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Aramis

O canto das mulheres para ajudar a muitos

Mulher, seu nome é canção. A idéia é ampla e antiga: afinal, as musas sempre estiveram presentes em nosso cancioneiro. No nosso e em todos os países nos quais a música reflete o romantismo, os sonhos, o imaginário. Mas os bons temas são eternos e uma nova prova disto é feita com nobres finalidades: o Banco do Brasil bancou a prensagem de 300 mil cópias de um belíssimo álbum duplo - "Há Sempre Um Nome de Mulher" - que está sendo vendido em todas suas agências. A renda será em favor da Legião Brasileira de Assistência, no sentido de se montar um banco de coleta de leite materno para distribuição entre crianças carentes, "privadas do mais fundamental dos alimentos, logo no início de suas vidas" - como diz Camilo Calazans de Magalhães, no texto de contracapa do álbum, acrescentando: - Sabe-se, hoje, que 60% dos casos de mortalidade infantil nos primeiros doze meses de vida podem ser evitados com a provisão adequada de leite materno. O Banco do Brasil deseja, portanto, sensibilizar a opinião pública para essa campanha. E o faz com alegria, vendendo a alegria do que há de mais belo em nosso cancioneiro popular. Só por esta nobre iniciativa, o registro de um álbum como "Há Sempre Um Nome de Mulher" ultrapassaria a página da coluna especializada em música para ganhar destaque maior. Afinal, não se trata de um lançamento comercial ou de um disco brinde, de circulação restrita: é um produto cultural, vendido a Cz$ 600,00 a unidade - e em todas as partes do País, haja visto a extensão da rede do Banco do Brasil, para fazer fundos a uma campanha sobre cuja importância nem se precisa gastar espaço. xxx Mas tem mais! Trata-se de um dos melhores álbuns produzidos no Brasil nos últimos anos. São dois discos com canções que falam de quase cinqüenta mulheres-musas. Para desenvolver este projeto, a ArtPlan Publicidade soube buscar um profissional competente: Ricardo Cravo Albim. Baiano que se tornou carioca ainda garoto, Ricardo Cravo Albim, 49 anos, formou-se em Direito mas ao longo de sua vida tem sido um constante animador cultural. Seu interesse vai do cinema às artes plásticas e por isto na metade dos anos 60 foi um dos fundadores do Clube do Jazz & Bossa, que revelou talentos como Victor Assis Brasil em suas reuniões dominicais. Depois foi o segundo diretor do Museu da Imagem e do Som - idealizado e fundado por Maurício Quadrio - no qual introduziu os Conselhos de Música, Cinema e Teatro, iniciando ciclos de gravações de depoimentos dos quais participa até hoje. Foi também diretor do hoje extinto Instituto Nacional de Cinema e esteve ligado a várias outras atividades. Produziu e dirigiu shows, coordenou cursos de música popular (por três vezes em Curitiba) e, direta ou indiretamente, esteve ligado a inúmeras produções fonográficas. Simpático, bem relacionado, Ricardo Cravo Albin se empenhou a fundo para fazer de "Há Sempre Um Nome de Mulher" um grande projeto musical. A idéia de reunir blocos temáticos ligados a mulheres já havia sido tentada, há mais de dez anos, por Aluizio Falcão, quando diretor artístico dos Discos Marcos Pereira, numa série de compactos duplos - mas que, como tantas outras realizações bem intencionadas, não teve maior repercussão. Ricardo convocou ótimos intérpretes, bons instrumentistas, e com a ajuda de Maurício Tapajós, um profissional dos mais competentes e os arranjos e regências do maestro Orlando Silveira, pode desenvolver as gravações entre 10 de junho a 14 de agosto de 1987, com um elenco milionário - mas que praticamente nada custou devido ao sentido filantrópico da produção. Com notável equilíbrio, Ricardo e Maurício souberam selecionar tanto nomes maiores, conhecidos do público mais jovem, como fazer justiça a grandes intérpretes que estavam esquecidos. Assim se temos Paulinho da Viola em "Clementina Cadê Você" (Elton Medeiros) e Tom Jobim em "Luiza", há o destaque para Pery Ribeiro numa nova interpretação de "Luciana", a belíssima cantiga de Paulinho Tapajós/Edmundo Rosa Souto, composta em homenagem a então recém nascida filha da cantora Vania Carvalho (irmã de Beth Carvalho) - e um dos muitos grandes talentos que tem sido esquecida nos últimos anos. Cantores magníficos como Marisa Gata Mansa (Vertulo Brandão, Rio de Janeiro, 49 anos) - que esteve gravemente doente há algumas semanas - foram lembradas, gravando "Juliana" (Antônio Adolfo/Tibério Gaspar). Sônia Santos, que entusiasmou a Liza Minelli quando a ouviu no Hotel Nacional, mas que também não tem sido valorizada como mereceria, gravou a única canção inédita do álbum, uma homenagem a Elis Regina e Dalva de Oliveira, composição de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro. Tito Maldi, que só este ano voltou a gravar um belo disco na 3M, também está presente, com sua voz romântica, interpretando "Maria Helena" (Lorenzo Barcelata) na versão de Haroldo Barbosa. Tom - que formava dupla com Tito, baiano, violonista, compositor, ressurge com "Rosinha" (Guio de Morais/Própria/Luiz Gonzaga), enquanto o grupo Premeditando o Breque, com sua irreverência, valoriza "Ana Maria" (Biquíni de Bolinha Amarelinha Tão Pequenininho), um rock que na versão de Hervé Cordovil fez sucesso há 20 anos e voltou recentemente a ser bastante ouvido. Mas o grande ponto de marketing desta produção - destacado pela imprensa nacional - foi a diplomática reunião que Ricardo Albim promoveu entre Emilinha Borba e Marlene - as mais famosas rivais dos tempos áureos da Rádio Nacional que, muita mais em termos promocionais do que pessoais, sempre tiveram uma competição alimentada pelos fãs clubes (que existem até hoje). Juntas, dividiram três "mulheres dos carnavais" - sucessos eternos a cada Fevereiro: "Eva", "Maria Escandalosa" e "Maria Candelária". No extenso potpourri das musas carnavalescas, Albim também provocou registros de grandes intérpretes que estavam injustamente esquecidos - como Gilberto Milfont ("Florisbela" e "Odete"), a simpática Violeta Cavalcante ("Aurora" e "Dolores"), Roberto Silva ("Rosa Maria", "Helena, Helena"), além de Braguinha com seu "Anda Luzia" - enquanto Elba Ramalho reaquece "Madalena" e "Izaura". LEGENDA FOTO 1: Paulinho da Viola LEGENDA FOTO 2: Tom Jobim LEGENDA FOTO 3: Nelson Gonçalves LEGENDA FOTO 4: Marlene LEGENDA FOTO 5: Beth Cravalho LEGENDA FOTO 6: Ricardo Cravo LEGENDA FOTO 7: Lucio Alves LEGENDA FOTO 8: Cauby Peixoto LEGENDA FOTO 9: Elizeth Cardoso LEGENDA FOTO 10: Tito Madi
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
22/12/1987

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