virmond, o farmaceutico Augusto Stellfeld, o fundidor metalurgico Gottlieb Mueller que foram "Curitibanos pioneiros". Marcas industriais, praças, ruas, monumentos invocam seus nomes - e filme, Frederico vai ampliar a ótica sobre a contribuição de tantas familias alemãs a nossa formação social econômicas politica. Em suas pesquisas que tem sido intensas Frederico já encontrou valioso material iconográfico, com documentos e fotos inéditos. Por exemplo, um retrato de Ottokar Boerffel, fundador e pioneiro prefeito de Joinville - berço da colonização alemã no Paraná, pois de lá subiram os primeiros imigrantes até Rio Negro que depois vieram fixar-se em Curitiba. Um detalhe observado por Frederico : Ottokar Boerffel, antes de chegar ao Brasil, foi prefeito na cidade de Glauchau na Saxônia, no ano ( 1848 ) da revolução que foi esmagada pelas espadas prusianas. Teve de enfrentar tribunais militares, acusado que foi de " tolerar levantes e motins anarquias ".Chegou a Joinville em 1851, acompanhado, entre outros, de um grupo de anrquistas que lá editou o jornal " Der Volkstaat " ( "O Estado Popular " ), Uma explicação para o titulo- aparentemente pejorativo. - " Justamente porque ainda " Alemão Batata, come queijo com barata ! "reverbera na minha memória dos anos de infância vividos em Curitiba, anos doces e amargos, pois já estigmatizavam a ambiguidade de que fui objeto: temido, admirado e ao mesmo tempo execrado por ser " alemão batata...".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
16/04/1985

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