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Aramis

O brasileiro jogo da vida

O produtor José Zimmerman, 34 anos, ex-administrador do Oficial, jornalista free-lancer, comentava, após a exibição de "O Jogo da Vida" (pré-estréia, meia noite de sábado, cine Astor) que a realização do filme foi toda em locações, sem uma única cena em estúdios. E as longas seqüências passadas em bilhares, foram rodadas nos próprios centros de sinuca, na zona mais pesada de São Paulo, alugados pelos total das mesas, conforme a tabela-hora, normalmente cobrada. "Só isto já consumiu uma soma elevada", diz Zimmerman, confidenciado que a produção total ficou, quase na casa dos Cr$ 2,5 milhões. *** Primeiro filme brasileiro a mergulhar, com profundidade, no universo dos jogadores de sinuca, numa visão sociológica e humana da marginália paulista. "O Jogo da Vida" é um grande momento do cinema nacional, trabalho adulto e seguro de Maurício Capovilla, ex-crítico de cinema, aqui liberto do hermetismo que prejudicou seus primeiros longas metragens ("Bebel, Garota Propaganda" e "O Profeta da Fome"). Partindo do mais famoso conto de João Antônio, "Malagueta, Perus e Bacanaço", Capovilla e Gianfrancesco Guarnieri, construiram um roteiro marcante, que deixando ao trio central de interpretes - Maurício do Valle, Lima Duarte e Guarnieru, ampla liberdade para improvisação dos diálogos, consegue transmitir todo o universo de seres marginalizados, ao longo de uma noite solitária, vazia. O clima da grande cidade asfixiante, de contradições sociais, retratado em "O Jogo da Vida" lembra, de certa forma, o argumento de um dos melhores "casos especiais "casos especiais" criados por Guarnieri para a TV-Globo ("Turma, Doce Turma"): uma caminhada sem sentido, ou com o sentido, único de busca do dinheiro. Mas por Trás destas imagens, em flash-backs integrados a narrativa, fragmentos informativos sobre as origens de cada um: Perus, ex-operário de uma fábrica de cimento, buscando algo melhor no fim da linha: Malagueta, Favelado, e Bacanaço, marginal e rufião. Cada um profundamente humano, colocado numa dimensão social como raras vezes o cinema nacional apresentou. Se o tema jogo de bilhar já conta com um clássico americano ("Desafio à Corrupção/"The Hustler, 1961, de Roberto Rossen (1908-1966), "O Jogo da Vida", se coloca, com uma linguagem brasileira, social, como um momento marcante. Um filme que em sua beleza estética - a fotografia de Díb Lufti é primorosa, a trilha sonora de João Bosco-Aldir Blanc (ambos grandes jogadores de sinuca) não poderia ser melhor - não esquece o social, a densidade humana, o universo retratado. Cada um dos personagens-intérpretes criou um trabalho de muita personalidade, improvisando diálogos, dando o humor ou o trágico a cada seqüência: Maurício do Valle, grandalhão, com uma brutalidade lírica, liberta-se afinal da imagem do "Antônio das Mortes" que marcava - e prejudicava - sua carreira. Lima Duarte, um dos mais paulistas atores brasileiros, duelo com Miriam Muniz (merecidamente premiada com o Kikito, de melhor atriz coadjuvante, no Festival de Gramado-78) em cenas antológicas, ambientadas na favela - com um humor cruel, que mais faz sofrer do que sorrir. E Guarnieri, que ao lado de um dos mais importantes dramaturgos brasileiros é um ator excelente, cria o mais difícil dos personagens - sem o humor de Malagueta, ou a visão bruta de Bacanaço: como Perús, o ex-operário, é o equilíbrio na longa noite de procura que marca a caminhada destes deserdados da fortuna, pelas ruas e bilhares de São Paulo, feito com o máximo de autenticidade, incluindo,, inclusive, em duas seqüências, a participação dos "mestres do desacato e da picardia", os mais famosos profissionais do taco brasileiro: Carne Frita, Joaquinzinho e João Gaúcho. *** Ö Jogo da Vida", com lançamento comercial previsto para abril próximo, é um dos grandes momentos do cinema nacional para este ano. Um trabalho maior, brasileiro e, principalmente como linguagem e o sentimento do povo, em sua camadas mais humildes. João Antônio, que apesar de ter recebido Cr$ 80 mil pela venda dos direitos autorais de seu conto reclamando, não tem razão para protestar: seu belo texto não poderia ter resultado num filme mais belo, honesto e, principalmente, com o sentimento brasileiro do que este.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
07/03/1978
Eu Rajas Soares ator e diretor teatral , escritor , poeta . Gostaria de saber com fazer para adquirir a cópia do filme '' O Jogo da Vida '' com Gianfrancesco Guarnieri , João do Vale , entre outros ....Agredeço antecipadamente e que estou a disposição do canal Brasil , com muito orgulho .

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